A indústria brasileira de cimento registrou vendas de 15,6 milhões de toneladas no primeiro trimestre de 2025, o que representa um aumento de 5,9% em comparação ao mesmo período do ano passado, de acordo com o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC). Em março, a alta foi de 5,2% frente ao mesmo mês de 2024, com 5,3 milhões de toneladas comercializadas do produto.
Na comparação por dia útil as vendas do produto registraram em março 244,9 mil toneladas, um crescimento de 5,6% em comparação a fevereiro e de 10,1% em relação a igual período de 2024. Assim, o resultado trimestral apresentou uma alta de 6,0% ante os três primeiros meses do ano passado.
O aumento nas vendas de cimento é atribuído ao contínuo aquecimento do mercado de trabalho e renda da população, com recorde da série histórica da massa salarial e carteiras assinadas em fevereiro de 2025, além da taxa de desemprego, que foi a menor para um trimestre desde 2014, quando marcou 6,8%.
O mercado imobiliário também registrou expansão nos lançamentos puxado pelo programa Minha Casa Minha Vida, que já representa 50% do volume de imóveis. Os segmentos de médio e alto padrão também apresentaram evolução, com resultados positivos no quarto trimestre divulgado por grande parte das incorporadoras. As vendas de materiais de construção seguiram em expansão em fevereiro, com projeção de 2,8% de crescimento neste ano.
Confiança do setor da construção cresce, mas há poréns
O cenário positivo refletiu na confiança da construção, que após dois meses de queda voltou a subir em fevereiro. Entretanto, esse movimento não foi disseminado em todos os segmentos de maneira equilibrada (Infraestrutura, Edificações e Serviços Especializados) e não recuperou a queda dos dois primeiros meses do ano. Esse pessimismo do primeiro trimestre reflete a escassez de mão de obra especificamente na construção civil e um crédito imobiliário mais caro.
A alta da taxa de juros continua a impactar crescentemente os financiamentos. No acumulado até fevereiro de 2025, o número de unidades financiadas para construção caiu 49,3%, comparado com o mesmo período do ano passado. Além disso, a redução da disponibilidade de crédito via SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo) e do FGTS levantam preocupações sobre o funding imobiliário a longo prazo.
A confiança do consumidor, apesar de ter registrado a primeira alta do ano, ainda permanece na região pessimista, em função dos patamares elevados da inflação e dos juros, que impactam o orçamento das famílias. Nos últimos anos, os gastos destinados à reforma e construção foram substituídos por despesas com internet, eletrodomésticos, TV a cabo e, mais recentemente, apostas, o que reflete negativamente no setor.
Adicionalmente, o endividamento da população segue bastante elevado, 48,3%, próximo do recorde histórico de 49,9% em julho de 2022 e a inadimplência já atinge mais de 75 milhões de brasileiros, comprometendo a atividade da construção.
Perspectivas para as vendas de cimento no ano
Apesar de um início do ano fortemente positivo, a projeção para 2025 é de um crescimento mais modesto, entre 1% e 1,5%. O desempenho dependerá da evolução da economia, da política monetária e dos investimentos em infraestrutura e habitação.
A expectativa é que o uso maior do pavimento de concreto em rodovias aumente o fôlego do setor. A revitalização das vias em concreto proporciona uma pavimentação mais duradoura e que suporta melhor o tráfego pesado, em especial nos locais de forte produção agrícola e industrial.
A indústria avança em outro importante vetor de infraestrutura em ruas, avenidas e estradas municipais, com a implementação do Pavimento Urbano de Concreto (PUC) em mais de 170 cidades, com destaque para obras em Brasilia (DF), Piracicaba (SP), Jequié (BA) e Cachoeiro do Itapemirim (ES).
Na agenda da habitação, o MCMV deve manter o bom desempenho, impulsionado pelo anúncio da ampliação do programa por parte do governo para famílias com renda até R$ 12 mil (faixa 4), com prazo de implementação de 45 a 90 dias.