Viavi agrega inteligência aos equipamentos de teste de campo

Por Nelson Valêncio – 25.10.2017 –

O volume imenso de dados também chegou ao universo de teste de campo em telecomunicações. Sozinhos e sem uma inteligência que gere informação relevante, os dados coletados por meio de OTDRs, TDRs e outros dispositivos são mais um problema do que a solução das operadoras. De olho no tratamento e na apresentação gráfica – e em tempo real – da informação, a Viavi criou a plataforma StrataSync em 2015, já habilitada para funcionar na nuvem. Hoje, o recurso começa a ser testado por empresas com infraestrutura de rede no Brasil, com destaque para o módulo de instrumentos de teste, sendo uma das apostas da empresa para ir além do fornecimento de equipamentos. Nessa entrevista, Ricardo Raineri, especialista da empresa, fala do funcionamento da tecnologia e dos recursos que ela gera.

InfraROI – A solução é exatamente o que?

Ricardo Raineri – O objetivo da plataforma é trazer mais inteligência para o processo de operação e manutenção de redes de telecomunicações. É uma solução agnóstica, mas que exige que o equipamento tenha a capacidade de ser “lido” pelos nossos sistemas. Ela é mais agnóstica no sentido de que pode ser usada em redes de fibra, numa infraestrutura com cabo coaxial e também na rede metálica. A ideia da plataforma é permitir a integração entre os instrumentos de teste, em campo, e a gerência de redes, na operadora. Hoje, muitas operadoras acabam demorando muito para receber as informações de campo porque o relatório é entregue via pen-drive, manual, por foto de equipamento, e não tem uma padronização. E também é uma entrega que demora.

InfraROI – E ela automatiza o processo?

Raineri – Sim. O sistema automatiza a gestão dos relatórios e agrega inteligência no projeto. Isso ajuda porque há uma percepção de que as operadoras, em geral, trabalham muito nos sintomas e não na causa ou raiz dos problemas. Por exemplo, ao utilizar o equipamento centralizado em um armário (DG), fazendo testes proativos nos pares vagos, terá um grupo de pares pré-qualificados. Ao fazer isso, sabe-se qual a condição, distância e o tipo de serviço que vai poder trafegar nele. Se houver um defeito, o técnico poderá trabalhar diretamente com o DG e localizar a causa que está prejudicando a experiência do cliente: se é um problema na rede primária, na secundária, na derivação ou na própria localização do cliente (o que é muito comum). Colocando esse processo junto com o equipamento de teste, pode-se trabalhar de forma mais inteligente e a operadora passa a ter uma visão do tempo real dos testes porque a plataforma está na nuvem.

InfraROI – A plataforma nasceu para integrar os dados colhidos em campo?

Raineri – Sim, esse foi o principal driver inicialmente. Um dos focos é a gestão dos instrumentos em si pela operadora. Um problema muito comum são os instrumentos de testes desatualizados e a plataforma permite a atualização automática dos softwares de operação, desde que o técnico sincronize o equipamento na plataforma. A operadora também passa a ter um módulo de gestão de ativos que permite não só a catalogação dos serial numbers, dos opcionais instalados no sistema, assim como também a gestão dos firmwares para garantir que estejam atualizados.

InfraROI – E como funciona a segurança da informação compartilhada?

Raineri – A plataforma tem uma hierarquização, na qual criam-se pastas de acesso hierarquizadas e o administrador designa quem pode acessar o quê. A operadora pode um acesso irrestrito a todos os dados das suas contratadas de campo. E as contratadas podem ter um acesso restrito aos seus dados. A inteligência agregada ajuda a operadora a ter uma visão geral, comparando o desempenho das contratadas em tempo real e também segmentar por contratada.

InfraROI – Como funciona a transmissão desses dados para operadora?

Raineri – Os instrumentos têm conectividade Wi-Fi e alguns até conexão direta, comcelular por meio do 3G. Todo técnico tem que ter um smartphone hoje em dia, é um pré-requisito de trabalho, tanto pelas contratadas quanto pelas operadoras. Dessa forma, pode-se parear o instrumento com o celular atuando como hotspot e criar uma conexão 3G. Os nossos OTDRs para rede óptica, por exemplo, suportam a conexão hotspot direta do celular via cabo no OTDR. Plugou o USB no OTDR ele já reconhece como 3G.

InfraROI – Como funciona o teste na rede metálica, ou seja, as redes tradicionais de cobre que suportam serviços de banda larga, entre outros?

Raineri – Testar a rede metálica é mais difícil porque ela tem uma infinidade de possibilidades de teste a mais que a rede óptica. Por isso continuamos a desenvolver equipamentos para rede metálica, inclusive para suportar tecnologias novas, como o G.Fast (tecnologia que permite chegar até 500 Megabit/s em uma rede metálica) e que precisa ter uma rede de cobre perfeita para que isso seja possível. Também existe um equipamento chamado TDR Automático, que é muito parecido um OTDR óptico, porém específico para rede metálica, identificando os problemas no cabo.

InfraROI – Já temos alguma operadora utilizando o StrataSync?

Raineri – Sim. Há casos de utilização que acontece há mais ou menos um ano. Alguns clientes possuem um tipo de StrataSync próprio que se comunica com nossos equipamentos e faz a mesma coisa. Eles têm um sistema de gestão interno que precisa recolher informação de teste para colocar nas ordens de serviço. É o mesmo conceito de plataforma só que eles têm o desenvolvimento interno e conseguem fazer a comunicação com os nossos equipamentos e coletar as informações de medição e jogar no sistema.

InfraROI – E como funciona a StrataSync?

Raineri – Os módulos básicos são gratuitos e têm uma limitação de 35 dias para resultados de testes e acima de 35 dias existe um custo de armazenamento (nuvem). A plataforma permite gerenciar produtividade em campo, incluindo dados de qual a porcentagem de técnicos que estão utilizando o equipamento ou não, o percentual de testes que falham e a verificação das regiões que estão tendo problemas. Ela também analisa quantos instrumentos estão habilitados, abrindo uma série de dashboards que são gerados automaticamente. Para alguns equipamentos, nós desenvolvemos equipamentos com opção antifurto: baseado no StrataSync, o instrumento fica obrigado a sincronizar em uma determinada quantidade de tempo. Se isso não acontece, o dispositivo para e só é possível desbloqueá-lo na fábrica.

InfraROI – Vocês lançaram recentemente o One Expert. O eu é esse dispositivo?

Raineri – É o nosso produto mais novo para testar redes xDSL (redes de cobre tradicional para transmissão de banda larga). Além de ser uma plataforma que suporta as novas tecnologias –  VDSL2 V35 e o G.Fast, que algumas operadoras estão estudando por meio de pilotos – a plataforma tem testes automáticos da planta física. São mais de 11 deles em um minuto,  o que permite a qualificação das linhas para a oferta de serviços como de ADSL, VDSL e VDSL2. Também há o teste do TDR Automático, que produz gráficos e já os interpreta. Ele mostra ao técnico o tipo de falha na rede e qual é a distância da origem do problema.

InfraROI – Os técnicos hoje não estão tão bem treinados ou não possuem o mesmo skill que antigamente?

Raineri – Os clientes têm tido muito interesse nas tecnologias como a nossa porque há falta de capacidade de treinamento técnico, recursos limitados para fazer a gestão da operação e, principalmente, confiabilidade de que a sua base de facilidades e cadastro está coerente com o que tem na rua. Em uma rede metálica de cobre, por exemplo, a plataforma permite que se possa verificar melhor a camada física. O resultado é que o cliente passa a ter uma experiência melhor. A StrataSync dá uma visibilidade melhor. Infelizmente, a camada física foi muito esquecida por um certo tempo e hoje, com advento das novas tecnologias, se ela não for acompanhada, não tem como ir muito longe na oferta de serviços. Se não se pode migrar todos os assinantes para a fibra óptica de uma vez, é necessário manter a rede metálica nas melhores condições possíveis e, aos poucos, ir fazendo a migração para a infraestrutura óptica.