Operadoras vão enfrentar transição complexa em sua infraestrutura nos próximos 20 anos

Da redação – 11.07.2016 –

Os conceitos de redes definidas por software (SDN) e virtualização de funções de rede (NFV) estão na ordem do dia nas operadoras. A pergunta que fica no ar é: como a adoção da SDN e da NFV vem ocorrendo e como as operadoras fazem a transição de um cenário tradicional para o que se avizinha no futuro. Para responder parte dessas questões, entrevistamos o chefe de Marketing de OSS da Amdocs, Justin Paul.

Justin-Paul (800x588)

InfraROI: Qual o status atual da adoção da NFV nas operadoras em nível mundial?

Justin Paul: A Adoção da NFV/SDN está se acelerando rapidamente. Em 2014, as pessoas estavam discutindo o NFV com uma abordagem teórica. Em 2015, nós vimos uma série de provas de conceito (PoC). Já em 2016, estamos assistindo serviços complexos com base em NFV, tanto como prova de conceito como primeiros serviços de aplicação comercial de NFV em operadoras como a BT, a Orange France, etc. Os early adopters, particularmente as super operadoras e grupos de operadoras grandes com múltiplas atuações, estão liderando o desafio assim como elas também tem muito a ganhar com a adoção dessa nova tecnologia, muitas dessas companhias estão investindo pesadamente e definindo padrões e estruturas para o NFV. Nem todas as operadoras estão na mesma posição, a adoção é mais devagar no Caribe, América Latina, Oriente Médio, África e em partes da Ásia. Algumas operadoras menores estão observando os experimentos de NFV e aguardando um grau de implantação de padronização maior dentro da indústria. No entanto, cada empresa tem um interesse bastante preciso sobre as tecnologias e o que deve ser feito.InfraROI: Em apresentação neste ano, durante o Amdocs American Summit, em Orlando, um dos palestrantes mencionou a transição, até 2016, das redes tradicionais para redes híbridas (com SDN e NFV) e a predominância de NFV a partir de 2036. Como é essa transição está acontecendo?

JP: O que nós estamos vendo na indústria é que as implantações em tempo real, com algumas exceções, precisam atender às necessidades para combinar as redes físicas e as redes virtuais. Enquanto algumas operadoras têm feito avaliações agressivas a respeito de quão rápido devem virtualizar as suas redes, a realidade é que elas terão que manter essa rede hibrida pelos próximos dez anos, combinando o cenário atual com SDN e NFV. Parte da rede, isso é, a infraestrutura metálica, de fibra ótica, as tecnologias de última milha, etc, vão ainda ser físicas. Todas as redes virtuais finalmente serão operadas com hardwares físicos (servidores). Por volta de 2036, a maior parte das redes deverá ser virtualizada e o que conhecemos hoje como rede será relegada a algumas áreas de nicho.

InfraROI: Qual o principal desafio para as operadoras considerando a necessidade de fazer essa transição?

JP: Surpreendentemente, o grande desafio não é fazer os testes e a implantação de tecnologias novas e inovadoras. O maior desafio é compreender que, sem formas de NFV, parte da transformação de negócios não vai entregar os benefícios esperados. A NFV é disruptiva e ela oferece às operadoras a oportunidade de reestruturar sua organização para que se torne mais eficiente e automatizada. As companhias líderes reconhecem que o treinamento é um grande desafio. Outro grande desafio é responder à questão de ‘como eu vou manter as luzes ligadas?’. As operadoras precisam fazer essa transição enquanto gerenciam seus serviços atuais, suas redes existentes e os seus clientes. E fazer isso entregando o melhor serviço.

InfraROI: Para aplicar os conceitos de NFV e de SDN como as operadoras devem mexer nas suas redes físicas? Quais são os passos prioritários?

JP: As duas são tecnologias complementares. NFV e SDN vão coexistir ao longo de todas as redes físicas. A consideração chave deve endereçar as questões operacionais de uma rede híbrida. Na primeira fase, a Amdocs vê a necessidade de dois a três sistemas operacionais para atender as necessidades de uma suíte de serviços NFV comercial. Nesse caso, teríamos que ter um orquestrador de NFV, importante para cumprir o atendimento de serviço de NFV/SDN em nuvem. Ele deve ser capaz de manter uma não manter apenas a orquestração de uma rede NFV. Tem que ter habilidade para orquestrar serviços híbridos.

Um segundo sistema envolveria o gerenciamento em árvore de serviços e inventário em tempo real, habilidade para gerenciar os aspectos dinâmicos de serviços de NFV/SDN. Ele é vital para compreender como o fluxo de serviços atua, como as redes são configuradas e como a capacidade e a utilização é gerenciada em tempo real. Isso é muito importante para garantir os serviços automatizados.

O terceiro incluiria projetos dos serviços off-line, ou seja, a habilidade de rapidamente construir, testar, implantar e corrigir os serviços híbridos e de nuvem de uma rede NFV/SDN. Isso é muito importante para endereçar as expectativas de agilidade de serviços. Finalmente, para tornar o NFV/SDN um novo fluxo de faturamento, é importante deter a habilidade de monetizar essas plataformas, integrá-las ao sistema de faturamento existente e também ao sistema de CRM.

Infraroi: A rede física em si tem sido considerada um importante ativo para as operadoras. Vocês veem a possibilidade de que esses ativos sejam direcionados para uma companhia específica, como fez a Telefônica recentemente, ou até mesmo para uma terceira companhia?

JP: A rede física é um ativo muito importante para as provedoras de serviço e, tipicamente, representa bilhões de investimento. Nós enxergamos novos e inovadores modelos aparecendo, incluindo o compartilhamento de rede, terceirização de rede e, potencialmente, a criação de uma MVNO para isso. Algumas operadoras podem dividir o seu negócio separando as operações de rede física dos seus negócios de serviços comerciais, mas a rede física vai permanecer por um bom tempo.

Infraroi: Você pode citar exemplos de operadoras que estão fazendo bem essa transição e como a Amdocs tem ajudado no processo?

JP: Por causa da natureza estratégica de muitas redes NFV/SDN, os nossos clientes escolhem focar em áreas mais avançadas, o que significa que estamos limitados no que podemos falar a respeito. Nós entregamos, nos últimos anos, cerca de quinze a vinte provas de conceito de orquestração em NFV. Estamos envolvidos em várias implementações comerciais de NFV e alguns anúncios serão feitos futuramente. Em termos de operadoras, nós entendemos que essa transição da indústria está sob observação e não podemos fazer nenhum comentário a respeito de clientes da Amdocs.  Mas há operadoras como BT e Orange France falando abertamente sobre suas experiências.