Menos competitiva, siderurgia brasileira precisa gerir melhor seus ativos

Da Redação – 3 de outubro de 2014   Há uma capacidade nominal excedente de 524 milhões de toneladas de aço no mercado mundial anualmente. Considerando os 779 milhões t/a produzidos pela China e o crescimento da produção na Índia e em outros países asiáticos e africanos, é possível presumir que o cenário é pouco […]

Por Redação

em 3 de Outubro de 2014

Da Redação – 3 de outubro de 2014

 

usiminasHá uma capacidade nominal excedente de 524 milhões de toneladas de aço no mercado mundial anualmente. Considerando os 779 milhões t/a produzidos pela China e o crescimento da produção na Índia e em outros países asiáticos e africanos, é possível presumir que o cenário é pouco favorável para a siderurgia brasileira. O país é o segundo maior produtor de minério de ferro, mas em termos de siderurgia, forneceu apenas 34 milhões de toneladas de aço no ano passado (menos de um vigésimo do volume da China).

Esse é o universo mapeado pela Usiminas, responsável por 7,1 milhões de toneladas do aço produzidas no Brasil em 2013 (um quinto do total). A visão é compartilhada por Fernando Gabriel, professor da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e pesquisador do Departamento de Pesquisa e Educação Continuada da Fundação Georceix, ligada à Ufop. Para ele, o Brasil pode deixar de ser competitivo se não fizer mudanças rápidas e positivas na gestão de ativos e de pessoal na mineração e siderurgia.

As informações surgiram durante a 29ª edição da Expoman – Exposição de Produtos, Serviços e Equipamentos para Manutenção e Gestão de Ativos, organizado pela Associação Brasileira da Manutenção e Gestão de Ativos (Abramam) –, onde Théo Bento Horsth, gerente geral de manutenção da Usiminas, apresentou um programa de capacitação pessoal para aumentar a efetividade de manutenção nos equipamentos da empresa, buscando maior nível de produtividade e, consequentemente, tornando o produto da Usiminas mais competitivo no mercado mundial. “O mote do programa foi treinar equipes multifuncionais, tornando a manutenção e a metalurgia mais eficientes”, resume.

O primeiro passo foi integrar os sistemas das duas usinas da empresa, localizadas em Ipatinga (MG) e Cubatão (SP). “As operações passaram a ter uma única diretoria de manutenção e energia, com executivo posicionado no mesmo nível das demais diretorias da empresa”, explica Théo.

O passo seguinte foi diversificar os fornecedores de manutenção e reparo, tornando-se menos dependente e, naturalmente, menos susceptível a falhas. Com o objetivo final de aumentar a produtividade da metalurgia, toda a equipe interna de manutenção (mais de 4 mil pessoas) foi avaliada e o resultado pautou as decisões futuras.

Mais de 64% dos profissionais, na ocasião, eram pouco experientes. Dos mais experientes da equipe (2%), a grande maioria se aposentaria nos próximos 6 anos. “Isso nos mostrou que estávamos com equipe inadequada e que teríamos pouco tempo para os mais experientes treinarem os novatos”, diz.

A estratégia foi submeter todos a avaliações práticas e teóricas, definindo níveis de qualidade para aplicar treinamentos ou, em casos extremos, para remanejar o profissional para outra área. Em média, cada funcionário recebe mil horas de treinamento e todos são enquadrados em três cargos básicos, acumulando funções e especialidades. “Antes, eram mais de dez cargos ocupados por profissionais nem sempre adequados”, diz Théo.

O programa começou em 2012 e o impacto na produção está sendo medido. Théo adianta, porém, que é visível o aumento de qualidade nos processos de manutenção, resultando em menos máquinas paradas na metalurgia e, consequentemente, em maior produtividade para a Usiminas. “Outra vantagem do programa foi a redução do efetivo de manutenção em 26%. Ou seja, hoje se faz mais com menos gente e a Usiminas trabalha na imputação de valor no aço que produz, oferecendo um diferencial competitivo ao mercado”, completa.

Gestão de Ativos

O caso da Usiminas ilustra a importância que a gestão de ativos ganhou nas indústrias brasileiras nos últimos anos. Justamente por isso, há algum tempo os profissionais engajados com o setor buscam a aprovação de uma normalização, algo que foi efetivado no final de setembro pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e pela Associação Brasileira de Manutenção e Gestão de Ativos (Abraman). “As ISO 55000, 55001, 55002 fornecem princípios, requisitos e orientações para um sistema de gestão de ativos, abordando a implantação dos princípios desse sistema, documentação de quais ativos fazem parte dele e o seu escopo”, informa João Ricardo Lafraia, Presidente da Abramam.

A norma recém-publicada nasceu aos poucos e teve como base um documento (PAS 55) com 28 pontos-chave para a gestão de ativos. Isso começou em 2004, quando o Instituto de Gestão de Ativos do Reino Unido e a Instituição Britânica de Padrões de Especificação (BSI) lançaram um documento de sugestão para a gestão de ativos fixos nas indústrias. A ideia era determinar pontos-chave para o correto acompanhamento de ativos, a fim de que o plano estratégico de produção, os cuidados operacionais, as manutenções corretiva, preventiva e preditiva, etc. caminhassem de encontro a um só objetivo: confiabilidade. Sim, o documento previa o óbvio, apesar das entrelinhas: quanto mais confiável for o equipamento, mais a empresa poderá contar com ele para ampliar a produção.

Ocorre que em 2008 esse documento foi revisto, desta vez com 50 outras instituições, presentes em 10 países do mundo, entre eles o Brasil, que incrementaram as dicas. A partir daí, os direcionamentos do PAS 55 ganharam força nos processos de gestão de ativos – bem mais ampla que a simples gestão de equipamentos, ou da manutenção – até que, em 2011, o seu texto foi aceito como base pela Organização Internacional de Normalização (ISO) para iniciar a formatação da ISO 55000.