Da Redação – 21.12.2016 –
Práticas de manutenção, assim como a aplicação de solda sobre solda na recuperação dos componentes, ampliam a durabilidade das esteiras de grandes equipamentos.
Há alguns anos, a recuperação de material rodante caminhava para uma drástica redução ou para se tornar algo inexistente em função de seus custos cada vez mais próximos aos dos conjuntos novos. Mas o crescimento da demanda por equipamentos de grande porte no Brasil, como guindastes sobre esteiras, colocou novamente essa prática em voga. Esse cenário – atualmente mais evoluído no que diz respeito aos critérios de custos e de disponibilidade produtiva, avaliados na hora de optar pela reforma ou compra de um conjunto novo – impulsionou o desenvolvimento tecnológico desse tipo de serviço.
Atualmente, as empresas especializadas em recuperação de material rodante são capazes de oferecer o serviço com índices de confiabilidade superiores a 80% na comparação com o componente novo. Esse avanço se baseia, em grande parte, no desenvolvimento das técnicas de soldagem, o que permite reconstruir um componente com resistência ao desgaste muito próxima da oferecida pelo metal base do equipamento, desde que o material seja aplicado na peça após sua cuidadosa limpeza.
Essa evolução técnica desmistifica a máxima de que não é possível executar solda sobre solda na recuperação de material rodante. Afinal, uma vez que a recuperação de determinada peça de aço transfere características muito próximas das “originais”, a manutenção seguinte será sobre um metal de alta qualidade, capaz de receber todos os tratamentos de solda especificados para o metal base.
Assim, a “solda sobre solda” pode ser executada por mais de uma vez, desde que seja feita uma análise cuidadosa do material que receberá a nova aplicação. Esse processo requer uma avaliação química da estrutura do componente, buscando fragmentos internos, bem como o escoamento no metal que possa prejudicar a resistência do conjunto. Caso sejam encontradas avarias, é necessário remover o metal e, em seguida, recomenda-se a limpeza da área antes de se aplicar a nova deposição de solda.
O fundamental nesse trabalho é contar com fornecedores que possam disponibilizar soldas com parâmetros químicos próximos aos do metal base. Também é necessário avaliar se o tipo de liga requer pré-aquecimento ou não, para proporcionar a fusão perfeita entre a solda e o componente. Esses cuidados garantirão a melhor aderência possível entre a solda e o metal base da peça, resultando em um conjunto de material rodante com propriedades de resistência à abrasão e mecânica muito próximas das originais.
Apesar de eficientes, as recuperações por solda em componentes de material rodante devem ser avaliadas caso a caso. O ideal é que o seu custo não ultrapasse 40% do valor da peça nova. Obviamente, em situações atípicas, como a manutenção de uma máquina de alta produtividade, cujas peças não são encontradas facilmente no mercado, esses valores podem ser reavaliados. Não é comum que a recuperação se demonstre desvantajosa em relação à aquisição de um conjunto novo, principalmente em equipamentos de grande porte, nos quais o serviço não costuma ultrapassar 20% do valor do material rodante novo.
Identificando avarias
A opção por recuperar ou adquirir um material rodante novo é sempre guiada pelas condições de operação do equipamento em questão. Apesar de lógica, essa não é uma prática simples. Ela requer profissionais qualificados na avaliação de cada tipo de equipamento e de seu respectivo conjunto de esteiras. Em tratores de roda motriz elevada, por exemplo, não há desgaste do passo, devido à película de óleo da corrente lubrificada. Isso exige um acompanhamento minucioso no sistema.
Já em equipamentos maiores, como guindastes e escavadeiras, os limites são mais flexíveis para esses componentes, com folgas que podem chegar a até 10 milímetros. A pista de rolamento das esteiras desses equipamentos requer igualmente um acompanhamento de desgaste. Ele pode ser realizado a cada 300 horas trabalhadas, de modo que o desgaste não ultrapasse 15 milímetros. Uma vez identificado o desgaste, é preciso avaliar se ele foi ocasionado em uma operação normal ou anormal, antes de se tomar qualquer decisão.
No primeiro caso, a divisão entre o desgaste apresentado e a quantidade de horas trabalhadas pode presumir um período aproximado para a operação do equipamento no modo de emergência, até que esse desgaste ocorra por mais um ou dois milímetros (chegando no máximo a 15 milímetros). Isso permite que o gestor programe a parada de manutenção. Já na segunda condição de desgaste, é preciso parar a máquina imediatamente para avaliação técnica do material rodante, pois a continuidade da operação pode resultar em avarias totalmente inesperadas e custosas.
Nas esteiras de equipamentos de grande porte, os castelos das sapatas não devem apresentar desgastes superiores a 10 milímetros. Se isso acontecer, o material rodante irá operar com maior dificuldade, desgastando excessivamente a pista do rolete, aumentando desproporcional e prematuramente a alteração no passo (casamento da cavidade de um componente com o outro), o que resultará em drástica redução na produtividade da máquina.
Procedimentos para a boa preparação de solda
– Realizar boa limpeza na peça;
– Quando especificado, executar o pré-aquecimento;
– Obedecer à velocidade de soldagem indicada para o tipo de liga;
– Obedecer aos parâmetros de voltagem, amperagem, velocidade do arame, temperatura de interpasse e stick-light;
– Usar um fluxo de boa qualidade para se chegar à resistência à abrasão (dureza, sem trincas e boa resistência mecânica e ao choque) necessária.
Tipos de equipamentos sobre esteiras e cuidados especiais
Os equipamentos tracionados por esteiras podem ser divididos, basicamente, em quatro grandes grupos:
• Guindastes e demais equipamentos de grande porte usados em içamento de cargas: operam sob movimento de pressão. Por isso, necessitam de maior lubrificação entre eixos e buchas, evitando o desgaste prematuro.
• Tratores: como operam em movimentação na maior parte do tempo, apresentam maior desgaste na pista de rolamento. Em tratores com roda motriz elevada, é essencial a utilização de esteiras lubrificadas, pois suas buchas e pinos não têm faturamento e, por isso, a tolerância a desgaste é mínima.
• Escavadeiras e retroescavadeiras: são equipamentos que trabalham com içamento de carga em 80% da operação, mas também se locomovem no período restante. Por isso, requerem atenção tanto nos componentes de desgaste de movimentação quanto nos de movimento de pressão;
• Perfuratrizes: apesar de não trabalharem em movimentação e muito menos com içamento de cargas, essas máquinas ficam expostas a vibrações elevadas e, por isso, estão sujeitas a desgastes prematuros nos pinos e buchas.