Por Nelson Valêncio – 06.09.2017 –
Empresa canadense, já reconhecida nas áreas de cadastro e de operação, quer emplacar sua suíte ARM2, na gestão de ativos, com foco em manutenção. O alvo são as concessionárias locais de energia, gás e saneamento.
Um grupo de especialistas em gestão de ativos estava reunido no último dia 24 de agosto em São Paulo. A atenção dos profissionais – lotados em concessionárias de energia, um dos ramos conhecidos como utilities – estava concentrada na apresentação do norte-americano David Powers, especialista da canadense CGI Group em visita ao Brasil. Entre as funcionalidades exibidas estava a criação de cenários futuros, em particular das medidas de manutenção. A partir de dados de uma operação fictícia, Powers mostrava quais seriam os impactos de investimentos graduais em um grupo específico de equipamentos. E até mesmo quais seriam os custos – ao longo de anos – de não se tomar medida nenhuma. A funcionalidade, um sonho entre os profissionais, é um dos recursos únicos da plataforma ARM2, sigla para a versão mais atualizada para gestão de ativos da CGI.
Segundo Marco Afonso, diretor de consultoria e utilities da unidade brasileira da CGI, o foco da suíte são as equipes de manutenção em concessionárias de energia e saneamento. Ele destaca que, contrariamente às áreas de cadastro e de operação, onde já existem tecnologias tidas como padrão, a manutenção é um segmento onde não há ainda uma referência definitiva em plataformas de controle. E é nesse espaço que a empresa canadense quer entrar e se fixar como parâmetro. Presente no Brasil desde 1999, a CGI herdou o legado da Edinfor, braço do grupo português EDP adquirido pela Logica que, por sua vez, foi incorporada pela multinacional canadense. O DNA no segmento de utilities, aliás, é uma tônica da CGI, cuja plataforma de gestão de ativos é nativa para o setor e não uma adaptação de outras indústrias, segundo Afonso.
“As soluções que implementamos foram desenvolvidas para o mercado de utilities, cuja gestão de ativos é diferente de uma planta industrial”, argumenta o executivo. “São recursos pensados para gerir ativos geograficamente dispersos e não lineares e localizados, por exemplo, entre quatro paredes de uma fábrica”, complementa. Para ele, a tecnologia para gestão de ativos de uma utility deve se focar em características como o grande volume gerado de ordens de serviços, geograficamente dispersas, e não num volume baixo e concentrado de ações complexas, como é comum na área industrial.
Para avançar no Brasil na nova frente, a CGI tem uma visão pragmática. Primeiro considera que a suíte ARM2 tem cinco módulos e necessariamente nem todos eles vão ser adotados em conjunto. Em função disso, Afonso destaca a interoperabilidade da tecnologia com outros recursos de empresas concorrentes que já façam parte do legado das concessionárias. Boa parte das questões dirigidas a ele e a David Powers durante o encontro com profissionais (que durou vários dias, com grupos diferentes) centrou-se na “conversa” entre os módulos da ARM2 e o que as concessionárias já adotam para o controle de ativos em campo. O legado da companhia em outras frentes conta pontos. A tecnologia usada no maior centro de controle operacional de utilities na América Latina, o da Eletropaulo, por exemplo, é dela.
Outra aposta da multinacional canadense é a experiência acumulada em 30 anos de foco no setor e a inserção na ARM2 – e nas outras versões anteriores – das regras de melhores práticas adotadas internacionalmente na gestão de ativos de concessionárias dos setores de energia e saneamento. A inteligência do processo também acontece em duas mãos, por meio de um fórum de usuários que compartilha dúvidas e soluções reais na área de manutenção, operação e cadastro. Anualmente, a CGI realiza um encontro presencial que funciona como um congresso técnico. A atitude da companhia é similar às grandes corporações que defendem o uso de software livre de uma maneira mais profissional, algo como o que tem feito a Red Hat em outras áreas, fazendo as devidas considerações.
Esse posicionamento, inclusive, é enfatizado por Afonso. Para ele, a possibilidade de a CGI emplacar a adoção de seus módulos do ARM2 no Brasil é muito grande. O executivo destaca o amadurecimento do controle que as empresas detêm sobre suas redes, principalmente na área de energia, onde o processo de registro em papel já foi praticamente abolido por formas de controle digital. O mesmo não se pode dizer de operações em saneamento urbano, onde a realidade de empresas municipais, descapitalizadas, ainda é uma realidade.
Por outro lado, Afonso argumenta que há concessionárias de saneamento com processos avançados de cadastro e de operação, assim como adotam recursos de gestão de ativos em manutenção. O mesmo ocorre com maior intensidade no setor elétrico, onde a automatização tem avançado bem, inclusive para atender as demndas de adoção do smart grid ou rede inteligente. “Essa automação acontece, inclusive, por questão de regulação, mas também em função da otimização de recursos”, complementa.
Outro diferencial de interoperabilidade da plataforma ARM2 seria a adaptação de sua arquitetura ao longo do tempo para criar um ambiente amigável, cada vez mais gráfico na exposição dos dados. E também a migração para a nuvem, o que também facilita o acesso dos recursos pelas equipes de campo em seus dispositivos móveis. Durante sua apresentação no dia 24 de agosto, David Powers, o especialista americano em ARM2, mostrou todos os desdobramentos da gestão de uma equipe de campo, inclusive com o envio de dados diretamente aos smartphones dos técnicos na rua. Tudo sincronizado. “Na questão de mobilidade, nossas plataformas já trazem essa funcionalidade há pelo menos dez anos”, destaca Afonso.
Dos módulos que fazem parte da suíte, ele avalia que os de gerenciamento de ativos e de força de campo devem ser os mais atrativos para as concessionárias brasileiras. Em outras áreas, ele acredita que a adoção deve ocorrer caso a caso, uma vez que o cenário de cada utility é específico. O que Afonso adianta, sem citar nomes, é um processo avançado em uma concessionária local. Já em termos de precificação, o diretor da CGI lembra que definição de investimentos depende de vários fatores, sendo praticamente personalizada.