Por Marcos Ablas (*) – 16.10.2017 –
O setor de energia precisa oferecer um serviço ininterrupto e de qualidade constante aos consumidores. Para assegurar essa continuidade, as empresas do segmento, principalmente as distribuidoras de energia, devem driblar os altos custos de manutenção da rede elétrica em busca de maior eficiência operacional – e a internet das coisas (IoT), uma das tecnologias mais faladas atualmente, pode ser uma ótima aliada para superar esse desafio.
Se pensarmos que uma das principais dificuldades das distribuidoras é a prevenção e localização de problemas, o monitoramento dos ativos da rede elétrica usando essa tecnologia mostra-se ainda mais aplicável. Com dificuldades para obter dados atualizados sobre a rede espalhada por todos os cantos do País, a maior parte das companhias não consegue manter uma gestão de ativos tão precisa quanto gostaria. Por isso, mesmo que identifiquem um problema no fornecimento e enviem equipes à campo para repará-lo imediatamente, na maioria das vezes elas não sabem o local exato da falha, o que dificulta o rápido reestabelecimento do serviço.
A obtenção de dados mais precisos do campo ajudaria na gestão de ativos-chave – tais como transformadores, isoladores, cabos, etc – permitindo maior adoção de ações “remotas”. Hoje, as distribuidoras já realizam diversas intervenções automáticas na rede, mas as possibilidades que IoT traz são imensas: dados para melhor isolamento de falhas, detecção de problemas mais rapidamente, até a prevenção de uma queima de transformador através de informações analisadas através de novos ângulos. Por que não se imaginar a chance de detectar uma queda de árvore em um cabo energizado durante uma chuva? Muitos dispositivos, religadores e chaves, por exemplo, precisam de baterias e muitas vezes só se descobre que estão com problemas quando se precisa usá-los. A capacidade de se identificar a vida útil dessa bateria garantiria que todas estivessem em perfeito estado nesses momentos mais críticos.
É importante lembrar ainda que em uma mesma planta de energia existem equipamentos recém-fabricados, que eventualmente já fornecem dados de sua “saúde”, e outros com mais de vinte anos de uso. Como a vida útil desses materiais é longa, para aprimorar a coleta de informações, a empresa pode, sempre que precisar trocar ativos antigos, instalar os novos nos pontos mais vulneráveis para o uso de energia, como nos cruzamentos viários mais importantes, por exemplo. Isso permitirá um monitoramento da saúde dos equipamentos nas áreas mais vulneráveis.
A adoção de tecnologia inteligente ajuda também a melhorar a gestão dos ativos. Isso porque a internet das coisas mostra que os sensores podem ser usados para identificar a localização, número de série e parâmetros técnicos de transformadores, cabos, postes, entre outros, além de simplificar o gerenciamento de trocas e reparos. Para se ter uma ideia de potenciais ganhos, muitas vezes quando um transformador é trocado, se pode consertá-lo e instalá-lo em outro lugar, evitando o risco de se perderem na logística de reparos e estoques contábeis por conta de controles manuais.
Com a aplicação das soluções de captura de dados e tratamento adequado ao uso das empresas de energia, é possível mapear os equipamentos mais importantes para a operação e manter um “inventário” mais preciso de tudo o que está na rua, no estoque ou em reparo. Esses dados podem, inclusive, ser enviados automaticamente a um ERP, o que ajudaria a mapear os custos até a contabilidade e a gestão do negócio.
Existe uma infinidade de aplicações de internet das coisas no setor de utilities e, especificamente, nas distribuidoras de energia. E, embora o investimento na tecnologia pareça inicialmente algo custoso, a partir do momento em que as empresas começarem a gerenciar melhor os seus ativos, entenderão melhor as necessidades reais da operação. Sem esquecer a questão primordial da conectividade, aplicações precisas de IoT permitirão melhores compras, menor estoque, manutenções preventivas com mais precisão e identificação mais rápida dos problemas. Esse ciclo aprimora a eficiência da operação, reduzindo o tempo de interrupção do serviço e, em longo prazo, o custo da operação. E, o mais importante para a sociedade, impacta fortemente na melhoria da experiência oferecida aos consumidores.
* Marcos Ablas , consultor especializado em utilities da Logicalis