Ciena avança com seu conceito de rede de telecom autônoma

Por Nelson Valêncio – 08.12.2017 – Player importante na ativação de infraestrutura óptica no Brasil, a norte-americana Ciena tem ampliado sua participação nas redes de operadoras, inclusive mirando no mercado de provedores regionais. Nessa entrevista, Patrícia Vello, presidente da divisão brasileira, explica alguns dos temas que estão no foco da companhia. InfraROI – Onde a […]

Por Redação

em 8 de Dezembro de 2017

Por Nelson Valêncio – 08.12.2017 –

Player importante na ativação de infraestrutura óptica no Brasil, a norte-americana Ciena tem ampliado sua participação nas redes de operadoras, inclusive mirando no mercado de provedores regionais. Nessa entrevista, Patrícia Vello, presidente da divisão brasileira, explica alguns dos temas que estão no foco da companhia.

InfraROI – Onde a Ciena se posiciona atualmente no ecossistema de telecomunicações?

Patrícia Vello: Estamos ajudando a construir o conceito de rede autônoma para reduzir o custo operacional das operadoras. São redes mais inteligentes, as quais conseguem se ajustar às demandas do momento. Anteriormente, tínhamos redes separadas da operação, com equipes próprias para cuidar da infraestrutura. Isso criava dificuldades no caso, por exemplo, de rompimento de fibra óptica, para identificar onde está o problema. No conceito de rede inteligente, os equipamentos ajudam nesse processo, auxiliando a operadora a tomar decisão em função das informações recolhidas. É uma rede dinâmica, não seccionada.

InfraROI – Isso muda o perfil dos profissionais envolvidos com rede nas operadoras?

Patrícia: Sim. A aclimatação é um grande desafio, embora os engenheiros de telecomunicações tenham uma graduação em tecnologia com conhecimento de tecnologia da informação. Os dois mundos – telecom e TI – precisam funcionar juntos e as operadoras estão reunindo as especialidades nos projetos de redes autônomas. Dentro de casa, na Ciena, fazemos uma reciclagem, incluindo a parceria com universidades, caso do Inatel. O desafio do perfil do novo profissional é um debate grande. Acredito que o engenheiro de telecomunicações tem uma visão de rede segmentada e precisa de, pelo menos, um conhecimento sistêmico de TI.

Patrícia: inteligência migra para as pontas da rede de telecom

InfraROI – Voltando à rede autônoma…

Patricia: A rede autônoma depende de informação e os novos elementos de rede tem muita tecnologia de informação embarcada. Eles possuem uma determinada inteligência. Pense numa rede de fibra óptica: no caso de uma ruptura, é preciso identificar, onde está o problema e, ao mesmo,  tempo, redirecionar o tráfego. Remotamente, é possível avaliar os problemas sem a necessidade de envio de técnicos de campo. Os equipamentos, por sua vez, têm uma interface que os permitem recolher informações de rede e podem até tomar decisões dentro de um range estabelecido. Antes era muito estático. Hoje, com novos sistemas, existe a possibilidade de tomar ações enquanto ocorre o conserto da fibra afetada. Aqui entra a inteligência de software, inclusive a inteligência artificial para prever ações e tomar iniciativas preventivas e corretivas.

InfraROI – Apesar da virtualização das funções de rede, nem tudo será virtual…

Patrícia: A rede óptica nunca vai deixar de existir. Estamos transferindo inteligência para os equipamentos, para pedaços da rede que estão cada vez mais próximos do usuário final. Há uma descentralização da inteligência para os elementos ópticos que compõem a rede. É um caminho misto, onde a rede pode tomar determinadas decisões. O que acontece é que essas decisões são mais inteligentes porque os elementos de rede “sabem” agir de determinada forma em relação ao tráfego. Há uma simplificação na ponta, com data centers mais próximos de usuários e também o estabelecimento de outras funções de rede que passam a ser disponibilizadas para tais elementos. É claro que nessa descentralização é preciso haver uma segurança, inclusive com recursos de criptografia adotados em áreas avançadas como o financeiro.

InfraROI – Como está ocorrendo a transformação nas operadoras?

Patrícia: Como em toda inovação, ela depende de business case. É um ponto de inflexão. Tem que ser economicamente possível para as operadoras. Quando a inovação acontece nos equipamentos, quando ela aumenta na ponta, com mais inteligência, isso permite que as redes convivam por mais tempo. Metade do nosso trabalho é ajudar o cliente a desenvolver business case, com a rede tendo o menor custo possível. Em termos de equipamento, temos uma migração para dispositivos com maior agregação, capacidade e inteligência.

InfraROI – Trata-se de uma rede também aberta?

Patrícia: Sim, ela permite a interface entre vários fabricantes e que se implante uma camada de SDN, de rede definida por software, independente do player A ou B. São necessárias várias parcerias, convergir com outros vendors. É um conceito prático. Buscamos esses parceiros via matriz, nos Estados Unidos, ou localmente, que nos ajudem a implementar o conceito de rede aberta.

InfraROI – E aqui entra o conceito de orquestração?

Patrícia: Ela envolve a conversa com outros vendors. Existe uma comunicação para a produção de standards de SDN que surgem no mercado. Dentro desse conceito de trazer a inteligência para os data centers, existe uma série de APIs abertos e nossa gerência pode se conectar a qualquer outro elemento de rede que disponibilize esse API aberto. Imagine que se precise implantar determinada funcionalidade em todos os elementos de rede, de forma rápida. O ideal é ter um orquestrador que converse com os outros orquestradores ou sistemas de gerência. A atualização de softwares não exige um esforço muito grande e a orquestração permite a existência de ambientes multivendors.

InfraROI – Esse processo tem começado pelos clientes corporativos das operadoras…

Patrícia: Esse tipo de cliente das operadoras tem uma necessidade específica de funcionalidades, caso de criptografia, além do fato de ele ter seu próprio departamento de TI, que compra o acesso das operadoras, mas quer que a inteligência fique em casa. Com a flexibilidade das novas redes, o que se pode vender, por exemplo, é um sistema de criptografia onde a chave criptográfica fique de poder do ciente corporativo. A flexibilidade também acontece com opções de serviços de transporte óptico dinâmico, onde o cliente compra capacidade de 1 giga e pode replicar para 10 giga, de forma rápida e por iniciativa dele mesmo.

InfraROI – E para o assinante comum?

Patrícia: Ele quer capacidade de banda com qualidade. Cada vez compra mais capacidade, o que acontece na rede fixa e na móvel. Quer ter banda para usar todas as aplicações no celular. O papel da operadora será o de ser flexível para atender a ele.

InfraROI – Como vocês acompanham essas mudanças?

Patricia: O dinamismo do novo mercado é uma de nossas prioridades. Quando fazemos planejamento, precisamos construir redes que ajudem nossos clientes a reduzir seu custo operacional. Se você comparar com o passado, o custo de transporte não mudou muito, mas sim o custo operacional. O custo com a rede é significativo e precisamos ajudar as operadoras a ter uma infraestrutura mais eficiente operacionalmente. E isso envolve conceitos como o SDN.

InfraROI – O mercado de provedores regionais (ISPs) também está no radar da Ciena?

Patrícia: Sim. Temos um mix maior de clientes e sabemos que existia um pré-conceito de provedores regionais a respeito da Ciena, achando que nossa tecnologia estaria fora do alcance deles. Estamos fazendo um trabalho com os provedores regionais, mostrando que eles podem comprar redes mais sofisticadas, reduzindo seus custos. Mesmo dentro do portfólio de equipamentos sofisticados, temos opções de oferta de redes mais econômicas e dinâmicas, ou seja, um custo total de propriedade (TCO) melhor e que obviamente, reduz o custo de operação (Opex).