Por Basílio Perez * – 22.12.2017 –
O ano de 2017 termina com uma sensação positiva. É cedo para considerar o Brasil totalmente livre da crise, mas notamos tendências nos mais diversos segmentos da economia, que possivelmente proporcionarão um crescimento sólido nos próximos anos. No setor das telecomunicações, um fenômeno nítido pôde ser observado ao longo dos últimos meses e gera grandes expectativas em relação ao futuro: estamos falando do aumento nas instalações de fibras ópticas para ampliar o acesso à banda larga, sobretudo nas casas atendidas por provedores de internet.
Em todas as regiões do país, provedores estão substituindo redes sem fio por essa tecnologia, capaz de oferecer uma conexão extremamente rápida e preparada para aplicações de IoT (Internet of Things), por exemplo. Dados da Anatel mostram que, em dois anos, entre 2015 e 2017, o total de acessos mensais por meio de fibra saltou mais de 630%, de 128 mil para 936 mil entre os provedores. Esse volume representa 34,5% do uso total de internet por fibra no Brasil, um avanço também impressionante (em 2015, essa porcentagem era de apenas 13%).
Ou seja, cada vez mais, a fibra tem chegado ao interior do país e periferias das grandes cidades. A maior participação dos provedores nessa estatística é um indicativo claro de que as melhores tecnologias estão chegando a locais de acesso mais difícil e onde a internet historicamente carece de qualidade. É uma notícia a ser celebrada: ainda temos um longo caminho a ser percorrido, mas a estrutura para melhores conexões tem evoluído justamente nos locais mais “esquecidos” do Brasil.
Dentro do nosso território, existem dois países distintos: em 248 municípios (equivalente a 5% do total de localidades, mas com 50% da população), três grandes operadoras fornecem serviços de internet (cerca de 75% dessas conexões com velocidade acima de 2 Mbps). Já no outro extremo, em 95% das cidades, onde vive a outra metade de brasileiros, apenas 38% das redes de internet funcionam acima de 2 Mbps, segundo dados da consultoria Teleco. Essa parcela negligenciada e não atendida pelas maiores operadoras depende bastante dos provedores – e são essas pessoas que estão se beneficiando dos maiores investimentos em fibra óptica.
Se contarmos todas as tecnologias, os provedores proporcionam conexões, hoje, a cerca de 15% dos brasileiros. Somados, esses acessos foram 3,9 milhões no último mês de outubro. São números que não param de aumentar: a parcela de participação das menores empresas no mercado tem crescido exponencialmente, ainda que as grandes operadoras não estejam perdendo usuários. A justificativa é a grande quantidade de cidadãos que ainda estão excluídos digitalmente ou utilizam internet extremamente precária.
Segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), do último mês de novembro, quase 40% dos lares no Brasil não estão conectados à internet. É urgente que essas pessoas sejam incluídas, ampliando o acesso ao conhecimento e impulsionando o crescimento da economia. Em 2018, certamente seguiremos evoluindo nesse sentido, mas sempre é possível melhor ainda mais, caso o governo e as agências reguladoras cumpram seu papel de permitir que esses pequenos provedores atuem em um ambiente de concorrência justo, sem favorecimento às grandes operadoras. Quem tem a ganhar é o Brasil.
* Basílio Perez é presidente da ABRINT (Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações)