Por Rodrigo Conceição Santos – de Las Vegas – 26.01.2018
Crescimento anual acima de 6% e projeção de chegar ao pico da década passada anima indústria cimenteira americana, que já vive o terceiro ano seguido de crescimento.
O consumo de cimento Portland deve crescer 2,6% nos EUA em 2018, validando o terceiro ano seguido de avanço acima de 2% e confirmando o andamento de um novo ciclo de próspero para a construção civil do país. Para a America’s Cement Manufacturers (PCA) – uma associação que representa a indústria cimenteira norte-americana – o período de crescimento deve se estender além de 2030, quando os patamares de consumo ultrapassarão o maior nível já medido pelo setor, em 2006. Nesse ano, o consumo foi superior a 120 milhões de toneladas de cimento. Em 2017, o consumo foi inferior a 100 milhões de toneladas.
“Os investimentos em construção coincidem com o momento econômico do país, que está em ascensão, com baixa taxa de desemprego”, diz Ed Sullivan, vice-presidente sênior e economista chefe da PCA. Em contrapartida, pondera ele, é preciso atentar para a escassez de mão de obra e para a inflação dos preços do setor, algo que naturalmente acontece com o aquecimento dos negócios.
É por isso que ele relativiza as políticas de Donald Trump. Pois, se por um lado é estimulante a promessa de 1 trilhão de dólares investido em infraestrutura durante os quatro anos de seu governo, por outro o cerco anti-imigração pode acelerar a falta de mão de obra na construção civil e ainda prejudicar o crescimento das obras residenciais, já que a demanda por novas moradias diminuiria igualmente.
Hoje, as obras residenciais são responsáveis por 43,5% do volume de construção no país. Obras para educação e hotéis vêm na sequência, com 17% e 12,5%, respectivamente. Escritórios ficam com 7,4% da fatia, enquanto obras hospitalares com 7,2%. As construções industriais representam 5,8% dos investimentos no setor e as obras públicas – isso mesmo: infraestrutura – apenas 3,5%. “Com o pacote de Trump isso deve mudar, mas só a partir deste ano. Afinal, historicamente os governos não investem nem 10% do prometido no primeiro ano de mandato”, diz Sullivan.
No cenário geral, a expectativa dele é de que o setor da construção cresce nos próximos anos. O desafio então, passa a ser emplacar as estruturas de concreto no lugar de outras concorrentes, principalmente madeira.
Madeira de lei compete com alvernaria em construções
A madeira ficou realmente forte no mercado norte-americano. Pelos dados da PCA, em menos de três décadas ela inverteu o papel em relação às construções de cimento. Em 1992, por exemplo, o concreto tinha mais de 30% do mercado de construção norte-americano. Hoje não chega a 20%. “Já as estruturas de madeira, que tinham 7% há 25 anos, hoje têm quase 40%”, pontua Sullivan.
Nessa briga, tudo pesa, inclusive a política anti-imigração. Afinal, para os latinos, a construção em alvenaria é culturalmente mais utilizada, e isso influencia sim no modo em que constroem nos EUA.
A empregabilidade para mão de obra pesada também é um argumento da PCA. E isso volta favorecer a permanência de imigrantes no país. “Para cada milhão de tonelada que o concreto perde em market share, 5,5 mil postos de trabalho relacionados são desativados”, defende o especialista.
Pesando a favor de Trump, ele destaca que o pacote de investimento em infraestrutura é majoritariamente destinado a obras rodoviárias, onde as pistas de concreto compactado a rolo, pontes, galerias, viadutos, etc. terão forte participação. “O governo projeta que 48% dos recursos serão para obras rodoviárias, enquanto outros 18% serão divididos entre obras de aeroportos e transporte público, ambos com alta taxa de aplicação de concreto”, diz.
Com base nesses dados, Sullivan afirma que o fim desta década será rentável para a indústria cimenteira nos Estados Unidos. “Projetamos que ela crescerá os já citados 2,6% em 2018, além de 4,5% em 2019 e 6,4% em 2020”, conclui.
Rodrigo Santos, publisher do InfraROI, está em Las Vegas a convite a organização do World of Concrete 2018, de quem o site é parceiro de mídia.