Afonso França prevê crescimento de 75%

Por Nelson Valêncio e Rodrigo Conceição Santos – 02.04.2018 –  Focada em obras privadas e de maior complexidade, a empresa espera fechar o ano com faturamento superior a R$ 700 milhões, inclusive com projetos de infraestrutura. Liderada por um engenheiro que se transformou em administrador de empresas ao longo dos anos e por um administrador […]

Por Redação

em 2 de Abril de 2018
Obras do Projeto Puma, da Klabin

Por Nelson Valêncio e Rodrigo Conceição Santos – 02.04.2018 – 

Focada em obras privadas e de maior complexidade, a empresa espera fechar o ano com faturamento superior a R$ 700 milhões, inclusive com projetos de infraestrutura.

Liderada por um engenheiro que se transformou em administrador de empresas ao longo dos anos e por um administrador que foi absorvendo a cultura de engenharia, a Afonso França passa ao largo da crise que afetou a construção civil brasileira nos últimos anos. Realista e focada em obras complexas, que vão de hospitais a data centers, passando por plantas de papel e celulose, a companhia prevê faturar R$ 700 milhões em 2018. Caso consiga, ela vai cravar um incremento de 75% em relação a 2017 e praticamente dobrar os resultados de R$ 356 milhões de 2016. Se no ano passado ela foi listada pelo ranking da revista O Empreiteiro entre as 25 maiores do setor, o avanço poderia colocá-la num grupo ainda mais restrito.

Da esq: Claúdio Afonso e Estevam França

O engenheiro Cláudio de Souza Afonso e o adminstrador Estevam de Novaes França, que dão nome à construtora, ambos sócios da empresa, comemoram a fase e asseguram que estão estruturados para crescer mais. Inclusive, com a entrada no segmento de infraestrutura em empreendimentos que não tenham obras de arte. O exemplo mais recente dessa nova fase é a modernização dos Terminais 1 e 2 do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. O rol de potenciais projetos em infraestrutura inclui instalações portuárias, estações ferroviárias, outros terminais aeroportuários, prédios administrativos e obras prediais.

“O perfil do contratante de infraestrutura está mudando no Brasil, com mais participação de entes privados do que públicos, diferente do que vimos nos últimos anos”, diz Afonso. A mudança, de acordo com ele, vai pautar contratações mais técnicas e menos conservadoras, o que ampliaria a competitividade da construtora. A razão? A empreiteira está habituada a executar projetos de complexidade até maior, incluindo experiências na indústria farmacêutica, de telecomunicações, papel e celulose e outras. “No aeroporto de Guarulhos, por exemplo, fizemos ótima execução ao utilizar a expertise adquirida em obras industriais e comerciais complexas”, complementa França.

Obras do Projeto Puma, da Klabin

DNA em planejamento começou na JHS
Para chegar ao momento atual, a construtora usa seu histórico de 25 anos, quando começou a realizar obras de retrofit em shopping centers. A mentalidade de planejamento veio antes, com a experiência dos dois profissionais na JHS, empresa que é referência no setor. “Desde o começo buscamos segmentos potencialmente em ascensão”, diz Afonso. “Por isso, após os primeiros projetos de reforma em shoppings centers, avançamos para o setor hospitalar, onde ficamos renomados com obras bem-sucedidas para o Albert Einstein, de São Paulo, e para os hospitais do Grupo Amil, ambos nossos clientes até hoje”, completa.

O setor farmacêutico foi uma evolução natural do retrofit e construção de hospitais.  “A primeira obra envolveu a Aventis – hoje Sanofi – e fomos premiados em 20% sobre o valor do contrato depois que cumprimos todos os requisitos impostos com excelência”, lembra Afonso. Em seguida, a empresa partiu para a obra do centro de pesquisa e inovação da Loreal, que a contratou pelo caso bem-sucedido na Aventis. “Viramos referência e ganhamos novos clientes por conta do trabalho bem executado”, acrescenta.

O mercado de papel e celulose foi mais uma das frentes abertas pela empreiteira, assim como a construção (além dos retrofits que sempre fizeram) em shopping centers, galpões e outros segmentos comerciais e industriais. Complexo e fechado, a nova frente de ação começou com um empreendimento da Suzano e justamente no momento em que um dos ciclos de construção de plantas do segmento estava sendo finalizado. A etapa seguinte incluiu o projeto Puma, da Klabin, em Ortigueira (PR). “Surfamos’ nesse momento, executado várias obras até o fim desse ciclo na Klabin e o início de outros ciclos em outras companhias”, salienta ele.

Não às obras públicas
Os avanços, pontua França, foram sempre antecedidos por uma preparação interna, regida pela política de nunca começar uma obra sem antes ter a estrutura operacional e o capital humano necessários. Esse modelo, que eles classificam como planejamento conservador, foi o impulsionador da empresa e principal responsável pelo crescimento nos últimos anos. “O Brasil teve crescimento expressivo na última década, principalmente na época do presidente Lula. Ocorre que isso não foi bom como poderia para a construção, dado que havia muitas obras e pouca gente realmente capacitada para executá-las”, argumenta.

O alerta, segundo o executivo, aconteceu quando a construtora notou que não estava  conseguindo atender com o padrão que gostaria. O momento da verdade também reforçou a exclusão do setor público como cliente e levou à criação do grupo de gestão, pautado pela interação entre os departamentos da construtora e a troca de conhecimento para gerir as obras desde o projeto a execução da construção. “Descobrimos que um grande segredo é aproximar o escritório administrativo das obras. Hoje, com as tecnologias de mobilidade e de imagens, conseguimos essa proximidade”, explica França.

Os executivos também descobriram que ao posicionar-se como responsável direto por todas as etapas de obra – do projeto à construção – era possível eliminar os principais riscos e contratempos. “O contratante gasta de 3% a 4% do orçamento do valor do contrato com projeto e geralmente muitos problemas são decorrentes dessa etapa”, diz o empresário. “Então, por que não entrar desde a fase inicial, centralizando e aliviando o problema para o cliente e para nós, evitando surpresas na execução? É isso que estamos fazendo”, resume.

O processo atual da Afonso França começa no orçamento, etapa que entra tão logo a área comercial prospecte o cliente. Em seguida, acontece a análise de projetos, criada justamente após o insight relatado pelo executivo. “Isso exige muita engenharia de suporte, pois vasculhamos os projetos dos clientes, que geralmente vêm com falhas técnicas e falta de informação. Acertamos tudo antes de finalizar o projeto detalhado e iniciamos a execução, sempre com um batimento minucioso que comprar execução versus projeto. Isso evita erros e consequentes retrabalhos”, detalha Afonso.

Infraestrutura deve voltar, com novo cenário

A mistura de conservadorismo e vanguarda fez da Afonso França um ponto fora da curva em comparação à economia brasileira – cujo PIB caiu mais de 7% nos últimos três anos – e mais ainda diante ao setor da construção (o PIB da construção encolheu 15% entre 2015 e 2017). Apostando que seu perfil continue válido, os empresários projetam anos promissores para a construtora e também para o setor, inclusive na construção pesada.

“Os grandes empreendimentos de infraestrutura vão voltar. O país não tem como avançar sem eles. E junto com eles virão as demandas por edificações leves”, sintetiza França. “Temos interesse no setor, mas não em conduzir obras de rodovias, portos, aeroportos, etc.. Entendemos que nosso foco não envolvem obras de arte”, complementa. Os sócios da Afonso França se colocam como “meros observadores” ao avaliar que não há empresas com capacidade técnica e operacional para realizar os grandes projetos fora os grandes grupos hoje em crise.

“O segredo para uma atuação bem-sucedida na construção pesada envolve auditoria e vigilância estreita dos órgãos competentes. E que os órgãos fiscalizadores também não estejam comprometidos”, defende Afonso. “Se não colocarem as raposas para cuidar do galinheiro, teremos grande chance de manter um novo mercado de infraestrutura, produtivo e com a participação ativa das megaconstrutoras brasileiras, ficando também uma gama de projetos de edificação a cargo de empreiteiras como a Afonso França”, conclui.