Por Nelson Valêncio – 24.10.2018 –
Criada no ano 2000 como carrier de carrier, ou seja, uma operadora que oferecia infraestrutura de rede para outras operadoras, a Eletronet mudou bastante nos últimos dois anos. Com uma nova equipe executiva, a empresa moderniza sua rede de 16 mil km, que cobre boa parte do país, com 155 pontos de presença (PoPs) em 18 estados. Quando falamos sua rede, na verdade estamos falando de uma concessão de empresas da Eletrobrás e cujo prazo de vigência vence em 2019. A mudança na Eletronet, segundo Cássio Ricardo Lehmann, diretor de marketing e vendas, também passa pela oferta de novos produtos e pela diversificação de mercado, com os provedores regionais (ISPs) respondendo por 70% do faturamento da companhia. Pela média de crescimento de negócios – 40% nos últimos dois anos – as mudanças foram positivas. Acompanhe a entrevista com Lehmann abaixo.
InfraROI – A Eletronet tinha um perfil low profile. O que mudou?
Lehmann: Ela foi criada como carrier de carrier, ficou reclusa no mercado, voltou com um novo staff executivo e com a estratégia de rentabilizar o ativo enorme que tem. A rede é mesma, com mais capilaridade e tem novos equipamentos. Está mais proativa comercialmente, atendendo dois principais clientes: as operadoras tradicionais e os provedores regionais. Esse segundo é um grande filão, porque há uma explosão do mercado de ISPs. Nossa missão é explorar o potencial da rede que temos.
InfraROI – Os provedores estão se sobressaindo…
Lehmann: Eles respondem por 70% do crescimento e as operadoras convencionais, as quatro grandes – mais as de médio porte e entrantes – pelos 30% restantes. Temos swap com as operadoras, mas venda de serviços. Por isso, de forma geral, nosso perfil mudou de carrier de carrier para uma venda mais complexa. Deixamos de vender somente capacidade de rede. Os provedores crescem muito em cima de novos serviços como o Full IP, serviço de trânsito IP nacional, que lançamos em março e que já representa 50% das vendas e foi bem incorporado pelo mercado.
InfraROI – Mas a rede continua sendo atrativa e vendida como diferencial?
Lehmann: Sim. Temos capilaridade, com os 155 pontos de presença, uma tecnologia estável em função da rede terrestre de OPGW e de longa extensão. E agora, ainda mais, com a modernização da infraestrutura. Vamos ter outro patamar de qualidade, escalabilidade, prazos de entrega. Era o que faltava para ser ainda melhor prestadora. Começamos a modernização em maio esse ano, com prazo de conclusão em 2019. Já fizemos o trecho São Paulo a Salvador e estamos no trecho de São Paulo a Porto Alegre.
InfraROI – o que muda no futuro mais próximo?
Lehmann: Em termos de rede, teremos a finalização da modernização e interligações importantes como a de Serra da Mesa a Salvador, cortando o anel 7 em dois. Também pretendemos chegar a São Luís e a Foz do Iguaçu. Nosso principal produto hoje, o Full IP deve manter seu crescimento, assim como o Full IPix, uma entrega descentralizada de trânsito IP, chegando aos 17 PIXes nacionais até o final desse ano.
Modernização envolve Ciena, Juniper e Everest Ridge
A Eletronet tem uma rede estável, com a média histórica de menos de um acidente por ano. Anderson Jacopetti, diretor de Engenharia e Operações, lembra que o caso mais impactante foi o de um monomotor que raspou nos cabos do interior de Minas Gerais e, mesmo assim, a rede continuou operacional. Existe uma razão para isso. A infraestrutura é 99% aérea, com 96% dos cabos ópticos do tipo OPGW – que também funcionam como para raios – e outros 3% em cabos ADSS, instalados lateralmente na rede de transmissão de quatro das empresas da Eletrobras. Somente 166 km de rede enterrada fazem parte da malha nacional e basicamente estão interligando os cabos entre uma e outra infraestrutura de transmissão.
Na modernização, Jacopetti lembra que a Eletronet investiu seis meses, coordenando propostas técnicas e comerciais de cerca de uma vintena de fornecedores. A Ciena ficou com o pacote, que não é full turnkey, mas envolve equipamentos e suporte, além de engenharia. A coordenação do processo, no entanto, é internalizada na Eletronet. A empresa contratou a Everest Ridge para ajuda-la no desenho da rede e na implementação. A Juniper, por sua vez, entra no fornecimento de tecnologia de roteadores, tanto os de borda como os de core, facilitando a provável adoção de tecnologias de virtualização de funções de rede (NFV).
Segundo Jacopetti, a modernização ativará 88 canais de 100 giga em cada par de fibra, o que totalizaria uma capacidade de 8,8 terabites por rota. Hoje, a rede tem 44 canais com 10 giga ou com 100 giga. A padronização eliminaria interferências e já prepara para expansões uma vez que os transponders de 100 giga podem ser substituídos por outros de maior capacidade, quadruplicando o volume potencial que já é grande. As mudanças também eliminam a necessidade de regeneradores em alguns casos. No trecho entre São Paulo e Fortaleza, por exemplo, serão necessários apenas dois. Entre Porto Alegre e a capital paulista, a nova configuração é de uma rede expressa, sem regeneradores, ao contrário da malha atual.