Por Marcus Granadeiro* 26.10.2018 –
Quando avaliamos a adoção do conceito de BIM (Building Information Modeling), ou Modelagem das Informações de Construção, percebemos que existem diversas iniciativas na área de projeto, porém poucas evoluíram para a obra. Se a dúvida é como será implantar processos de BIM em contratos de gerenciamento de obra ou quais serão as dificuldades e barreiras, assim como as novidades, podemos dizer que os ganhos serão muito significativos e fáceis de apurar, pois é na obra que está o grande volume de dinheiro e é onde ocorrem os problemas e atrasos.
A primeira aplicação que se tem em mente ao pensar no gerenciamento usando o BIM é o 4D, ou seja, o acompanhamento do modelo tridimensional associado ao cronograma. Em outras palavras, o tempo como a quarta dimensão. Para a montagem no 4D, é necessário ter os modelos das diversas disciplinas plenamente compatibilizados, ou seja, modelos com todas as interferências e conflitos já sanados, pois não faz sentido associar um planejamento a um modelo com problemas.
Em um processo tradicional não há esta capacidade de detecção de interferências de forma tão simples e rápida, assim é comum ter alguns aspectos que passam desapercebidos. O gerenciador fará seu planejamento e elas serão notadas na obra. No processo BIM, elas iam aparecer.
Este ponto, necessariamente, leva à antecipação de discussões que fatalmente iriam acontecer ao longo do gerenciamento para seu início. A fase inicial do gerenciamento ganha um protagonismo e uma capacidade de agregar muito valor ao serviço, revisando o modelo, eliminando problemas e reduzindo riscos. A equipe e o esforço a ser considerado nesta fase deve ser incrementado, agregando além do conhecimento em planejamento e aportando know-how construtivo e de produto.
No decorrer do contrato, há possibilidade de aplicação de uma série de novas tecnologias que automatizam o processo, eliminam trabalho e geram informações para aplicação no processo BIM. Algumas delas são:
- IoT – Podemos destacar o uso de beacons para o controle do fluxo de funcionários na obra, monitorando o trânsito em áreas de risco ou, até mesmo, associando este fluxo com os treinamentos de segurança realizados, ficando registrado no modelo quem e quando acessou qual área;
- Digitalização – Para geração de as build, ou registro do avanço de obra, é de grande valia a nuvem de pontos gerada por escâneres à laser. Estas nuvens podem ser comparadas com o projeto para indicar problemas ou validar montagens. A nuvem também pode ser utilizada para checar processos construtivos, como planicidade de fachada, flambagem de pilar ou nível de piso.
- Robótica – A utilização de estações robóticas entram no lugar da tradicional topografia. Com elas, os dados de campo são registrados no modelo de forma automática. São equipamentos que trabalham sozinhos ou apenas com um operador e que buscam e gravam dados diretamente no modelo BIM.
- Realidade Virtual – Tem o objetivo de auxiliar a compreensão do modelo. Sua aplicação é ideal para obras e projetos complexos. No gerenciamento, a aplicação está na associação do modelo ao cronograma para pleno entendimento dos cenários e avanço da obra. Ideal para salas de situação e gerenciamento de obras em locais remotos.
A entrega do trabalho de gerenciamento também deve ser alterada. A produção de documentos deve perder a importância. Dados do gerenciamento inseridos dentro do modelo vão ser muito mais úteis que documentos. Relatórios vão ser menores e ficar restritos às análises do gerenciamento e não mais conter dados e mais dados, como os relatórios atuais. Para o cliente final, que vai utilizar o modelo BIM para a fase de operação, não interessa as informações em forma de texto dentro de documentos, mas sim tê-las em base de dados estruturada e associada ao modelo BIM.
*Marcus Granadeiro é engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da USP, presidente do Construtivo, empresa de tecnologia com DNA de engenharia e membro da ADN (Autodesk Development Network) e do RICS (Royal Institution of Chartered Surveyours).