A LuvaBella me fez temer como Bill Gates e Elon Musk

Rodrigo Conceição Santos – 27.02.2019 –  A minha filha de seis anos ganhou de aniversário a boneca LuvaBella, da Sunny Brinquedos. – Ela não fala, só balbucia? Questionei de cara. A Bia respondeu que era preciso ensiná-la a falar. Quão fantasiosas são as crianças, pensei. Mas respondi que brincasse então e aproveitasse para exercitar o […]

Por Redação

em 27 de Fevereiro de 2019

Rodrigo Conceição Santos – 27.02.2019 – 

A minha filha de seis anos ganhou de aniversário a boneca LuvaBella, da Sunny Brinquedos. – Ela não fala, só balbucia? Questionei de cara. A Bia respondeu que era preciso ensiná-la a falar. Quão fantasiosas são as crianças, pensei. Mas respondi que brincasse então e aproveitasse para exercitar o inglês. Poucos dias depois, não é que a boneca começou a falar algumas palavras? Coincidentemente, eram algumas das poucas palavras que a minha filha sabe no idioma. O brinquedo também passou a rir quando fazemos cócegas na barriga. Ela ainda arrota e dorme depois da mamadeira. Boceja quando acorda e muda a feição de acordo com os seus “sentimentos”. “Agora sim se justificam os 50 e poucos dólares e o trabalho que você teve para trazê-la na bagagem. Essa boneca é bem melhor que aquela tal de Bebê Viva”, brincou a minha esposa.

Eu ri de canto, mas não achei graça. Na verdade, estava mesmo é preocupado. Essa boneca me trouxe medos, inclusive de que ela acordasse chorando na madrugada e eu tivesse de saltar para acudi-la. Talvez por isso comecei a comentar a seu respeito com alguns amigos. Até que uma, entusiasta das tecnologias, me trouxe à realidade temerosa de que “o aprendizado dessa boneca não poderia ser pura coincidência”.

E não era. Descobri que a LuvaBella tem inteligência artificial. Não é, portanto, uma boneca. É um robô temeroso, com centenas de possibilidades de combinações de bits e bytes que eu coloquei dentro da minha casa, nos braços da minha filha.

Exageros à parte, a boneca é o expoente de um futuro ainda incerto para os seres humanos e a quarta revolução industrial. Mas antes de juntar alguns pontos nesse sentido, faço questão de reconhecer o meu erro em 2015 ao debochar de Bill Gates que disse temer pela possibilidade de a inteligência artificial ultrapassar os seres humanos. Ele, junto a outras grandes mentes, participa de estudos dedicados a impedir que isso aconteça. O empresário sul-africano Elon Musk chegou a doar US$ 100 milhões ao programa que monitora a inteligência artificial e, agora, olhando para a LuvaBella, agradeço a ambos imensamente.

IA das máquinas aos call centers
Óbvio que há o copo meio cheio e a inteligência artificial tem mesmo vieses positivos. Lembro que há alguns meses estive em um evento voltado a gestores de call center. Uma empresa de softwares era a promotora, que trouxe um parceiro especializado nos bots de interação com os clientes. Achei o máximo a possibilidade de receber sugestão de vinhos para acompanhar um peixe, ou mesmo pedir pelo celular a minha pizza preferida na Dominos em apenas quatro cliques e sem qualquer necessidade de falar com o GH (gênero humano, numa brincadeira do jornalista Joel Silveira com o também jornalista Geneton Moraes). Escrevi matéria a respeito neste link: http://infraroi.com.br/inteligencia-artificial-e-iot-podem-otimizar-atendimentos-industriais/.

Nesta semana tive outra experiência promissora para IA. Junto a um grupo de colegas jornalistas estive em uma fábrica de equipamentos pesados de construção no interior de São Paulo. Num dos bate-papos um colega comparou essa fábrica com uma de cabines de caminhões que havia visitado dias antes: “lá está bem mais evoluído que aqui. São dezenas de robôs de solda e 75 mil atividades controladas remotamente, inclusive a manutenção desses robôs”.

Pelo o que entendi do seu relato, há nesse ambiente inteligência artificial que combina parâmetros de acontecimentos comuns para intervir nos robôs de produção antes mesmo que esses tenham problemas (manutenção preventiva). “Os funcionários – uma meia dúzia – é que viraram apoiadores das máquinas. E isso dá medo”, disse ele.

Na fábrica que estávamos, havia meia dúzia de robôs de soldagem e centenas de funcionários, o que trouxe certo alívio depois dessa conversa. Mas ao entendermos o que essas centenas de pessoas produziam com a ajuda da meia dúzia de robôs, o medo voltou.

A empresa apresentava um novo sistema de telemática embarcada nos equipamentos. Chamado de copiloto, ele é capaz de gerenciar os ciclos de carregamento de materiais por uma carregadeira, pesando cada caçambada e informando o volume necessário para completar determinada atividade. “É preciso a intervenção do operador sempre, principalmente no último ciclo, quando a caçambada não é completa”, explicou um dos técnicos.

Ocorre que essa intervenção poderia ser evitada. Com um estudo prévio bem feito sobre os equipamentos que seriam combinados, não haveria ciclo pela metade. Vou explicar: se for dimensionado um caminhão com capacidade de receber 16 toneladas de carga e uma pá-carregadeira com capacidade de carregar 4 toneladas por caçambada, em quatro ciclos completos o caminhão estaria cheio e o operador não precisaria intervir para dosar a última caçambada.

Juntando essa possibilidade com a condução autônoma – algo que já é realidade, inclusive no setor de equipamentos pesados para construção e mineração – desenha-se o caminho para uma operação independente de seres humanos e com produtividade constante. Quando percebi essa possibilidade e pensei no futuro da minha filha é que temi, de fato. Imaginei que, se por ventura a LuvaBella fosse recrutada para montar essas combinações de ciclo de carregamento na mineração ou construção? Pior: e se a LuvaBella 2 passasse a gerenciar várias LuvaBellas capazes de criar vários ciclos em diferentes situações de carregamento? E se a Luva Bella 3…