A Trimble caminha para ser a Intel do mundo da construção. Para entender a analogia, lembramos que a Intel foi criada na Califórnia por dois físicos que queriam fornecer módulos de memória para computadores. A solução evoluiu até que os microprocessadores desenvolvidos equipassem os computadores da IBM e depois grande parte dos computadores do mundo. A Intel, portanto, nunca foi fabricante de computadores. Mas virou o indispensável cérebro deles.
A Trimble também não fabrica escavadeiras, pavimentadoras, tratores, motoniveladoras ou locomotivas. Mas os seus sistemas estão em vários desses equipamentos, endereçando a digitalização em setores da infraestrutura pesada.
Trimble Inside
Não é por menos que a Trimble está em vários eventos de infraestrutura no Brasil e no mundo. Nesta semana está na Concrete Show, em realização em São Paulo e com cobertura do InfraROI.
Ela demonstra soluções que vão de BIM (Building Information Modeling) a softwares de gestão operacional e estudos de viabilidade para construção de obras de longos traçados, como rodoviárias e ferroviárias. Mais do que isso, ela tem migrado as informações desses sistemas para os computadores de bordo dos equipamentos pesados, permitindo que esses ampliem o “nível de conhecimento” da obra em realização e sejam mais produtivos, independentemente da qualidade do operador.
“A adesão às soluções que proporcionem redução de custos e aumento de produtividade precisa estar obrigatoriamente no plano de negócios das empresas do setor. É preciso tecnificar para lucrar”, defende Fátima Gonçalves, diretora de novos negócios da empresa no Brasil. Ela traz exemplos práticos dessa defesa.
Pavimentação digitalizada
Um deles é a duplicação da BR 163 no Paraná, orçada em R$ 600 milhões. São 74 km de pavimento rígido de concreto, numa faixa de 7,2 metros de largura. O concreto foi opção da construtora Sanches Tripolini, executora da obra, que busca maior durabilidade ao longo da operação da via nos próximos 20 anos. “Eles pensaram fora da caixinha e avaliaram que, somando o custo de obra com o de manutenção ao longo desse período, a pista de concreto era melhor e mais econômica”, pontua Fátima.
Nessa obra, a tecnologia da Trimble foi utilizada para automatizar a pavimentadora, elevando a produção que era de 400 metros por dia para 1,3 mil m/dia. “Há outros ganhos, como a eliminação da microfresagem. Só com isso, contabiliza-se uma economia de 1,2 milhão de dólares”, diz Fátima. A quantidade de manobras do caminhão basculante que alimenta a pavimentadora também foi reduzida em cerca de dez vezes, e isso significa redução no consumo de combustível, explica a especialista.
Vibroacabadora 3D revitaliza pista no Aeroporto de Curitiba
A revitalização da pista auxiliar de pousos e decolagens do Aeroporto Afonso Pena, na região metropolitana de Curitiba (PR), é outro caso onde foi utilizada uma vibroacabadora automatizada em terceira dimensão com tecnologia da Trimble. A solução 3D analisa com precisão a necessidade de asfalto a ser lançada. E isso em milésimos de segundos e ininterruptamente, o que garantiu a precisão de 5 mm para a capa asfáltica. A produtividade mais que triplicou, passando de 300 m/dia para mais de mil m/dia.
Tecnologia embarcada para terraplanagem
Em máquinas de terraplanagem, a Trimble equipa os modelos mais modernos de vários fabricantes. Entre eles, a Caterpillar, com quem tem uma joint venture estabelecida e chamada Virtual Site Solutions. Essa empresa é dedicada ao desenvolvimento de softwares e design de produtos. Algumas das soluções desenvolvidas por ela foram reportadas pelo InfraROI recentemente, como o Cat Grade, que mantém padrões de angulação das lâminas de tratores de esteiras para reduzir a dependência da habilidade do operador. Em testes da Caterpillar, essa tecnologia melhorou o planeamento de superfície com tratores de esteiras em 39%, em média. Isso comparado a operação totalmente manual por operador pouco experiente.
Para Fátima Gonçalves, a produtividade pode ser cinco vezes maior, quando o sistema em terceira dimensão é adotado na íntegra.
A tecnologia da Trimble está sintonizada com a parte eletrônica do equipamento. Na Caterpillar, trata-se do ECM (Eletronic Control Model), que disponibiliza as informações de forma gráfica no display da cabine. Os sensores avaliam a posição da máquina em relação à lâmina e fazem as indicações para que o cilindro hidráulico mantenha o ângulo indicado à operação. “Não é necessário ter uma estação base ou laser para fazer o prisma, nem mesmo comprar hardware, software ou equipamentos adicionais. Também não tem nada para remover da máquina no fim do dia”, diz Leandro Amaral, especialista de aplicação de produto para tratores de esteiras da Caterpillar.
Nas motoniveladoras mais modernas (Série M) há diversos níveis de soluções para garantir angulação da lâmina e maior produtividade no nivelamento de terrenos. O Cat Grade com Cross Slope (inclinação transversal, na tradução literal) é o mais avançado. Trata-se de um sistema integrado que automatiza a inclinação da lâmina permitindo que os operadores atinjam o nivelamento mais rápido e com maior precisão. Veja material especial sobre as soluções de digitalização e conectividade da Caterpillar aqui.
Projetos com o sistema Quantm
Antes mesmo da terraplanagem, a Trimble atua no estudo de viabilidade de projetos com o sistema Quantm. Ele desenha mais de 40 traçados possíveis para obras rodoviárias ou ferroviárias.
Segundo Fátima Gonçalves, o sistema pontua origem e destino, inclinação, raios e outros parâmetros para sugerir não só os traçados como as necessidades de túneis e obras de arte especiais que encarecem a obra. “O estudo é completo, com condições operacionais, incluindo quantidade de faixas e velocidade máxima para a futura pista. Ele também considera as zonas de exclusão pré-estabelecidas (reservas ambientais, por exemplo) e gera os traçados longe delas”, explica a especialista.
As informações adquiridas pelo Quantm podem ser imputadas posteriormente nos equipamentos de terraplanagem, digitalizando a execução e, com isso, reduzindo a dependência das habilidades dos operadores e melhorando o controle de custos e recursos de cada equipamento pesado da operação.