Alemanha registra recorde de energia renovável

DW Brasil – 13.01.2020 – Em 2019, 46% da eletricidade na Alemanha veio de fontes renováveis, 9% a mais do que no ano anterior. Ao mesmo tempo, o consumo de carvão caiu mais de 20%. Mesmo assim, país não deverá alcançar metas climáticas de 2020. Nunca houve tanta eletricidade verde na rede alemã como em […]

Por Redação

em 13 de Janeiro de 2020

DW Brasil – 13.01.2020 –

Em 2019, 46% da eletricidade na Alemanha veio de fontes renováveis, 9% a mais do que no ano anterior. Ao mesmo tempo, o consumo de carvão caiu mais de 20%. Mesmo assim, país não deverá alcançar metas climáticas de 2020.

Nunca houve tanta eletricidade verde na rede alemã como em 2019. De acordo com uma análise do Instituto Fraunhofer de Sistemas de Energia Solar ISE, a participação de energias renováveis no mix energético alemão foi em média de 46%, chegando até a 65%, em diversos dias.

O declínio significativo na porcentagem do uso do carvão foi útil para a proteção climática. Comparado com o ano anterior, a participação na Alemanha da eletricidade proveniente do linhito (carvão de superfície) caiu 22%, e do carvão de pedra, 33%.

A geração de eletricidade a partir do carvão diminuiu na Alemanha por vários motivos. Como ventou muito em 2019, produziu-se mais energia eólica e consumiu-se menos eletricidade proveniente do carvão. Esta se tornou bastante mais cara e, portanto, menos lucrativa, devido ao aumento de preço dos certificados de CO2, de uma média de 16 euros por tonelada, para 25 euros em 2019.

Como as usinas a gás emitem menos dióxido de carbono, essa forma de geração de eletricidade se tornou mais lucrativa para os fornecedores da Alemanha e do exterior, suprimindo assim a geração de energia por meio do linhito e do carvão de pedra.

Segundo uma avaliação inicial do AG Energiebilanzen (Grupo de Trabalho de Balanços Energéticos – AGEB), particularmente esses efeitos foram responsáveis pela redução das emissões de CO2 na Alemanha em 50 milhões de toneladas, ou 7%, em relação ao ano anterior.

A ministra alemã do Meio Ambiente, Svenja Schulze, diz estar satisfeita com essa tendência e enfatiza o sucesso de medidas políticas como o fechamento acordado de usinas a carvão e a reforma do comércio europeu de emissões.

Atualmente a eletricidade proveniente do carvão está mais cara, e as alternativas favoráveis ao clima são mais atraentes: “Agora tudo depende de a coalizão de governo criar as condições legais para a expansão da energia eólica e solar”, alerta a ministra alemã do Meio Ambiente. “Aqui me preocupa já termos perdido tempo demais, colocando em risco, assim, tanto oportunidades de proteção climática  quanto empregos na indústria eólica.”

A tendência a aumentar as energias renováveis e reduzir a geração de eletricidade à base de carvão está “na direção certa”, confirmou Claudia Kemfert, professora de Economia Energética no Instituto Alemão de Pesquisas Econômicas (DIW), em entrevista à DW.

Ao mesmo tempo, porém, Kemfert também alerta contra uma imagem enganosa: “A expansão da energia eólica parou quase completamente, são necessárias medidas urgentes para evitar uma quebra completa da produção de eletricidade verde. Caso não se reaja, paira sobre a Alemanha a ameaça de uma lacuna nesse setor.”

O governo da chanceler federal Angela Merkel prometeu reduzir as emissões de CO2 em 40% até 2020, em relação a 1990. De acordo com a estimativa preliminar do AGEB, até 2019 a redução das emissões carbônicas foi de 35%. Na Alemanha, o tráfego é motivo de preocupação para especialistas climáticos. As vendas de diesel, gasolina e querosene continuaram a aumentar em 2019, de acordo com a AGEB.

“Principalmente os setores de transporte e construção têm que contribuir mais para reduzir as emissões”, enfatizou Kemfert. “Os transportes ferroviário e público devem receber um incentivo significativamente maior. Também precisamos de uma cota vinculativa para carros elétricos no licenciamento de novos veículos, da expansão da infraestrutura da rede de recarga, de um endurecimento dos limites de emissões da União Europeia e de um pedágio climático”.

Quem dirige muito e emite muito dióxido de carbono ou material particulado, “deve arcar futuramente com os custos sociais para o meio ambiente e a saúde”, diz Kemfert. Para o diesel, gasolina e gás natural, o preço fixado pelo governo alemão de 25 euros por tonelada de CO2 a partir de 2021 e um aumento gradual para 55 euros até 2025 “segue na direção certa”, no entanto ele “deve ser elevado ainda mais”: “O pacote de proteção climática deve ser reforçado em todas essas áreas”, reivindica Kemfert.

A Alemanha ainda poderá alcançar a prometida redução de emissões em 2020, se houver uma “reversão maciça” de sua política, afirma Tina Löeffelbein, porta-voz do Greenpeace, pois a “chave decisiva aqui é a desistência consequente do particularmente poluente carvão de superfície”.

Para a organização ambiental Germanwatch, as cifras atuais “são uma boa notícia à primeira vista. É encorajador que a altamente industrializada Alemanha extraia agora quase metade de sua eletricidade de fontes renováveis, com efeitos colaterais positivos para a economia”, aponta Oldag Caspar, especialista em política climática europeia na Germanwatch.

No entanto, ressalta, a expansão da energia solar e eólica da Alemanha poderia e deveria ter sido significativamente mais rápida para que se alcançassem as metas climáticas estabelecidas, “o teto para o subsídio da energia fotovoltaica e a má gestão do governo alemão na expansão da energia eólica retardaram o crescimento de fontes renováveis”.

Segundo Kemfert, “se mudanças maciças forem feitas”, ainda seria possível alcançar a meta de redução de 40% das emissões de CO2 em relação a 1990. Para isso, “o ritmo de expansão das energias renováveis teria que ser pelo menos quadruplicado, a eliminação progressiva do carvão ser iniciada, termelétricas antigas e ineficientes, imediatamente desativadas. A produção de energia a carvão deveria ser reduzida, e novas minas a céu aberto, proibidas”.