Mauricio Alvarenga – 03.11.2020 –
Quando vemos um navio porta contêiner no mar ou parado no terminal portuário, o que enxergamos a olho nu é um monte de caixas metálicas. Ou, para quem já é um pouco mais familiarizado, diversos contêineres empilhados. Mas, afinal, que tipo de mercadoria você supõe que os contêineres carregam?
Para começar, essa é uma dúvida universal. Até nossa própria tripulação, pessoas que estão embarcadas em nossos navios, muitas vezes não sabem o que tem lá dentro. Fui questionado outro dia, por exemplo, por nosso diretor de operações, se tínhamos uma lista de tudo o que transportamos. O objetivo? Matar a curiosidade de quem coloca, tira e faz com que essas caixas cheguem até às indústrias, aos consumidores finais.
Se formos pensar na indústria brasileira e nas mercadorias que consumimos todos os dias em nossas casas, no tamanho e no espaço físico que elas ocupam hoje, praticamente 90% do que é produzido no Brasil, conseguimos transportar em navios, dentro dos contêineres. Isso inclui qualquer tipo de produto, desde os que são cruciais para abastecer a população, como os que estão dentro da categoria alimentos e bebidas, inclusive refrigerados, até itens pertencentes a um segmento um pouco mais complexo, como o químico e de cargas perigosas.
Então, nós transportamos de tudo dentro dos contêineres. E esse transportar de tudo só depende de como essa carga é acomodada. Ou seja, desde que ela fique armazenada dentro do compartimento de forma capaz de garantir tanto a segurança do produto, como das embarcações e das pessoas que fazem parte da tripulação.
Claro que tem alguns segmentos com maior “vocação” e que estão na cabotagem há alguns anos, Alimentos, Bebidas, Siderúrgico, Construção Civil. Há outros que possuem uma maior resistência a vir para este modal, por exigirem um atendimento e serviço com nível de acuracidade muito maior, ou que envolvem o transporte de perecíveis, por exemplo. Um segmento promissor e que já está se adaptando a essa realidade são os varejistas, atacados, supermercados, que atendem ao consumidor final. Essas empresas passaram a usar a cabotagem com maior intensidade faz uns dois anos. E isso tem se intensificado cada vez mais.
O importante é que, independente do tipo de mercadoria que você suponha que os contêineres carregam, o que posso afirmar é que eles são a maneira mais segura que existe para o transporte de quase todo tipo de carga. Além da redução dos custos logísticos, já que os contêineres podem ser transferidos rapidamente para diferentes modais de transporte, evitam-se acidentes e prejuízos comuns ao manuseio direto dos produtos. Não podemos esquecer que o índice de avarias nas cargas transportadas pela Cabotagem é muito pequeno em comparação aos danos causados pelos outros modais. A carga também fica muito menos exposta aos riscos de segurança nas rodovias, o que se traduz e um índice de roubo de cargas muito baixo.
Para finalizar, vale lembrar que a Cabotagem hoje no Brasil é bem estruturada. Os navios porta contêineres que operam são eficientes e carregam grandes volumes de cargas, variando a capacidade, entre 1.700 a 5.100 TEUs (equivalente ao contêiner de 20 pés), em cada um desses navios. Os serviços são regulares e cobrem toda a costa brasileira, permitindo que os produtos produzidos no Sul e Sudeste do país sejam entregues no Nordeste e Norte e vice versa. Para exemplificar, atualmente temos quatro navios saindo de Santos em direção ao Nordeste toda semana. Ou seja, dia sim e dia não, tem um gigante dos mares partindo do Sudeste carregado com os mais diversos tipos de produtos e que chegarão aos as indústrias e lares brasileiros.
Certamente, para quem trabalha com logística e enfrenta diariamente os desafios deste país continental e ainda não teve a oportunidade de experimentar a cabotagem, garanto que vale a pena.
Mauricio Alvarenga é diretor comercial da Log-In Logística Intermodal.