Aldo Macri e Edson Costa (*) – 26.04.2021 –
Mesmo que ainda não esteja perdendo vendas e consumidores, deve-se desafiar a mudança, pois existem inúmeros exemplos de empresas que perderam mercado para uma nova entrante que entrega um serviço ou uma experiência melhor e com um custo menor
A transformação de negócios através da digitalização, mudanças de hábitos de consumo e tecnologias emergentes, vem impactando todos os setores da economia, inclusive afetando até segmentos tradicionais como o de transporte de passageiros. Esse mercado é bem tradicional e possuem empresas já estabelecidas. Agora, com a nova economia e digitalização, começa-se a ter mudanças significativas.
As operações de transporte de passageiros contam com uma série de regulamentações para que as empresas possam operar. Durante décadas, foi o sistema modal de transporte mais procurado para viagens intermunicipais e interestaduais. Entretanto, mesmo antes da pandemia, este mercado já sofria com a entrada de novos competidores, como aplicativos de fretamento de ônibus e de caronas, além da ampliação do transporte aéreo e do mercado de locações de automóveis. Esses são fatores que apontam para a necessidade de revisão do modelo de negócio.
Diante deste cenário cheio de alternativas, pensando na experiência do consumidor, e com as rodoviárias não recebendo o mesmo processo de digitalização como os aeroportos, este nicho acabou sendo desvalorizado. Números apontam que, nos últimos cinco anos, ocorreu um declínio de mais de 50% no volume de passageiros de transporte rodoviário. Dessa forma, consequentemente, as receitas das empresas que operam nesse segmento sofreram o impacto, que foi potencializado no ano passado com a queda do turismo devido à pandemia.
Pensando nas necessidades do consumidor atual, ao fazer uma viagem de ônibus, as operadoras que atuam no transporte de passageiros necessitaram fazer uma série de melhorias e, com a transformação do negócio ocorrendo gradativamente, pode-se perceber redução de custos e melhoria na experiência do consumidor. Além disso, essas empresas conseguiram resolver questões como possibilidade de comercialização de passagens por novos canais, digitalização do processo de compra de bilhetes e do check-in como formas de melhorias no processo estrutural que vêm acontecendo neste momento. Outros fatores importantes que estão sendo implementados neste segmento estão relacionados às integrações com parceiros, integração entre sistemas, ampliação de novos serviços, precificação dinâmica, comparação de preços e aproveitamento de assentos ociosos entre as operadoras.
Mantendo a análise sobre o segmento de transporte de passageiros, as transformações dos negócios implicam em diversas mudanças, principalmente, na questão de infraestrutura. Na cidade de Curitiba, por exemplo, existe uma plataforma digital que faz a orquestração do ecossistema de transporte de passageiros. Esse sistema, atrelado ao conceito de cidade inteligente que existe por lá, traz inúmeros benefícios para os passageiros locais e visitantes, e também para as operadoras de transporte.
Isto posto, identifica-se que a transformação do negócio se faz necessária para que as empresas não caminhem em direção ao vale da morte. Essa análise deve ser aplicada a outros segmentos de negócios e deve ser realizada por todos os líderes e gestores que conduzem os negócios. Mesmo que ainda não esteja perdendo vendas e consumidores, deve-se desafiar a mudança, pois existem inúmeros exemplos de empresas que perderam mercado para uma nova entrante que entrega um serviço ou uma experiência melhor e com um custo menor.
(*) Aldo Macri é sócio-diretor de clientes e mercados da região Sul pela KPMG e Edson Costa é sócio de auditoria no Paraná pela KPMG.