Carlos Eduardo Sedeh (*) – 30.04.2021 –
Movimento começou com a infraestrutura de torres, passou pelos data centers e chega à rede óptica
A fibra óptica, base para o 5G e o melhor meio físico para suportar as novas tecnologias emergentes, se tornou o centro de uma relevante mudança no modelo de negócios das empresas brasileiras de telecomunicações. Aproveitando o momento de alta liquidez em todo o mercado mundial, elas iniciaram seu processo de carve-out, que consiste em separar as redes e infraestruturas de fibra óptica das companhias que prestam serviços de telecom, para fazer capitalizações diferentes, com objetivo de monetizar esses ativos e reduzir seu endividamento.
O movimento de desassociar os ativos non-core começou com as infraestruturas de torres (ERBs), que foram vendidas para empresas “torreiras”, responsáveis pela administração e operação desses ativos, passando pelos data centers e agora está no segmento das redes de fibra. O modelo chamado de InfraCo, já acontece de forma madura em outros mercados, como EUA, Europa e Ásia.
Por aqui, há uma característica peculiar, que colaborou com o design desse cenário dos negócios. Com a privatização, em 1997, as incumbentes herdaram toda a estrutura legada de rede existente, como fibra, dutos e cobre. Então, por falta de melhor opção, passaram a ser donas de ativos non-core (incluindo terrenos, edifícios, entre muitos outros), além do core, que é a prestação do serviço em si. Agora, seguimos para um modelo mais parecido com o internacional.
Entendo que faz muito mais sentido uma empresa de infraestrutura explorar de forma dedicada esses ativos. O retorno do capital empregado é diferente na comparação com uma operação de serviços, no que diz respeito a taxas e riscos envolvidos Hoje, as empresas usam as redes para prestar serviços aos seus clientes e até comercializam para terceiros, mas isso se transforma marginalmente em valor para os acionistas.
Com uma abordagem financeira, é muito benéfico separar as companhias entre serviços e infraestrutura, o que proporciona, inclusive, a atração de investidores diferentes para desalavancar a companhia. Para se ter uma ideia, empresas de telecom focadas em serviços, valem em média de 5 a 6 vezes o Ebitda – lucro antes da depreciação, pagamento de impostos, amortização e juros.
Já as organizações de infraestrutura, não raro, chegam a valer até 20 vezes o Ebitda. Por isso, esse desenho societário deve ser considerado como uma opção.
O cenário parece bastante promissor, mas é preciso lembrar que para a InfraCo ser um negócio efetivo e real, é necessário que essas redes sejam neutras, ou seja, que a companhia de infraestrutura possa oferecer as mesmas condições de prazo e preço a qualquer outra empresa, de forma isonômica. Bem como, que não dependam quase que integralmente das receitas dos serviços que prestam à empresa de telecom de onde vieram. Assim, serão grandes as chances de sucesso como um negócio autônomo.
(*) Carlos Eduardo Sedeh é CEO da Megatelecom e vice-presidente Executivo da Telcomp (Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas).