Redação – 14.05.2021 –
Iniciativas vão desde coprocessamento ao concreto verde e focam ainda em eficiência energética
Reduzir a pegada do carbono tornou-se quase um mantra para a indústria do cimento, cuja meta é reduzir as emissões para 375 quilos de CO2 por tonelada de cimento até 2050 segundo a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP). As ações incluem várias frentes, inclusive o coprocessamento. Um exemplo é o uso de resíduos urbanos e industriais como substitutos dos combustíveis fósseis não renováveis: por meio da incineração, o lixo é aproveitado no abastecimento dos fornos de cimento, o que torna o processo sustentável e livre da emissão de carbono.
“Precisamos dinamizar o coprocessamento de resíduos, uma prática disseminada em diversos países, que aumenta a competitividade do setor e está integrada à economia circular e à Indústria 4.0. O Brasil é um país que ainda enterra energia”, avalia Paulo Camillo Penna, presidente da ABCP. De acordo com ele, cerca de 1.257 milhões de toneladas de resíduos foram coprocessadas no Brasil em 2018. Penna acredita que a utilização do resíduo doméstico como fonte de energia contribuirá para a erradicação dos lixões e para o aumento da vida útil de aterros sanitários.
A Votorantim Cimentos é um dos players envolvidos com o processo e vem trabalhando na substituição de combustíveis fósseis e na redução do clínquer no processo produtivo do cimento. Segundo a companhia, a indústria cimenteira responde, em escala global, por cerca de 7% de toda a emissão de dióxido de carbono (CO²) e por 7% do uso de energia industrial. O alto índice é justificado pelo setor ser responsável pela substância manufaturada mais consumida no mundo, o concreto.
Fabio Cirilo, gerente de Sustentabilidade e Energia da empresa, avalia que matérias-primas como o filer calcário e a argila calcinada são itens importantes na agenda estratégica da Votorantim, que visa aumentar a eficiência do uso de clínquer na produção do cimento. Mas, ele lembra que alternativas já utilizadas para reduzir o fator clínquer, como as escórias siderúrgicas e cinzas termelétricas, devem desaparecer no longo prazo. A substituição de combustíveis fósseis (coque de petróleo) por biomassas como fonte de energia é outro foco da Votorantim segundo ele.
Até caroço de açaí entra no processo como combustível dos fornos
Um exemplo prático é a fábrica da Votorantim na cidade de Primavera (Pará), que passou a coletar o caroço do açaí para transformá-lo em biomassa, que é utilizada como combustível. São substituídas 3 mil toneladas/mês do coque de petróleo por 6 mil toneladas de caroço/mês. O resultado é a redução da utilização do combustível fóssil em 40% para a geração de energia. Hoje, a unidade ultrapassou as 100 mil toneladas de caroços utilizados por ano, o que reduz em 135 mil toneladas/ano de C0² nas emissões diretas do forno. Se for considerada a degradação da matéria orgânica (caroço) que estaria enterrada, caso não fosse reutilizada, ainda há uma redução na emissão de 230 mil toneladas/ano de gás metano na atmosfera.
Além do cimento em si, a indústria também avança para sustentabilidade do concreto e o caso da LafargeHolcim é uma das iniciativas do setor. Nessa terça (11/5) a empresa fez o pré-lançamento do seu Concreto Verde (EcoPact), da marca Holcim, que reduz em 50% as emissões de C02, sem afetar o desempenho do produto em relação ao produto convencional. O lançamento aconteceu na edição online do Concrete Show, cujo tema foi sustentabilidade.
Segundo José Abreu, gerente de Produtos e Assessoria Técnica da companhia, a empresa também tem trabalhado em programas de reaproveitamento de resíduos. Em novembro de 2020, ela foi a primeira da área de materiais de construção a assinar o compromisso Net Zero, cujo objetivo é zerar as emissões líquidas de carbono até 2050. Abreu destaca que a escala de mitigação de emissões do concreto verde pode variar entre 30% e 90%, dependendo da tecnologia utilizada, da combinação de agregados e do tratamento. Embora em outros países a LafargeHolcim trabalhe com concreto verde a partir de 30% de redução de emissões de CO2, no Brasil, a empresa estipulou redução mínima de 50%.