Redação – 24.02.2022 – Urbanista explica como esse hábito, que privilegia a praticidade, não é nem um pouco sustentável
De acordo com o arquiteto e urbanista Paulo Renato Alves, trocar um jardim ou um gramado na frente de casa por um quintal cimentado pode ser mais prático, mas não é mais sustentável. Inclusive, ele diz que é possível que traga problemas para o dono da casa e para a cidade.
Segundo ele, isso afetaria a permeabilidade do solo, um problema que atinge os grandes centros urbanos que reduzem drasticamente a cobertura vegetal e impermeabiliza o solo com asfalto e concreto. Dessa forma, um quintal cimentado contribui para a ocorrência de enchentes e enxurradas nos períodos de chuva; e para a escassez de água e aumento excessivo de temperatura nos tempos de seca.
“A área permeável no terreno é responsável pelo processo de drenagem das águas das chuvas e o abastecimento dos lençóis freáticos. Quando essa água da chuva cai e não encontra um solo permeável para absorvê-la, ela não tem para onde ir, e acaba indo para o asfalto e virando enxurradas ou alagamentos”, esclarece.
Alves também explica que ter uma cobertura vegetal maior e mais árvores também ajuda no controle da velocidade com que essa água chega ao solo, já que as folhas irão aparar as gotas da chuva e essa corrente pluvial terá menos velocidade, evitando a ocorrência de enxurradas fortes que sobrecarregam e danificam as redes pluviais.
Períodos de seca
Também na época de seca, a falta de áreas permeáveis e com cobertura vegetal é um problema, pois agrava os efeitos típicos desse período, como calor, baixa umidade e escassez de água. “A maior parte da água que usamos vem dos lençóis freáticos, principalmente durante as épocas de estiagem, quando mais precisamos de água. Esses aquíferos subterrâneos alimentam as nascentes de rios e os poços artesianos que usamos”, explica o urbanista.
À medida que se tem mais áreas gramadas e com árvores, seja um simples quintal ou um parque público, isso diminui significativamente a sensação térmica dentro do que se conhece como microclima local.
Já no caso de chuvas, um quintal cimentado impede que a água tenha para onde escorrer. “Ela vai para o chão, sai desse terreno e vai para a rede pluvial, que não suporta e acaba danificada pelas enxurradas. Então essa água não volta para o lençol freático. Portanto, além do uso exagerado, há uma interrupção desse ciclo natural da água, o que com tempo reflete nesse desequilíbrio hídrico que estamos vendo hoje”, conclui Alves.