Luiz Antônio dos Santos Pinto* – 28.03.2022 –
A crise hídrica e energética de 2021 alertou novamente os brasileiros sobre os riscos de apagão, preocupando os setores produtivos e afetando a economia. Também impactou de modo significativo o orçamento das famílias, com a majoração das contas de luz, que alimentou a inflação. Atender à demanda de eletricidade é um desafio agudo a ser enfrentado pelo País, ante o quase esgotamento do potencial hidrelétrico e o grau ainda relativamente baixo de desenvolvimento de fontes alternativas.
À parte de todo esse complexo cenário está o aquecimento solar, único sistema absolutamente independente da rede elétrica, autossuficiente e capaz de atender a amplas e diversificadas aplicações. Consiste na utilização do calor emitido pelo Sol para o aquecimento de outras superfícies e da água. Além de sustentável, é eficiente para indústrias, grandes polos de produção, condomínios, empresas e residências, funcionando bem em piscinas, chuveiros e torneiras.
Trata-se de uma tecnologia 100% brasileira, cuja estrutura é composta pelos coletores solares (placas) e um reservatório térmico. Às vezes, confunde-se esse processo com a energia fotovoltaica, que consiste na geração de eletricidade a partir da energia solar, mas é atrelada à rede elétrica e tem impacto na conta de luz. Os aquecedores solares, porém, são cada vez mais conhecidos pelos brasileiros e se tornam mais acessíveis. Podem ser usados em qualquer casa ou edificação mesmo que ainda não tenha encanamento para água quente, como nas cozinhas de restaurantes, hotéis, pousadas e residências, nos tanques de lavagem de roupas e nos banhos.
Os aquecedores solares de água são até quatro vezes mais eficientes do que outros equipamentos capazes de aproveitar energia solar e atendem a aplicações residenciais de baixa até alta renda, comerciais, industriais e serviços. São a melhor alternativa para evitar o consumo dos chuveiros elétricos, que sobrecarregam muito o sistema no horário de ponta (entre 17 e 21 horas), representando mais de 7% de toda a eletricidade gasta no Brasil e cerca de 37% da residencial, segundo dados do Balanço Energético Nacional da Empresa de Pesquisa Energética (EPE, 2021) e Pesquisa de Posse de Hábitos de Uso e Consumo (Eletrobrás, 2019).
A tecnologia é capaz de ajudar o País a evitar blecautes, diminuindo o consumo de eletricidade principalmente no horário de ponta. Os equipamentos geram energia térmica durante o dia e a armazenam para ser consumida também à noite, funcionando como uma bateria. A produção acumulada correspondente de eletricidade dos aquecedores solares de água instalados no Brasil é de aproximadamente 13,5 GW, o que equivale a quase toda uma usina de Itaipu, que é de 14GW.
Ampliar o uso dos aquecedores solares seria uma contribuição relevante ao Brasil, reduzindo o consumo nacional de eletricidade principalmente nos horários de ponta, e para as famílias e empresas, que teriam grande economia nas contas de luz. Os aparelhos proporcionam água quente nas torneiras e banhos quentes mesmo quando ocorrem apagões, ao contrário de qualquer tipo de aquecimento gerado a partir da rede elétrica. Assim, seria importante a incorporação dos aquecedores solares de água no planejamento da matriz energética nacional, sua ampliação e diversificação. É difícil entender por que a medida ainda não foi adotada pelas autoridades do setor.
*Luiz Antônio dos Santos Pinto é engenheiro e presidente da Abrasol (Associação Brasileira de Energia Solar Térmica).