Nelson Valêncio – 05.09.2022 – Com públicos-alvo diferentes, as duas gigantes apostam na qualidade diferenciada e no apelo de sustentabilidade da areia produzida industrialmente em pedreiras
O mercado de areia industrial acaba de ganhar duas vitrines importantes no Brasil: a ativação das plantas da LafargeHolcim e da Votorantim Cimentos. Também chamada de areia de brita, a areia industrial tem maior valor agregado em relação a outros produtos das pedreiras como a brita e o pedrisco. Isso acontece pela melhor qualidade – menor umidade e granulometria padronizada, entre outros aspectos – e em função da sustentabilidade, ao substituir a exploração de areia natural retirada de rios e de cavas no solo. A areia natural também pesa no bolso dos compradores pelos custos de transporte, uma vez que geralmente está distante dos centros consumidores.
Focada nos produtores de argamassa de qualidade, a LafargeHolcim montou sua fábrica de areia industrial na sua unidade de Cajamar, na Região Metropolitana de São Paulo. Uma das quatro do grupo no estado, a planta já produz brita e pedrisco para o mercado de agregados e tem capacidade instalada para 1 milhão de toneladas/ano. Com 250 mil toneladas/ano, a planta de areia industrial foi desenhada para atender os fabricantes de argamassa colante, mas pode ter outros alvos como os produtores de pré-moldados de concreto segundo Daniel Curi, gerente Industrial de Agregados da multinacional europeia.
Além de apostar em quatro tipos de novos produtos – classificados como finos e superfinos – a LafargeHolcim montou um projeto que permite a personalização da matéria-prima. Para quem conhece o mercado tradicional de agregados minerais, a proposta é inovadora. A empresa também ganha com a proximidade com os grandes produtores de argamassas, que são praticamente vizinhos da unidade. “Eles podem ser atendidos logisticamente pelo Rodoanel, evitando a passagem pela capital paulista, a distâncias médias de 50 km da unidade”, argumenta Sérgio Pereira, gerente Comercial de Agregados da LafargeHolcim.
Testes de qualidade em conjunto com produtores de argamassa colante
Para definir como seria a planta, a empresa fez uma série de testes em parceria com os clientes potenciais, validando o que seria o melhor tipo de areia para eles. “Estamos falando em argamassas colantes, que demandam uma areia de qualidade muito superior e que remunera um produto com granulometria estabilizada, sem contaminação e com 20% a menos de umidade”, detalha Curi. Segundo ele, a entrega nesse nível é garantida porque a nova planta opera dentro de um galpão fechado e obedece a um processo de controle industrial que controla a constância da granulometria, e com análises químicas a partir de amostragem na linha de produção. A contaminação é evitada pela segregação e pelos testes contínuos dos lotes.
Operacionalmente, a fábrica de areia industrial começa no final da produção da atual planta de agregados. A alimentação é feita a partir de uma pilha pulmão de finos que passaram por uma etapa de peneiramento. Essa matéria prima abastece um moinho de martelos e, em seguida, é enviada para uma peneira vibratória de alta frequência. Automatizada, a planta pode entregar areias industriais com granulometrias personalizadas, um dos diferenciais para o mercado de argamassas colantes. A personalização pode envolver granulometrias diferentes dos quatro produtos padrão atuais ou mesmo um mix formulado pelos clientes.
Além do feedback dos clientes, a unidade brasileira da LafargeHolcim contou com o suporte global da corporação que já fabrica areia industrial fora do Brasil. A definição da rota tecnológica teve ainda o apoio do parceiro local de equipamentos. O projeto que combina o moinho de martelos e a peneira vibratória de alta frequência atendeu o objetivo da empresa e deve se repetir na segunda linha de produção. A expansão foi pensada antes da partida da primeira linha e deve dobrar a capacidade instalada para 500 mil toneladas de areia/ano. O projeto também poderá ser ampliado para outras pedreiras do grupo, as quais também exploram calcário.
O apelo da areia industrial vai muito além da sustentabilidade. Mais próxima do centro consumidor, ela também elimina necessidade de secagem comum nas areias naturais para atender o padrão das fabricantes de argamassas ou concreteiras. “Não dá para estimar valores exatos para comparação de custos, mas a economia de energia – secadores – e de combustível – transporte longo – são diferenciais importantes”, argumenta Pereira, da área comercial. “E em termos de qualidade, a diferença é grande porque existem vários controles internos para isso”, complementa.
Com investimentos de R$ 20 milhões, a nova planta para produção de areia industrial da LafargeHolcim permite que a empresa ocupe entre 5% e 10% do mercado de areia industrial potencial segundo o gerente Comercial. Ele lembra ainda que a empresa continua atendendo o mercado de agregados, mas amplia o leque de opções num segmento que passa a demandar mais a produção de materiais mais finos.
Votorantim investe em areia industrial de granito para atender concreteiras
O principal projeto de areia industrial da Votorantim Cimentos envolve a produção de uma “areia especial” – como a companhia chama o produto – cujo posicionamento de mercado é claro: ser uma opção adicional à areia natural e atender as especificações técnicas em alguns tipos (traços) de concretos. “Os demais projetos neste mercado são relacionados ao crescimento da nossa capacidade de produção e da oferta ao mercado para os próximos cinco anos”, adianta Erik Araujo, gerente geral de Agregados da Votorantim Cimentos.
De acordo com ele, a areia especial deve ter o desempenho e performance similar à areia natural, mas com o ganho adicional da redução da emissão de CO2 e um processo de lavra sustentável, uma vez que a extração do granito para a produção da areia permite uma cadeia de recuperação futura da área lavrada. Assim como na LafargeHolcim, a Votorantim fez uma bateria de testes com a areia especial, o que incluiu a produção de concretos bombeados, estruturais e de alto desempenho. Na avaliação do executivo, os resultados obtidos em campo “caminham para os resultados esperados”.
A nova areia da Votorantim Cimentos será produzida na unidade de agregados de Itapecerica da Serra, localizada na Região Metropolitana de São Paulo, que tem capacidade instalada de 250 mil toneladas/ano. “A escolha desta unidade é devido à formação mineral (granito) presente no local, que é mais próxima da areia natural utilizada pelo mercado de concreto”, explica Araujo. Ele também adianta que o projeto envolveu o investimento em um conjunto móvel completo de britador de peneira, entre outros equipamentos, numa parceria com a Metso Outotec e com a Sandvik.
“Este é um mercado em crescimento devido às restrições ambientais para utilização das areias naturais. A principal resistência para uso da areia industrial acontece em localidades em que ainda existe grande oferta de areias naturais”, explica Araujo. “Os pontos técnicos estão a cada dia mais contornados com a produção de areias industriais, as quais melhoram de forma contínua os seus aspectos técnicos de qualidade e aplicação”, finaliza.