Oferta de streaming por ISPs precisa vir acompanhada de olhar para o cliente

Redação – 26.05.2023 – Segundo painelistas, se a proposta é trazer um serviço agregado para o cliente, o ideal é que a oferta seja interessante para ele 

Entre as muitas soluções que buscam trazer mais rentabilidade para provedores de Internet (ISPs), a oferta de streaming de conteúdo é uma das mais apresentadas. No painel “Como o ISP pode monetizar com as OTTs”, realizado hoje (25/5) durante o Encontro Nacional Abrint 2023, a proposta de trazer maior valor agregado para o cliente só pode dar certo com maior conhecimento do cliente pelo cliente. 

Everson Mai, diretor financeiro da Abrint, faz o contraponto de que o provedor não enxerga valor em ofertas de agregadores que aumentam o custo do serviço para o cliente sem trazer retorno financeiro relevante para o ISP. “O provedor não tem interesse em cobrar R$ 89,90 a mais do cliente para ter um retorno de 8% sobre esse valor tendo todos os custos de marketing e de atendimento dessa venda”, explica.  

Carlos Brickman, diretor de Contratos e Distribuição da Simba Content, o provedor passou anos comprando rede no atacado e revendendo no varejo e só tem contato com o cliente na hora da instalação. Agora, o ISP precisa ir além disso em um mercado onde a briga por preço no Mega é agressiva. 

Ele lembra que é preciso entender qual a necessidade do cliente para preparar uma oferta que atenda cada perfil, considerando não só o preço do serviço, mas também o conteúdo. Os combos enlatados, algo muito utilizado no mercado de TV por assinatura, não traz retorno para o ISP. “Às vezes, tudo o que o cliente quer é um canal infantil, os de esporte, algum de filme e a TV aberta”, diz. 

Anúncio para monetização 

Outra opção para rentabilidade do serviço de streaming é o uso de anúncios através de um modelo de negócios chamado FAST (televisão via streaming gratuita suportada por anúncios). Amaury Filho, vice-presidente de Vendas da TVCoins para LATAM, explica que esse modelo permite que provedores ofereçam conteúdo ao cliente gratuitamente e monetizem através dos anúncios ao longo da transmissão. 

Neste caso, ele usa a oferta da TVCoins como parâmetro. A empresa oferece tanto a aplicação para uso do cliente (que pode ser até um app para smartphone quanto para smart TV) quanto a infraestrutura para o armazenamento do conteúdo. Ao provedor, caberá ir atrás do licenciamento de conteúdo para o cliente, enquanto os anunciantes serão agregados pela TVCoins. A receita com os anúncios é dividida entre ISP e TVCoins de acordo com o contrato. 

Segundo Filho, essa proposta traz mais vantagem para o provedor porque não há investimento em infraestrutura e a previsibilidade com os anúncios é maior que a aquisição de clientes. Além disso, o consumo de anúncios é algo que clientes já experimentam em plataformas como o YouTube e já começa a ser experimentada pela própria Netflix.  

Combate à pirataria 

Outra questão é a concorrência desleal que o provedor enfrenta com as TV boxes piratas, que afastam ofertas legítimas de ISPs. Alexandre Britto, presidente da Associação Brasileira de OTT (Abott’s), defende que uma proposta de serviço agregado por conteúdo precisa estar alinhada com um bom atendimento. “O provedor precisa amarrar o suporte que ele presta ao serviço de streaming para mostrar ao cliente que compensa pagar um pouco a mais.” 

Ele lembra que os servidores usados pelas ofertas piratas estão alocados em países no Leste Europeu e na Rússia e trazem muito delay no acesso, afetando a experiência do cliente. Essa questão, junto com um atendimento, precisa ser usada como parte da oferta. 

Já Brickman, da Simba Content, lembra que “com o pirata não se concorre, denuncia”. Para ele, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) já tem atuado bem para bloquear, com rapidez, esse tipo de serviço.