Otacílio Lopes de Souza da Paz* – 30.05.2023 –
No dia 29 de maio é comemorado o Dia mundial da Energia, evento proposto em 1981, em Portugal, e adotado por diversos países, posteriormente. Essa data comemorativa tem como objetivo conscientizar a população sobre a importância do uso racional e sustentável da energia elétrica. Esse recurso é fundamental para a sociedade moderna, contribuindo e muito para o desenvolvimento tecnológico e social. Assim, essa data nos convida a refletir sobre os desafios no uso da energia elétrica, algo essencial, diante da emergência ambiental que enfrentamos.
O início da produção de energia elétrica no mundo foi pautado no uso de recursos naturais não renováveis, ou seja, recursos finitos como petróleo e carvão mineral. A queima desses recursos libera energia, sendo essa convertida em energia elétrica. Isso ocorreu predominante nos países do continente europeu. Territórios que hoje conhecemos como Alemanha e Reino Unido utilizaram e muito a queima do carvão mineral para produção de energia. A disponibilidade desse recurso mineral nas ilhas britânicas foi fator fundamental para o desencadeamento da revolução industrial e, de certa forma, começou a modelar o mundo que conhecemos hoje.
A problemática se instaura no fato que o carvão mineral, ao passar pelo processo de queima, libera poluentes e gases do efeito estufa em nossa atmosfera, como o Dióxido de carbono (CO2), um dos principais gases responsáveis pelas mudanças climáticas que observamos. O mesmo ocorre com a gasolina, produto produzido a partir de petróleo. No início do uso desses recursos para produção de energia, não havia pesquisas e nem discussões sobre os impactos ambientais derivados. Somente na década de 1960, que pesquisadores começaram a analisar a relação entre o aumento da presença do Dióxido de carbono (CO2) na atmosférica e o aumento da temperatura média global.
Desde então, uma série de encontros e acordos climáticos foram estabelecidos entre as nações. Conforme as pesquisas avançavam, ficou claro que as atividades antrópicas, em especial aquelas relacionadas a emissão de Dióxido de carbono (CO2), estavam de fato contribuindo para as alterações nos padrões climáticos do nosso planeta. O mais recente marco foi o Acordo de Paris, em 2015, onde foram estabelecidas metas para limitar o aumento da temperatura global. A produção de energia elétrica está intimamente relacionada as metas do Acordo de Paris, sendo importante que participantes do acordo comecem a transacionar para matrizes energéticas e elétricas renováveis.
Nesse contexto, o Brasil é um exemplo para o mundo. Aproximadamente 83% da nossa matriz elétrica é composta por fontes renováveis, conforme aponta o Balanço Energético Nacional (BEM) de 2022. A maior parte da energia elétrica produzida vem das usinas hidrelétricas (56,8%). É importante destacar que outras fontes renováveis são responsáveis por fatias importantes da produção de energia, como a Eólica (10,6%) e a Biomassa (8,2%). Esse cenário fica ainda mais interessante, quando associamos nossa matriz elétrica com o tamanho da população. Segundo a prévia do Censo Demográfico de 2022, o Brasil possui aproximadamente 208 milhões de habitantes. Assim, temos uma população expressiva, sendo abastecida em sua parte por fontes renováveis de energia.
Claro que o contexto ambiental favorece a escolha da matriz elétrica. O Brasil dispõe de uma impressionante quantidade de recursos hídricos. Contudo, é importante que a comunidade científica continue estudando, propondo e aprimorando outras fontes de energia renováveis, como a maremotriz (movimentos das ondas do mar) e a geotérmica (calor interno da Terra). Um leque maior de possibilidades de fontes renováveis de energia é essencial para democratizar a transição energética para todos os países, algo essencial para que o objetivo dos acordos climáticos seja atingido.
*Otacílio Lopes de Souza da Paz, é geógrafo e Doutor em Geografia. Professor da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional UNINTER.