Guilherme Araújo* – 15.09.2023 –
Com o advento da era digital e o avanço tecnológico contínuo, as cidades estão se tornando cada vez mais inteligentes. A implementação de tecnologias inovadoras, como sensores, dispositivos conectados e sistemas de gerenciamento integrados, oferece às cidades a oportunidade de melhorar a eficiência dos serviços públicos, otimizar o planejamento urbano e oferecer uma vida com melhor qualidade aos cidadãos. No entanto, essa transformação digital traz consigo
desafios significativos de segurança cibernética que precisam ser abordados para garantir a proteção dos dados e de toda a infraestrutura urbana.
As cidades inteligentes estão crescendo globalmente. Segundo a ONU, a população mundial deve chegar em 8,5 bilhões em 2030 e a 9,7 bilhões em 2050, com destaque para países extremamente populosos, como Índia, China e Nigéria. Mesmo países com um maior controle populacional, os desafios de modernização serão igualmente importantes. Essa rápida urbanização cria uma demanda por soluções inteligentes para lidar com os desafios urbanos, como transporte, infraestrutura, energia e serviços públicos. Diante disso, estima-se o crescimento anual médio do mercado global de cidades inteligentes seja de cerca de 19% até 2025. É possível que o setor alcance o valor próximo a US$ 152 bilhões nos próximos anos.
Essas metrópoles dependem de uma infraestrutura de rede segura para funcionar adequadamente com uma ampla gama de dispositivos e sistemas, desde câmeras de vigilância, semáforos automatizados até sistemas de gerenciamento de tráfego. Os controle passam também por serviços como energia e abastecimento. Portanto, eventuais falhas de proteção nesses sistemas pode levar a consequências devastadoras, uma vez que ciberataques direcionados aos serviços públicos podem interromper o funcionamento das cidades ao atacar frentes estratégicas que podem comprometer a segurança de todos os cidadãos.
Além dos riscos imediatos, a falta de uma infraestrutura segura em cidades inteligentes também ameaça a privacidade das pessoas. Com a quantidade crescente de dados pessoais coletados pelos sistemas urbanos, como informações de localização e hábitos de consumo, existe um potencial significativo para o acesso não-autorizado a esses dados. Isso pode resultar em violações de privacidade e até mesmo em crimes cibernéticos, como roubo de identidade, sequestro digital de informações e fraudes financeiras em nomes de terceiros.
Portanto, os desafios de segurança cibernética em cidades inteligentes são diversos e abrangentes, exigindo uma atenção especial das autoridades e um acompanhamento minucioso por parte das empresas e da população como um todo, que pode ser severamente afetada. A manipulação de sistemas de monitoramento, por exemplo, pode comprometer a eficácia dos esforços de segurança pública. Hackers podem alterar feeds de vídeos de câmeras de vigilância, mascarar atividades suspeitas ou desabilitar alarmes, dificultando a detecção e a prevenção de crimes. Infraestruturas críticas, como sistemas de fornecimento de água e energia, sistemas de transporte e serviços de emergência, também podem estar em risco, estando suscetíveis a ataques direcionados e a interrupções significativas, capazes de gerar impactos sociais e prejuízos econômicos.
Outra frente que demanda proteção é a ciberespionagem e o sabotagem para uso indevido de informações. Isso levanta preocupações sérias, começando no nível do indivíduo e chegando até à segurança nacional, podendo prejudicar a soberania de um país. Diante desses desafios, é crucial que as autoridades públicas e os governos adotem medidas efetivas para garantir a proteção dos dados e, consequentemente, a infraestrutura urbana das cidades que estarão cada vez mais conectadas. Entre as questões a serem consideradas, destacam-se:
– Infraestrutura de rede segura: É fundamental implementar uma infraestrutura de rede robusta e segura para proteger a comunicação entre dispositivos e sistemas urbanos. Isso inclui o uso de protocolos de segurança, criptografia e autenticação adequados com uso de soluções de segurança digital;
– Proteção de dados e privacidade: Ter políticas claras e rigorosas de proteção de dados para garantir que as informações pessoais dos cidadãos sejam coletadas, armazenadas e utilizadas corretamente, de forma segura e ética. Isso envolve o cumprimento de regulamentações de privacidade, como a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), implementada no Brasil;
– Conscientização e educação: É essencial alertar cidadãos, empresas e Governos sobre os riscos de segurança cibernética que as cidades conectadas podem ter. O letramento passa por um treinamento especializado de boas práticas e o uso de sistemas de proteção. Isso ajuda a criar uma cultura de segurança para mitigar eventuais problemas;
– Testes de segurança e avaliações regulares: As infraestruturas das cidades deveriam ser submetidas a testes rigorosos de segurança para identificar vulnerabilidades e falhas de segurança, a exemplo do que as empresas estão começando a fazer de maneira rotineira. Além disso, avaliações regulares deveriam ser realizadas simulações para verificar medidas de segurança que precisam ser melhoradas para ampliar a proteção dos sistemas.
Entendo que as cidades inteligentes podem, também, oferecer inúmeras oportunidades para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e impulsionar o desenvolvimento urbano. No entanto, para aproveitar ao máximo esses benefícios, é crucial abordar os desafios cibernéticos e ter a sociedade como um todo unida para garantir uma maior segurança digital. Com a adoção de modernos sistemas de proteção e com todos informados sobre as condutas a serem seguidas, conseguiremos ter um ambiente digital, seguro e sustentável para todos.
*Guilherme Araújo, diretor de Serviços da Blockbit.