João Monteiro – 08.11.2023 – Setor está interessado em formas de usar o RSU para cogeração térmica nas usinas, diminuindo o uso de derivados de petróleo para reduzir emissões de carbono
O Ministério do Desenvolvimento da Indústria (MDIC) está trabalhando para criar um modelo de edital para parceria público-privada (PPP) para a gestão municipal de resíduos sólidos urbanos (RSU) de Belo Horizonte (MG). Quem está ajudando na concepção desse edital é a indústria do cimento, através da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) e do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC).
Como explicou Gustavo Fontenele, coordenador-geral de Descarbonização do MDIC, durante o 8º Congresso Brasileiro de Cimento (CBCi), realizado esta semana em São Paulo, tanto a ABCP quanto o SNIC estão passando requisitos técnicos com o ministério para estabelecer como o RSU poderá ser usado na indústria cimenteira de Belo Horizonte. Ainda segundo ele, a escolha pela capital mineira surgiu não só pela procura do próprio município, mas também porque a região é considerada um polo do setor do cimento.
Paulo Camillo Penna, presidente da ABCP e do SNIC, o setor de cimento é um grande consumidor de resíduos industriais, biomassa e pneus para cogeração de energia térmica, mas o uso de RSU ainda não é tão utilizado. “A meta é, até 2030, termos 2,5 milhões de toneladas de lixo urbano como fonte para cogeração”, diz o executivo.
Ele lembra que o setor saiu de 300 mil toneladas de uso anual de combustíveis alternativos em 2000 para 3 milhões de toneladas por ano em 2022, substituindo o uso do coque de petróleo (combustível altamente poluente) em 30%. “Essa meta só seria atingida em 2025”, afirma ele.
Caberá a indústria do cimento de BH ajudar também na inclusão dos catadores de materiais recicláveis na cadeia de gestão do RSU. Segundo Fontenele, do MDIC, esses trabalhadores serão prioridade na formulação do modelo do edital, pois é precisos que o resíduo mais lucrativo chegue até eles primeiro para que haja crescimento econômico na ponta. Segundo Penna, a intenção é que as indústrias cimenteiras tenham parcerias com as cooperativas de catadores para que todo o rejeito que não pode ser reciclado seja encaminhado para a produção de cimento.
Reciclagem na produção do cimento
Além de usar o RSU como fonte energética, também é possível que ele entre no processo produtivo do cimento. Segundo Bodil Recke, diretora de Inovação Ecológica da FLSMITH, 55% das emissões globais do setor vêm do uso do calcário para produção do cimento e há formas de lidar com esse desafio.
Um deles é trocar a matéria-prima parar outro tipo, usando resíduos advindos da mineração, algo com grande disponibilidade na América Latina, e a reciclagem de concreto a partir da demolição de obras. Segundo ela, o cimento tipo LC³ 50 consegue cortar as emissões pela metade em comparação com o cimento comum, além de ser mais barato.
A questão maior, segundo Bodil, é gerar uma qualidade de concreto igual ao que era antes de ser “esmagado”. “Experimentos mostram que é possível produzir isso de forma a separar a pasta de cimento da areia, tendo dois produtos extremamente limpos”, explicou ela, dizendo que, dessa forma, acaba-se criando dois insumos da construção: cimento e areia.
Penna, da ABCP e SNIC, diz que, no Brasil, o que se estuda mais é o uso de resíduos da indústria siderúrgica e cinzas de termelétricas como substitutos do calcário. O lodo de esgoto também pode ser uma opção, mas ainda precisa ser melhor estudado porque ainda é inviável, já que é preciso passar por um processo de secagem primeiro. Já a reciclagem de concreto ainda é pouco utilizada no Brasil e o setor está tentando viabilizar o aproveitamento desse tipo de resíduo vindo de demolições de construções.