Redação – 05.03.2024 – Especialista aponta que até 30% dos materiais de construção são descartados, gerando desperdício financeiro para o setor
O coordenador pedagógico do Movimento Circular, doutor em Educação e Sustentabilidade e pós-doutor pelo Programa Cidades Globais, Edson Grandisoli, 80% dos resíduos da construção civil poderiam, de alguma forma, ser reciclados ou reaproveitados, como madeira, metais, concreto, tijolos, vidros, plásticos, entre outros.
Levando em conta que o Brasil produziu cerca de 48 milhões de toneladas de resíduos de construção e demolição (RCD) em 2021, segundo o Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil, publicado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), isso significa que 38,4 milhões de toneladas poderiam ser reciclados ou reaproveitados.
Segundo Grandisoli, estudos mostram que entre 10% e 30% dos materiais de construção adquiridos para a obra são descartados. “Isso significa que de 10% a 30% do investimento feito na construção é desperdiçado. Paga-se para adquirir, transportar, quebrar, recolher e remover. E paga-se também pelo excesso, materiais que são comprados e descartados sem uso”, afirma.
O coordenador do Movimento Circular explica que adotar práticas sustentáveis e tecnologias avançadas na construção civil pode reduzir significativamente a geração de resíduos, como a pré-fabricação de componentes, a utilização de automação, robótica, a seleção de materiais duráveis e a gestão adequada dos resíduos gerados. Ele orienta que manter o canteiro de obras organizado, separar resíduos por tipo de material e encaminhá-los a empresas certificadas, que dão destinação correta a cada um deles, são medidas que ajudam a diminuir o volume de resíduos do setor.
Questão ambiental
Mais do que eficiência nos custos, a reciclagem contribui com as metas ambientais do setor. O Relatório de Status Global de 2022 para Edifícios e Construção, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, aponta que as emissões de dióxido de carbono (CO2) do setor bateram o recorde de 10 bilhões de toneladas em 2021, 5% maior que no ano anterior. Já o Relatório Global Status Report 2019, da Agência Internacional de Energia (AIE), indica que a construção civil “foi responsável por 36% do uso final de energia e 39% das emissões de dióxido de carbono relacionadas a energia e processos em 2018”.
Além disso, segundo a ONU, a construção civil responde por cerca de 11% das emissões globais de CO2 decorrentes de atividades humanas. Isso inclui as emissões associadas à produção de materiais de construção, à construção e demolição de edifícios e à operação e manutenção dos edifícios ao longo de sua vida útil.
De acordo com a Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição (Abrecon), entre outros benefícios, a reciclagem preserva o meio ambiente, gera empregos e renda, além de reduzir os custos municipais com a remoção e destinação dos entulhos. A Abrecon aponta na pesquisa que foram reciclados cerca de 16% dos resíduos gerados pela construção civil em 2019/2020. Esse material é chamado de agregado reciclado e sua produção anual gira entre 16 milhões e 21 milhões de toneladas no Brasil.
A capacidade instalada das usinas de agregados reciclados era de 50 milhões de toneladas em 2019, quando o país somava aproximadamente 300 usinas, em torno de 100 públicas e 200 privadas, conforme a Associação. Materiais como tijolos, argamassa, concreto, pedras e cerâmicas podem ser triturados e transformados em brita, pedrisco ou areia, para a construção de pavimentos. Vidros, metais, madeiras e plásticos também podem ser reciclados.