Redação – 21.05.2024 – A produção líquida, no entanto, subiu apenas 11% no período, volume insuficiente para atender demanda nacional
Entre 2012 e 2022, a produção bruta de gás natural aumentou 95%, impactado principalmente pelas produção de gás associado ao petróleo do pré-sal – enquanto em 2012 esta parcela respondia por apenas 11%, em 2022 já atinge 84% da produção. Os dados são de um relatório realizado pela FGV Ceri a pedido do Movimento Brasil Competitivo (MBC).
Por outro lado, a oferta doméstica (líquida de reinjeção, perdas e consumo na exploração, produção e processamento) aumentou apenas 11%, alcançando 47 MMm³/d em 2022. Isso porque, embora os recursos do pré-sal contenham grandes parcelas de gás associado, parte substancial da produção bruta é reinjetada. Em 2022, a reinjeção alcançou 45% (68 MMm³/d) da produção, enquanto em 2012 era de apenas 14% (10 MMm³/d).
O relatório ainda aponta que o gás natural respondeu por 10% do total da oferta interna de energia no Brasil em 2022, a qual atingiu 303 milhões de toneladas equivalente de petróleo (tep), atrás de petróleo e derivados (35%), biomassa da cana (15%) e energia hidráulica (12%). A maior participação relativa do gás foi registrada em 2021 (13,3%), impulsionada pela demanda termelétrica em ano de crise hídrica severa, frente a menos de 5% antes dos anos 2000.
A produção nacional de gás natural é preponderantemente offshore e associada ao petróleo, ambos cerca de 85% da produção bruta de 2022, a qual registrou 138 milhões de metros cúbicos por dia (MMm³/d), equivalente a 50 bilhões de metros cúbicos no ano (MME, 2023). A Petrobras respondeu por 70% da produção considerando a sua participação relativa nos blocos exploratórios, seguida pela Shell (12%). Considerando a participação por operador, a Petrobras lidera a produção (93%), seguida pela Eneva (2%).
Já a exploração onshore no Brasil, por sua vez, ainda é incipiente, com pouco conhecimento geológico e reduzida exploração de recursos, respondendo por apenas 17% da produção bruta.
Demanda para energia elétrica
A demanda por gás natural no Brasil oscila em função da maior ou menor geração hidrelétrica no País, com tendência de maior despacho no período seco (entre abril e outubro) – em torno de 30 MMm³/d em média, podendo atingir cerca de 55 MMm³/d em períodos hidrológicos críticos. Nestes momentos, a demanda termelétrica por gás natural alcança o mesmo patamar dos demais segmentos, dobrando a demanda pelo energético.
Frente à variabilidade e à imprevisibilidade da demanda termelétrica e à inflexibilidade da oferta nacional de gás predominantemente associada à produção de petróleo, a importação de gás natural liquefeito (GNL) acabou se tornando a saída para o País suprir a alta da demanda em períodos críticos. O Brasil ainda não dispõe de estocagem de gás natural, que poderia ofertar serviços de balanceamento e flexibilidade, elevando a segurança de suprimento. O principal exportador de gás para o Brasil é a Bolívia.
Outro fator que pode influenciar a demanda para produção de energia elétrica é a crescente geração renovável (eólica e solar) que tende a poupar a geração hídrica e a reduzir a necessidade de geração termelétrica, como observado recentemente – embora esta permaneça crucial para garantir o suprimento em momentos hidrológicos adversos.
Demanda da indústria está estagnada
A demanda não-termelétrica, que é composta principalmente por indústrias, está estagnada em torno de 50 MMm³/d nos últimos dez anos. A indústria responde por cerca de 30 MMm³/d (60%), seguida pelo consumo em refinarias (21%), nos transportes (11,5%), como matéria-prima (4,3%) e em residências e comércio (3,6%) entre 2012 e 2022. O Brasil não tem demanda para aquecimento e o consumo de gás natural residencial por dutos é diminuto, cerca de 1,5 MMm³/d em 2022. Menos de 10% dos 5.760 municípios brasileiros dispõem de rede de gasodutos.
A falta de uma demanda residencial essencial e a competição de outros energéticos substitutos para cocção e aquecimento de água – principalmente GLP, eletricidade e lenha – restringem o potencial de capilaridade da rede de gasodutos.
Expectativas
Tendo em vista a transição energética e descarbonização da economia, a maior competitividade do gás natural é elemento chave para a expansão sustentável da sua participação na matriz energética, na visão do relatório. Neste contexto, é preciso uma reestruturação desse mercado, promovendo acesso às infraestruturas essenciais (escoamento, tratamento, terminais de regaseificação e estocagem) e à rede de transporte (gasodutos).
Para o estudo, a construção de um mercado nacional de gás natural passa por um processo gradual e depende de persistência e regulamentação de dispositivos legais introduzidos pela Nova Lei do Gás (Lei nº 14.134/2021). “A agenda regulatória a ser percorrida nos próximos anos pela Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP) é ambiciosa, ao passo que as transformações em curso nos arcabouços legais-regulatórios dos estados demandam uma orquestração delicada para a transposição de dispositivos pró abertura e competição e para harmonização de regras de modo a facilitar o acesso e a comercialização”, aponta o relatório.