João Monteiro – 07.08.2024 – Com a evolução da tecnologia, novos casos de uso foram surgindo e projetos de infraestrutura passaram a se aproveitar do UHPC, principalmente para criação de passarelas e pontes
Uma sequência de apresentações na Concrete Show 2024 – em realização nesta semana – apontou as vantagens e desafios do UHPC (Ultra High Perfomance Concrete). Trata-se de um tipo de concreto de alta performance que virou tendência na Europa para criação de revestimentos em fachadas. Até para a produção de mobílias o UHPC já foi utilizado, como foi o caso do MuCEM (Museu de Antropologia, Arqueologia e Arte), localizado em Marseille, na França. Com nível de resistência que pode chegar a 200 MPa (megapascal), esse tipo de concreto tem alta durabilidade e resistência, o que viabiliza a sua aplicação em novos casos de uso.
Projetos de infraestrutura também começam a utilizar o UHPC, principalmente para a construção de passarelas e pontes.
Francisco Pedro Oggi, consultor em Industrialização da Construção, destacou que o UHPC diminui consideravelmente a espessura da estrutura em relação ao concreto armado, e sem perder resistência. Assim, há mais liberdade para aplicação, inclusive em varandas pós-fixadas em prédios, onde há pouco espaço na fachada.
Segundo o especialista, a função de elasticidade do produto é que lhe dá essas características, lhe tornando capaz de suportar grandes forças de tração e compressão.
Outro ponto interessante é que o UHPC é desenvolvido de forma industrial e modular, criado em formas e transportado em peças para o local da obra. Isto tem sido bastante explorado em projetos decorativos como revestimento de fachadas, mas também trouxe benefícios para a construção de passarelas para pedestres e até de pontes na Malásia.
Bernardo Tutikian, professor e pesquisador da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), apresentou dois casos de uso no Brasil. Um deles é o sistema carrossel, que faz placas de UHPC com 10 mm de espessura para formar monoblocos para moradias populares de 45 m².
Já a Palazzo, que investe no setor de decoração, usa o UHPC para criar revestimentos para paredes e pisos.
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Desafios para o UHPC
Tutikian também contou que o Ultra High Perfomance Concrete pode até substituir o concreto armado, principalmente quando são necessários elementos estruturais mais leves. “Ele se compara mais à estrutura de metal do que ao concreto em geral”, disse em sua apresentação, destacando que a tecnologia evoluiu e, hoje, há composições mais fáceis de manusear.
Ele detalhou ainda que o uso de fibras na composição do UHPC influencia positivamente para as características listadas. “O pó é muito fino e praticamente não existe capilares. Os aditivos são essenciais devido à baixa relação água e aglomerante na mistura”, complementa. O problema é o custo, já que as fibras usadas, que podem ser de aço ou outro tipo de produto, não são produzidas no Brasil e precisam ser importadas. A expectativa é que o aumento da demanda impulsione a fabricação local.
Outro ponto é a normatização do produto, algo que ainda está em fase de discussões no Brasil.
Renata Monte, professora doutora do Departamento de Engenharia de construção Civil da Escola Politécnica da USP, disse que uma comissão para debater o UHPC foi instalada na ABNT em 2023.
A expectativa é que a tecnologia siga a norma francesa, começando com capacidades de resistência de 130 MPa para serem considerados como concretos de ultra alto desempenho. Produtos com resistência menor poderiam ser usados para vedação e decoração, por exemplo.
A produção de módulos de UHPC também deverá seguir as normas de concreto autoadensável, com uso de mesa vibratória, por exemplo.