A transição energética no Brasil, que se destaca pelo crescimento das fontes renováveis, enfrenta um desafio inesperado: insetos. Embora a expansão da energia fotovoltaica seja expressiva, com mais de 46 gigawatts (GW) de capacidade instalada até agosto de 2024, como aponta a Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar), especialistas apontam que pragas como cupins e formigas representam uma ameaça crescente à durabilidade e funcionamento dos parques de geração.
A geração centralizada, em particular, resulta em grandes parques instalados em áreas ermas e remotas, onde naturalmente ficam mais expostas ao clima, temperatura e às interações com a flora e a fauna do local. Essa condição traz desafios inesperados para a durabilidade dos parques, como aponta Igor Amaral Delibório, engenheiro e especialista de produtos da Prysmian.
O cupim causa prejuízos anuais da ordem de US$ 5 bilhões nos Estados Unidos, segundo estudos da NPMA. Também é um problema constante na Austrália. Isso porque algumas espécies de cupins possuem mandíbulas fortes o suficiente para corroer os cabos e abrir passagens. Já as formigas secretam um tipo de ácido chamado de fórmico, uma substância corrosiva quando em contato com materiais poliméricos.
Desafio aumenta
Existem diversas suposições sobre o que estaria motivando estes ataques. O executivo da Prysmian diz que poderia ser a maciez do solo ao redor das instalações após a movimentação da terra para a construção da vala de cabos; talvez uma perturbação causada pelo campo eletromagnético; a escassez de alimento do cupim causada pela supressão da vegetação no local da instalação ou o simples fato do cabo estar no meio do caminho dos cupins.
Delibório diz que os danos causados por estes insetos vêm aumentando nos últimos anos, principalmente porque quando ocorrem em grids subterrâneos de parques solares e eólicos, eles resultam em desligamentos inesperados do sistema. Das mais de 2000 espécies de cupins catalogadas em todo o mundo, já se sabe que ao menos 10% delas atacaram cabos, de modo que a viabilidade dos atuais e o planejamento dos futuros parques solares e eólicos precisam considerar este risco.
Solução para controlar insetos e garantir a transição energética
O setor de cabos ainda procura uma forma de contornar esse desafio, pois a construção típica de um cabo de média tensão, de dentro para fora, é composta por condutores de cobre ou alumínio cobertos por uma camada semicondutora interna, depois pela de isolamento, seguido pela semicondutora externa, uma blindagem metálica e, por fim, a cobertura.
Delibório diz que a Prysmian estudou o uso de compostos tóxicos para afastar insetos, mas isso incorria em riscos à saúde não só de outros animais na natureza mas até aos próprios instaladores da infraestrutura. A empresa optou por utilizar uma camada de nylon que, em teoria, parece ser o suficiente para proteger contra ataques de cupins e pequenos roedores.