A relação entre Brasil e China em investimentos em infraestrutura, especialmente no setor de logística, tem ganhado destaque no contexto global. Com o relançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a ampliação e modernização da infraestrutura brasileira voltaram ao centro das discussões, mas a presença efetiva de capital chinês nessas iniciativas ainda é uma incógnita.
Interesses Alinhados, Realidades Distintas
Edeon Vaz Ferreira, membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) e especialista em gestão estratégica, destaca que a China vê o Brasil como um parceiro estratégico, especialmente no contexto da Belt and Road Initiative (BRI). Essa iniciativa chinesa busca criar uma rede global de infraestrutura para fortalecer laços comerciais e geopolíticos. Projetos como a Ferrovia Transoceânica, que ligaria os oceanos Atlântico e Pacífico, exemplificam o potencial dessa parceria.
Contudo, Ferreira ressalta os entraves que dificultam a materialização de iniciativas dessa magnitude. “A execução de projetos como a Ferrovia Transoceânica enfrenta desafios logísticos, regulatórios e ambientais que vão desde desmatamento até a resistência de comunidades locais”, pontua o professor.
Infraestrutura no PAC e o Papel Chinês
Apesar do interesse chinês em grandes projetos de transporte, Ferreira afirma que, atualmente, não há obras do PAC previstas com investimentos diretos da China. Isso ocorre, em parte, pela complexidade regulatória e pela necessidade de estudos detalhados de impacto ambiental para garantir a viabilidade de projetos desse porte no Brasil.
Entretanto, a experiência chinesa em setores como energia e telecomunicações, onde já investiram no Brasil, pode ser um modelo a ser explorado. Parcerias em infraestrutura de transportes têm o potencial de trazer não apenas capital, mas também tecnologia e expertise ao país, desde que equilibradas com os interesses e as necessidades locais.
Sustentabilidade como Pilar de Cooperação
Ferreira enfatiza que “a cooperação em infraestrutura deve garantir a sustentabilidade dos projetos e o diálogo constante com as comunidades impactadas”. A China, com sua capacidade de financiamento robusto e foco estratégico, pode se tornar um aliado valioso do Brasil na superação de gargalos logísticos, desde que sejam estabelecidos parâmetros claros para a preservação ambiental e o respeito às legislações nacionais.
Embora os desafios sejam significativos, a parceria entre Brasil e China no setor de infraestrutura continua sendo uma oportunidade promissora. No cenário do novo PAC, essa colaboração pode ajudar o Brasil a alavancar o desenvolvimento, conectando suas potencialidades internas às demandas globais.