A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) apresentou os indicadores econômicos do setor no primeiro trimestre de 2025 e destacou a elevada taxa de juros como a principal preocupação. A taxa Selic, que serve de base para os cálculos de empréstimos e financiamentos, subiu para 14,75% em 7 de maio, por decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.
A nova alta dos juros não reverteu as expectativas positivas da CBIC, que aposta em crescimento de 2,3% da construção civil este ano. A boa previsão se relaciona com a ativação da faixa 4 do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal. Em contrapartida, o setor vê os custos voltando a subir acima da inflação.
A economista-chefe da CBIC, Ieda Vasconcelos, afirma que a menor captação de poupança compromete uma das principais fontes de financiamento ao crédito imobiliário. “É essencial termos taxas de juros mais baixas para que esse público possa aumentar a sua demanda e o ritmo de lançamentos crescer”, diz. Nesse sentido, ela destacou a importância do lançamento da faixa 4 do MCMV. “É um sopro de esperança diante de um cenário tão desgastante, com a taxa de juros num patamar tão alto”.
Crédito vira desafio para construção com juros altos
Embora a expectativa da CBIC permaneça positiva, o acesso ao financiamento continua desafiador, especialmente para as famílias de renda média. A entidade aponta que existe demanda e crédito graças à aplicação de R$ 127 bilhões do FGTS na construção de moradias do MCMV, além dos R$ 30 bilhões adicionais da faixa 4. O problema aparece no mercado de imóveis acima de R$ 500 mil, onde Ieda diz que a concessão de crédito vai ser mais seletiva em razão da falta de dinheiro na caderneta de poupança.
Os juros altos também contribuem para a saída de recursos da poupança. No primeiro trimestre de 2025, a captação líquida foi negativa em R$ 34,6 bilhões, superando a perda registrada em todo o ano de 2024 (R$ 21,7 bilhões). Desde 2021, a poupança já perdeu R$ 244,4 bilhões.
Mais dados do setor
Dois componentes principais puxaram o aumento do Índice Nacional de Custo da Construção (INCC). O primeiro foi a mão de obra, que registrou alta de 9,96% nos últimos 12 meses finalizados em março. No mesmo período, o custo com materiais e equipamentos acumulou alta de 6,09%. Os dois tiveram aumentos acima da inflação acumulada no período (5,88%).
A construção civil encerrou o primeiro trimestre com saldo positivo de 100 mil novas vagas com carteira assinada, segundo o Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). O setor somava, em março de 2025, 2,95 milhões de trabalhadores formais — alta de 3% em relação ao mesmo mês do ano anterior. A construção foi o setor com o maior salário médio de admissão do país: R$ 2.420,97, acima da média nacional de R$ 2.225,17.
No primeiro bimestre de 2025, a produção de insumos típicos da construção cresceu 4,9% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo o IBGE. O resultado reflete o forte aumento nos lançamentos imobiliários em 2024, que avançaram 18,6%.
O comércio varejista de materiais de construção também cresceu 6,7% nos dois primeiros meses do ano, na comparação anual. O mercado de trabalho aquecido e o aumento da renda média explicam parte desse desempenho.
Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC) analisados pela CBIC, as vendas acumuladas de cimento no primeiro trimestre de 2025 totalizaram 15,6 milhões de toneladas — alta de 5,9% em relação ao mesmo período do ano anterior.