Artigo: O potencial de desenvolvimento do Nordeste

Paulo Ferezin* – 14.09.2022 –

De acordo com a última edição do Boletim Regional do Banco Central, o Nordeste cresceu 0,3% no último trimestre do ano passado, repetindo o índice de expansão observado nos três meses imediatamente anteriores. Apesar dessa curva ascendente, a economia local ainda não havia alcançado o patamar anterior à pandemia, o que sugere haver potencial reprimido para uma retomada mais forte a partir deste ano. Destaca-se a indústria de transformação, refletindo o incremento do refino de petróleo e do segmento de minerais não metálicos. A continuidade da recuperação também deve ser favorecida pela progressiva normalização dos serviços, incluindo o turismo, que volta a ser dinâmico.

Em meio a esse cenário, vários fatores apontam perspectivas favoráveis à aceleração do desenvolvimento regional. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por exemplo, acaba de aprovar participação de R$ 1 bilhão no pacote de financiamento de R$ 1,79 bilhão para os investimentos da empresa Aena nos seis aeroportos do Bloco Nordeste, concedidos ao setor privado em 2020. É uma operação conjunta com o Banco do Nordeste (BNB) que arcará com R$ 790 milhões do total.

Também na área de infraestrutura, o Governo Federal promoveu, no primeiro dia de junho, leilão para a concessão de sete etapas do Projeto de Irrigação do Baixio de Irecê, no Médio São Francisco, no município baiano de Xique-Xique. Primeiro de um perímetro público irrigado a ser realizado no Brasil, o certame foi vencido pela BRLT 210 Fundos de Investimento em Participações Multiestratégia e Investimento no Exterior. A outorga fixa foi de R$ 83,1 milhões, valor 0,57% superior ao estipulado no edital. O empreendimento, que usará águas do rio São Francisco, é o maior da América Latina, com investimento de R$ 1,1 bilhão e estimativa de criação de 180 mil empregos.

Em outra frente, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) anuncia a concessão de 2.471 quilômetros de rodovias no Nordeste, com valor estimado de R$ 21,44 bilhões e geração de 292 mil postos de trabalho. Os trechos envolvidos são importantes. A maioria tem caráter troncal, sendo a BR-116/304, do Ceará ao Rio Grande do Norte, e a BR-232, em Pernambuco, percursos alimentadores do sistema viário, compondo vetores logísticos estratégicos, responsáveis pelo escoamento da produção de commodities e produtos manufaturados, inclusive para corredores de exportação. O edital deverá ser publicado no primeiro trimestre de 2023. No segundo, está previsto o leilão e no terceiro, a assinatura dos contratos.

Na Bahia, o governo estadual mantém nove contratos de parcerias público-privadas e 40 de concessões em execução, somando investimentos de R$ 18 bilhões, em diversas áreas. A novidade prevista para este ano é a abertura de licitação para implantação e desenvolvimento de projeto habitacional no Centro Histórico de Salvador, incluindo revitalização de imóveis e construção de estacionamento, com administração operacional, imobiliária e condominial.

Empreendimentos turísticos, forte vocação da região, também deverão contribuir para o fomento econômico. O Banco do Nordeste está disponibilizando R$ 580 milhões para apoiar a retomada da atividade. Segundo dados do IBGE, o Brasil apresentou crescimento de 29% no turismo em janeiro deste ano, em relação ao mesmo período de 2021. Na mesma base de comparação, todos os nove estados nordestinos tiveram aumento expressivo de visitantes. Somente os desembarques internacionais cresceram 206% no primeiro mês deste ano, totalizando 18.595 estrangeiros.

No contexto de todos os fatores aqui citados, há um aspecto fundamental. O Nordeste, conforme consta do Boletim Regional do Banco Central, o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) mantém-se na área de otimismo, acima de 50 pontos. Este é o ponto mais importante, pois a resiliência humana e a capacidade de superação têm sido decisivas para manter viva a economia brasileira.

*Paulo Ferezin é sócio da KPMG no Brasil.