Arquitetura de segurança ou apenas uma sensação de proteção?

Por Haroldo Aguiar – 06.02.2017

Apresentado como solução para a segurança de capitais europeias, o uso de muros e barreiras de concreto se revelou ineficaz em condomínios de luxo de São Paulo e Rio de Janeiro.

Em tempos de insegurança provocada pela onda de terror nos países industrializados, que alimenta um sentimento de xenofobia exacerbado – no qual o malfadado muro de Donald Trump entre os Estados Unidos e o México surge apenas como um exemplo pitoresco – velhas fórmulas ressurgem travestidas de novidade. Recentemente, o telejornal de maior audiência do Brasil apresentou uma dessas soluções, batizada de arquitetura de segurança, que encontra em Londres seu exemplo mais bem acabado.

Trata-se de um conceito urbanístico, que emprega de forma camuflada algumas barreiras de concreto em ambientes público, para proteger aglomerações humanas de possíveis ataques terroristas. Vasos de flores, estruturas de concreto com acabamento artístico e outros artefatos passam a integrar o ambiente urbano discretamente, ocultando sua real função: a de proteger os cidadãos locais, já que foram construídos para suportar o impacto de bombas e veículos.

Entre os exemplos mais significativos está a fachada do estádio do Arsenal, um dos mais populares clubes de futebol do Reino Unido. Além de barreiras fixas e móveis nos acessos ao local, ele conta com uma grande estrutura de concreto, que estampa o nome do clube, cuja função não é apenas decorativa, mas a proteção dos torcedores no local.

Obviamente, o envolvimento de urbanistas, arquitetos e engenheiros no desenvolvimento desse aparato de segurança ajuda a desenvolver barreiras mais eficientes e integradas ao ambiente urbano. A isto se soma a tecnologia de concreto, para a confecção de peças mais resistentes. A ideia começa a se difundir entre outras capitais europeias, como Berlim, Paris e Madri, que ainda amargam traumas de recentes ataques terroristas.

Mas assim como o muro de Trump pode se converter em uma ode ao fracasso – o infame Muro de Berlim comprova a ineficiência dessa iniciativa em conter o livre tráfego de pessoas e pensamentos – esse aparato também está fadado a expor suas limitações. Ele até pode tornar o ambiente urbano mais agradável e transmitir uma sensação de segurança à população, já que dificulta a ação de terroristas.

Mas não conseguirá impedir totalmente os atentados na medida em que sua existência passará a ser considerada nos planos de ataque do terror. Como já se comprovou em condomínios de luxo do Rio e de São Paulo, os muros e barreiras de concreto protegem parcialmente a área interna, mas falhas de segurança sempre expõem sua fragilidade ao permitir a transposição desse aparato.

Obviamente, as situações são diferentes, mas está comprovado que a construção de muros e barreiras pode proteger a propriedade privadas, além de representar boas perspectivas de negócios para arquitetos, empreiteiras, concreteiras e fabricantes de pré-moldados. Mas tem uma eficiência limitada no que concerne à criminalidade urbana, ao terrorismo fundamentalista ou movimentos migratórios.

Nesse último caso, barreiras muito maiores, como os mares do Caribe e do Mediterrâneo, não foram suficientes para conter fugas em massa, de cubanos para a Flórida, no primeiro caso, e de sírios para a Europa, no segundo. A solução para o problema passa por medidas muito mais profundas. Mas a implantação dessas medidas de fundo, que requer mudanças sociais, econômicas e até mesmo de ordem legal, parece não estar entre as prioridades dos governantes, seja na Europa, nos Estados Unidos ou no Brasil.

Afinal, ela requer um debate com a sociedade e os últimos resultados das urnas – que melhor traduzem os anseios populares – resultaram em surpresas desagradáveis para o establishment. Tanto no Reino Unido (Brexit), quanto nos Estados Unidos (Trump x Hillary) e – por que não? – até mesmo no Brasil.