Cidades brasileiras não tem infraestrutura para desenvolver talentos olímpicos

Redação – 17.08.2021 – Arquiteto mostra como grandes centros do País dispõem de poucos locais adequados para a prática de esporte e como isso impacta no desenvolvimento do potencial esportivo 

Com o encerramento das Olimpíadas de Tóquio, o Brasil conseguiu marcar sua melhor participação no evento com 21 medalhas. Mas ainda assim, comparando a outras nações com populações bem menores que a nossa, levanta-se novamente o debate de como o potencial nacional para várias modalidades esportivas poderia ser bem melhor. Para isso, seria mais necessário investimentos em políticas públicas que ajudassem a revelar e treinar os talentos do País. 

Um desses incentivos primordiais para a grande maioria dos atletas é a oferta de espaços adequados. Para o arquiteto e urbanista Paulo Renato Alves, que é especializado no desenvolvimento de empreendimentos imobiliários e sua interação com a cidade, áreas de lazer devem ir muito além de um lugar para realização de caminhadas ou corridas. 

Ele usa como exemplo a capital de Goiás. “Goiânia, apesar de ser conhecida como a cidade das praças e dos parques, possui poucos lugares públicos em que se pode praticar alguma modalidade esportiva, diferente do futebol”, comenta. Segundo Alves, em geral, as praças e parques que a cidade tem são preparados para a simples caminhada, corrida ou exercícios funcionais. 

“Os poucos espaços que existem não contam com pessoal preparado para desenvolver um trabalho de iniciação esportiva. Portanto, acaba que muitos espaços de lazer que são melhor estruturados ficam relegados aos condomínios de alto padrão, o que infelizmente realmente não é democrático”, avalia. 

O arquiteto lembra que desde 2010, o governo federal conta com o programa Praças PEC [Praças de Cultura e Esporte] que garante recursos para prefeituras construírem grandes praças multiuso, voltadas tanto para atividades esportivas quanto culturais. Mas apesar de existir desde 2010, só agora em 2021 que serão entregues em Goiânia as duas primeiras Praças PEC. 

O espaço total de cada praça é de 7 mil m² e cada uma contará com biblioteca, cineteatro com 125 lugares, salas de oficinas, espaços multiuso, Centro de Referência em Assistência Social (CRAS), além de pista de skate e quadras poliesportivas. Os espaços contarão também com quadra coberta para eventos e playground. 

Ginásios não são utilizados

Apesar de contar com ginásios de esportes, grandes cidades não contam muito com uma cultura de uso desses espaços, o que é diferente em cidades pequenas. O arquiteto tem uma explicação para essa diferença de comportamento entre as populações dos grandes centros urbanos e do interior. “Essa cultura dos ginásios de esportes acaba sendo mais forte nas cidades pequenas, porque em geral são lugares que têm poucas opções de lazer. Portanto, para os prefeitos dessas cidades, a construção de um ginásio acaba sendo um investimento obrigatório para se oferecer um mínimo de lazer para a população. Já numa cidade grande, realmente temos mais e variadas opções de entretenimento”, afirma o Alves. 

O especialista defende que esses espaços podem e devem ser melhor aproveitados também nas grandes cidades e uma das alternativas é investir na implantação de ginásios em diferentes regiões. “Numa cidade como Goiânia, com mais de 1,5 milhão de habitantes, temos bairros que são quase que uma pequena cidade do interior dentro da capital, só que não têm nenhuma opção de lazer e a sua população é obrigada a se deslocar para outras regiões da cidade”, constata o arquiteto. 

Educação e esporte

Alves também defende que os ginásios de esportes sejam construídos junto às escolas, para que se tenha espaço físico adequado para a prática esportiva e educadores especializados. “É importante que eles entendam sobre diferentes modalidades esportivas para que essa criança ou adolescente aprenda de maneira correta e seja descoberta em toda sua potencialidade.” 

Para arquiteto, ter mais locais para a prática esportiva traz um ganho social enorme para as cidades, uma vez que estimula uma ocupação saudável dos espaços públicos. Ele argumenta ainda que não basta as prefeituras construírem e entregarem ginásios e praças de esportes. É preciso também fomentar o uso desses lugares com oferta de cursos gratuitos de iniciação esportiva, organização de competições comunitárias ou regionais.