Concessionária reduz perdas globais de 16,2% para 6,4% em um ano

Por Nelson Valêncio – (Especial LAUW 2017) – 20.09.2017 –

Projeto no Tajiquistão foi coordenado pelo grupo chinês Hexing, com foco em smart grids

O local é Khujand, cidade do Tajiquistão, ex-república da União Soviética. Os nomes são estranhos, a geografia é estranha e distante, mas os problemas da concessionária de energia atendida pelo grupo chinês Hexing são os mesmos: perdas globais, técnicas e não técnicas, que chegavam a 16,2%. O índice foi apurado entre 2013 e 2015, gerando uma perda anual nesse período de nada menos do que 100 milhões de kWh. O desafio? Reduzir a métrica para menos de 10% em um ano. O resultado, segundo Samuel Teixeira Mendes, gerente de Smart Grid da Hexing Energy/Eletra foi alcançado e as perdas globais caíram para um patamar de 6,4%.

De acordo com ele – um dos palestrantes da LAUW 2017 hoje pela manhã – o desafio envolveu a substituição de 300 km de linhas de distribuição e a instalação de mais de 100 mil medidores inteligentes para que a concessionária alcançasse uma melhoria operacional. O cenário enfrentado envolvia uma ocorrência elevada de faltas devido à “não confiabilidade da rede somada à escassez de energia, além da falta de tecnologia e programas para aplicação do gerenciamento pelo lado da demanda (GLD)”. O diagnóstico ainda incluía o alto custo de distribuição de energia uma vez que não havia nem um sistema de controle de carga e nem uma rede de comunicação para interligação dos pontos.

“Havia um quadro comum de envelhecimento da rede de distribuição, a presença de uma infraestrutura não otimizada e perdas comerciais elevadas”, resume Mendes. O primeiro passo para mudar a situação foi a inspeção de campo, com replanejamento da rede de distribuição, seguido da implementação de smart grid. O processo envolveu a inspeção de circuitos, a revisão do cadastro de clientes e dos dados dos transformadores, entre outras iniciativas. Após o mapeamento, a rede – que foi renovada, inclusive com maior infraestrutura enterrada e adoção de postes de concreto em vez dos de madeira – o monitoramento foi ativado, inclusive com a adoção de dispositivos conhecidos como Bobina de Rogowski.

“Elas funcionam como medidores de balanço de carga, são de fácil instalação e baixo custo e podem ser movidas para os pontos mais críticos da rede”, explica Mendes. Na prática, o processo funcionou: com 2 mil transformadores em campo, a Hexing adotou um total de 1,5 mil medidores, focando onde o monitoramento faria diferença, ou seja, um cruzamento entre a melhoria operacional da rede e onde a concessionária teria maior retorno de investimento (ROI).

A coleta e o tratamento de dados foi outra frente de investimento que facilitou a tomada de decisão, tendo como base a tecnologia AMI, sigla em inglês para infraestrutura de medição avançada, mais exatamente um sistema de medidores inteligentes interligados por uma rede de comunicação e que tem recursos de gerenciamento de dados. “A integração envolveu não somente as informações do AMI, como também dados do CRM da concessionária, além da interface com o MDM e com o billing”, explica Mendes. E explicamos nós: MDM é o gerenciador de dados de medição, outro componente chave do smart grid. Com a integração desses sistemas à plataforma de bilhetagem (billing), o projeto de otimização foi fechado.

Os números apontados pela Hexing indicam que somente a recuperação de receita com a redução global de perdas chegou a 62 milhões de kWh. A otimização também impactou, é claro, as etapas de leitura e medição que hoje alcançam índices, respectivamente, de 95% e 93% de eficiência. A coleta de dados chega a 99% de eficiência, mas permite que a bilhetagem seja efetuada de forma total, pois a concessionária pode lançar seu faturamento com os dados coletados. No caso de Khujand a revolução foi tão grande quanto a passagem de Alexandre, o Grande, há mais de 2 mil anos. Ponto para o smart grid.

O InfraROI realiza a cobertura do Latin America Utility Week que está acontecendo em São Paulo nessa semana – de 19 a 21 de setembro.