Construção e infraestrutura precisam abrir a mente para o ecossistema de inovação

Marcus Granadeiro – 29.04.2019 –

Com a crise, há uma motivação extra das empresas para se movimentarem e se reinventarem. Inovar deixa de ser uma opção para ser uma necessidade. Este é um desafio normalmente complexo para qualquer área, mas ele se torna muito maior quando essa demanda ocorre num setor tradicionalmente conservador, como é o caso da construção civil.

Notadamente, um dos caminhos preferidos para acelerar a inovação é a busca por parcerias com startups. Trata-se de um universo que envolve incubadoras, desafios, coworking e fundos de investimentos. Este modelo atrai mentes, empreendedores, ideias e busca a inovação por meio de estruturas que conseguem encontrar novos processos, pivotar e validar de forma mais competente e ágil que as empresas constituídas.

Olhando no retrovisor para entender essa estrutura, vale lembrar que este caminho nasceu do conceito de inovação aberta, desenvolvida no início dos anos 2000 pelo professor Henry Chesbrough, da Universidade da Califórnia. O fio condutor desta abordagem se baseia no fato de que nem todos os profissionais inteligentes trabalham para a mesma empresa, assim como desenvolver um bom modelo de negócio é melhor que ser pioneiro no mercado, ou seja, não é preciso ser o dono da ideia para poder se beneficiar dela.

Não há dúvida de que este é um caminho interessante, porém há outros que estão sendo esquecidos ou subutilizados. A inovação pode acontecer através do canal de fornecedores estabelecido por meio de alianças, de licenciamentos ou até mesmo através de acordos de OEM (Original Equipment Manufacturer), ou seja, quando um parceiro agrega alguma inovação como parte de um sistema.

Ecossistema de inovação não pode ficar restrito às grandes empresas e startups

As startups são, por definição, organizações temporárias projetadas para pesquisar modelos de negócio replicáveis e escaláveis. Uma vez tendo sucesso, elas deixam de ser startups e, se contratadas, passam a ser fornecedores e, a partir daí, precisam ter processos e passam a se preocupar com entregas e com a qualidade. Isso significa que, nos atuais projetos de inovação, elas deixariam de estar no radar para outras inovações. Sendo assim, o framework de inovação deve abranger as operações no modelo scale-ups, ou seja, aquelas que crescem o negócio de forma escalável, sem aumentar os custos na mesma proporção, e as demais empresas do ecossistema de fornecimento.

Esta necessidade fica ainda mais premente quando pensamos que o objetivo não é apenas buscar por inovar nos produtos e nas ofertas, mas também aplicá-la nos processos, seguindo o conceito da transformação digital. O ecossistema aberto de inovação não deve ficar restrito a grandes empresas e startups, mas a todo o ecossistema que gira em torno dela, envolvendo fornecedores, startups ligadas a eles ou diretamente à empresa, assim como os próprios concorrentes e até mesmo empresas de outro setor. O lema é manter a mente aberta. E você, já arquitetou o seu ecossistema de inovação?

Marcus Granadeiro é engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da USP, presidente do Construtivo, empresa de tecnologia com DNA de engenharia e membro da ADN (Autodesk Development Network) e ​ do RICS (Royal Institution of Chartered Surveyours).