Construção moderna pede elementos de aço e concreto pré-moldado

Por Alexandre Vasconcellos (*) – 11.06.2018 – 

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A industrialização da construção começa com a mudança de mentalidade, da gestão e do processo de construção. A fase de planejamento e execução precisa de tempo. Só assim pode-se construir com alta qualidade e no menor tempo possível. Vide exemplo do vídeo de construção do prédio chinês que circula pelo YouTube.

Mas aqui está o que eu penso. Os elementos de aço e concreto pré-fabricados juntos podem ser usados com imensa vantagem na construção de todos os tipos de construção, do pequeno edifício garagem ao edifício alto, da ponte vicinal ao viaduto de grandes vãos. E todas essas obras podem ser produzidos nas mesmas fábricas utilizando processos e componentes padronizados, usando a Tecnologia de Grupo.

Dessa forma, identifico grandes oportunidades para o uso híbrido industrializado em empreendimentos devido ao seu potencial de aumento de produtividade em soluções estruturais e construtivas e, portanto, com grande espaço para este tipo de indústria no Brasil.

E aí vai uma ideia: por que não fundar uma fábrica de estruturas híbridas, produzindo estruturas metálicas e pré-moldados de concreto juntos?

Este tipo de empresa poderá propor ao seu cliente alternativas com um custo máximo garantido e bonificação por antecipação de prazo em função das vantagens que esse sistema construtivo poderá oferecer.

Aço e concreto tem vantagens que podem ser maximizadas e desvantagens que podem ser minimizadas por meio da combinação de ambos, não apenas em termos estruturais, mas também em aspectos construtivos, funcionais e estéticos. O concreto possui boa resistência à compressão, ao fogo e à corrosão, mas tem peso relativo elevado, necessita de fôrmas e escoramentos. O aço possui boa resistência à tração e comportamento ductil, não necessita de fôrmas e escoramentos e tem peso relativo baixo, mas possui baixa resistência ao fogo e à corrosão.

Como exemplo das vantagens dessa associação pode-se citar: redução do prazo da obra com redução das despesas indiretas; eliminação do sistema de fôrmas e escoramentos; redução do efetivo da obra e consequente redução de potencial passivo trabalhista e dos acidentes de trabalho; obra sustentável com drástica redução na geração de resíduos; logística otimizada com a maior parte dos elementos produzidos fora do canteiro; redução dos custos de proteção passiva e à corrosão; redução do peso próprio e consequente redução das fundações; aumento da precisão dimensional com redução no uso de materiais de acabamento. Além disso, permite executar escavações, contenções e fundações enquanto as estruturas estão sendo fabricadas fora do canteiro e a possibilidade de abertura de diversas frentes de serviço simultâneas.

Nos Estados Unidos, quando os engenheiros concebiam seus edifícios os faziam em aço ou em concreto. O consagrado engenheiro Fazlur Khan quebrou essa barreira em 1969 (estamos quase 50 anos atrasados, com raras exceções) pela mistura de estruturas de aço e de concreto em um único sistema construtivo utilizado em um edifício de 20 andares calculado por ele. De lá para cá, o meio técnico americano tem aprimorado o entendimento da economia relativa entre os materiais, desenvolvido e usado combinações inovadores de ambos resultando no crescimento do uso combinado desses materiais.

De qualquer forma, em edifícios de andares múltiplos é necessária a comparação do custo para cada projeto específico a fim de determinar o que é mais econômico entre concreto x aço. Edifícios residenciais são uma exceção, uma vez que tendem a ser de concreto moldado in loco, pois não demandam rapidez de construção, devendo o desembolso do incorporador seguir o fluxo programado de vendas e receita além do que em tais construções a parte inferior da laje de concreto é usada como forro acabado, fato impossível de se conseguir em pavimentos estruturados em aço.

Por outro lado, edifícios de escritórios, grandes lajes corporativas, hotéis, hospitais, escolas, shopping centers e edifícios-garagem podem ser feitos de aço e de concreto pré-moldado; a escolha da estrutura, apesar de depender, em grande parte do custo local, no entanto, é influenciada pela velocidade de construção. Se o edifício pode ser construído rapidamente com um material em particular e pode trazer uma antecipação do retorno sobre o investimento, a velocidade de construção obrigatoriamente entrará na equação de custo e o sistema estrutural ideal será aquele que superar as desvantagens e explorar as vantagens intrínsicas a cada material em um sistema estrutural unificado.

Recentes inovações, dentre elas o adventos dos superplastificantes e os concretos de alta resistência, os quais tem permitido a adoção do concreto armado e protendido com grandes vantagens também devem ser exploradas.

O aumento da competição global, da demanda de produtos da indústria de construção civil e dos avanços nas tecnologias das empresas estrangeiras torna a execução rápida e a redução de custo do produto sob encomenda uma preocupação constante entre as empresas brasileiras na busca da vantagem competitiva. Precisamos nos preparar.

Nesse ambiente, o mercado determina o preço, e o custo determina a rentabilidade, fazendo com que o crescimento e a sobrevivência das empresas do setor dependam da sua capacidade em oferecer produtos e serviços diferenciados atendendo ao prazo, à qualidade e ao preço esperado por seu segmento de mercado. Isso só será obtido com a transformação de canteiros de obras em canteiros de montagem.

Considerando que o planejamento e execução da estrutura está no caminho crítico de um empreendimento e sabendo que a perfeita execução é essencial e impacta o resultado final dos demais sistemas do edifício, influenciando no montante das despesas indiretas, a escolha dos materiais estruturais e forma construtiva terá impacto direto na decisão de como construir.

Enfim, a construção industrializada é a base para uma produção eficiente e um salto de produtividade para a construção civil brasileira. Desenhei um business plan e estou disposto a implantá-lo em parceria.

* Alexandre Vasconcellos é conselheiro no Consic (Conselho Superior da Indústria da Construção) da Fiesp, consultor sênior de educação superior da ARL Engeduca e professor do curso de Especialização em Projetos Estruturais da FEC na Unicamp.