Contêiner agora funciona como Lego de gente grande

Da Redação – 10.06.2016 – 

Normalmente adotados no transporte de carga, as caixas metálicas ganham nova vida após 20 anos de uso e são transformadas em moradias arrojadas dentro e fora do Brasil.

Que os contêineres são ótimas opções para o transporte de cargas, todo mundo já sabe. Fechadas e resistentes, as caixas metálicas são as fiéis companheiras dos navios de carga que saem dos portos de todo o mundo. A parceria geralmente tem data para acabar, ou seja, depois de 20 anos o contêiner é aposentado da logística. A vida útil contém duas etapas distintas, sendo que uma reforma aos 10 anos de utilização garante a década restante de operação no mar e em terra.

Após ser tirado de circulação, o contêiner pode se tornar matéria prima para habitação, uma prática relativamente comum no exterior e que tem ganhado força no Brasil. O aumento da procura por essa alternativa de habitação é comprovado pelo desempenho da Greville, empresa que atua com a venda e locação de contêineres.  Segundo Cláudia Cid, gerente de Projetos da companhia, os módulos habitáveis começaram a fazer parte do universo da empresa em 2011 e já correspondem a 20% dos negócios.

Nos projetos de moradia,  os módulos são ajustados com a colocação de portas e janelas de acordo com o projeto adotado.  Para ser habitável, a caixa metálica passa por novos tratamentos anticorrosivos e pela aplicação de revestimento interno, isolamento térmico e acústico. “Esse tipo de projeto é novo no Brasil. Para a execução do trabalho, contamos com uma equipe própria de engenheiros, mas existem casos de clientes que nos trazem o projeto pronto e nós o executamos”, conta.

Normatizados em diversos tamanhos para o transporte modal, os contêineres para o desenvolvimento de módulos habitáveis são os tradicionais de 10, 20 e 40 pés. Essas dimensões, de acordo com Cláudia, tendem a facilitar o encaixe de um módulo ao outro em projetos que contenham mais de um cômodo. “Utilizamos os tamanhos padrão para que a planta seja montada como um “Lego’”, diz Cláudia.

A configuração citada por Cláudia é aplicada em projetos internacionais, incluindo o Keetwonen, condomínio universitário construído em Amsterdam. O empreendimento, composto por mil casas para estudantes, foi realizado com contêineres modificados fornecidos pela China. Adaptadas, as habitações são todas equipadas com banheiro, cozinha, varanda, sala de estudos e contam, ainda, com o aquecimento fornecido por um sistema central de caldeira a gás natural.

Na América Latina, o exemplo fica por conta da Container City. Localizada em Cholula, no México, ela tem 5 mil m² de área urbana e emprega 50 contêineres. Os materiais foram transformados pelo designer Gabriel Esper Caram e, juntos, compõem uma verdadeira cidade, com bares, lojas, livrarias, galerias de arte e até hotéis. Os módulos, empilhados uns nos outros, criam becos, ruas e pátios.

Além da vantagem da não geração de entulho (tornando a finalização da construção mais rápida), os módulos habitáveis contribuem para a reciclagem dos contêineres. Mesmo assim, os usados não são a única opção oferecida. Os clientes que tiverem interesse em módulos habitáveis feitos a partir de contêineres novos também serão atendidos. “Do ponto de vista sustentável é melhor optar pelo usado, pois consiste em retirar de circulação um contêiner que não esteja mais apto para o transporte. Entretanto, já desenvolvemos projetos com novos”, conclui Cláudia.