Crise mostra que é possível ter mobilidade urbana sustentável

Por Roberta Marchesi – 15.06.2018 – 

No Brasil, os trens e metrôs são responsáveis por apenas 7% dos deslocamentos diários, mostrando a dependência que o país tem do transporte baseado nos combustíveis fósseis

Nas últimas semanas, em função do desabastecimento de combustíveis provocada pela paralisação dos caminhoneiros, as pessoas que conseguiram se deslocar nas diversas regiões metropolitanas brasileiras tiveram a oportunidade de experimentar os benefícios de uma mobilidade urbana adequada e sustentável. Redução drástica no nível dos congestionamentos, disponibilidade de vagas de estacionamento, melhoria significativa da qualidade do ar e agilidade nos deslocamentos. Esses foram apenas alguns dos benefícios sentidos pelo cidadão brasileiro, mas que são a realidade do dia a dia de cidades que evoluíram no aparelhamento da mobilidade urbana.

Exemplos exitosos de cidades ao redor do mundo, que conseguiram desenvolver verdadeiras redes de transporte a serviço do cidadão, foram estruturadas a partir do transporte de alta capacidade, como é o caso trens, metrôs e VLT, integrados física e tarifariamente com os demais modos de transporte da cidade, especialmente na primeira e última milhas. Nessas cidades, o transporte de passageiros sobre trilhos responde por um percentual de 40 a 45% dos deslocamentos diários da população, contribuindo para a estruturação dos grandes fluxos de transporte, ao mesmo tempo em que garante a rapidez, a regularidade e a maior segurança desses deslocamentos.

Aqui no Brasil, por outro do lado, os trens e metrôs são responsáveis por apenas 7% dos deslocamentos diários, mostrando a dependência que o país tem do transporte baseado nos combustíveis fósseis, o que explica os enormes congestionamentos diários que vivenciamos nas grandes e médias cidades.

Londres e Nova York tem, sozinhas, mais de 400 km de trilhos

Enquanto o Brasil todo consolida uma rede de transporte sobre trilhos com cerca de 1000 km, cidades como Londres ou Nova York tem redes superiores a 400 km cada uma, sem falar na expansão acelerada dos países asiáticos. Um pouco mais próximo da nossa realidade na América Latina, a Cidade do México, que teve a sua rede de metrô inaugurada no mesmo ano daquela da cidade de São Paulo, já consolida mais de 220 km em trilhos, enquanto que a nossa maior Metrópole não chega a 80 km.

Para que possamos voltar a sentir os benefícios de uma adequada mobilidade urbana, agora de forma permanente, é preciso que os nossos governantes percebam que não há solução de mobilidade para médios e grandes centros que não envolvam o desenvolvimento de redes de transporte sobre trilhos. Com a proximidade do período eleitoral é fundamental que os novos líderes que se anunciam apresentem propostas concretas para avançar com as redes de mobilidade sobre trilhos no Brasil, priorizando o seu investimento em todas as capitais brasileiras. E cabe a nós, eleitores, votar com sabedoria, buscando eleger líderes com coragem para mudar velhos paradigmas e avançar forma efetiva com a qualidade da mobilidade urbana.

Roberta Marchesi é Superintendente da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), Mestre em Economia e Pós-Graduada nas áreas de Planejamento, Orçamento e Logística