Equipamentos off road: mercado vai voltar pulverizado

John-Deere-is-introducing-the-524K-II-544K-II-and-624K-II-utility-class-wheel-loadersPor Rodrigo Conceição Santos – 13.06.2016 –

Especialistas enxergam mudança no perfil de venda de máquinas de construção e fabricantes de instalações recentes encontram na exportação a sobrevivência à crise.

Dois players do mercado de equipamentos off road que instalaram fábrica no país em 2014 – a americana John Deere e a chinesa XCMG – convivem com uma realidade diferente dos seus concorrentes. Primeiro porque, para quem começou recentemente, como eles, toda venda é crescimento. Depois pelo fato de que essas empresas já começaram atendendo um mercado comprador diferente, descentralizado das grandes construtoras. Outra peculiaridade está na idade da frota. Com uma população majoritária de equipamentos novos em campo, não lhes resta a oportunidade de fiar o faturamento no pós-vendas, algo que tem segurado operações de fabricantes com estrutura local mais antiga. Nessa conjuntura, a XCMG e a John Deere encontraram outras formas de sobreviver à crise e se preparam para a retomada do mercado de infraestrutura, onde os compradores devem ser outros e o modo de vender também, abrindo oportunidades iguais aos fabricantes.

Durante a crise, a John Deere encontrou nas exportações um formato de rentabilizar. A empresa, segundo Roberto Marques, diretor de vendas para as áreas de construção e florestal no Brasil, antecipou a internacionalização das operações da fábrica, inaugurada em 2014 em Indaiatuba (SP). Hoje, ela tem parte da produção enviada não só a países latino-americanos, mas também a países africanos, Rússia e outras localidades mais pontualmente.

A XCMG também encontrou no mercado latino-americano a forma de atravessar a crise econômica do Brasil. A empresa, cuja fábrica construída em Pouso Alegre (MG) tem capacidade para produzir até 7 mil equipamentos ao ano, está produzindo cerca de 1,2 mil e boa parte disso atende os mercados Hermanos e até os Estados Unidos esporadicamente. “Acreditamos no crescimento do Brasil. Há urgência na realização de obras e temos boas expectativas a curto prazo, inclusive em função das privatizações, que devem movimentar o setor de obras rodoviárias, para o qual temos uma boa linha de equipamentos”, diz Henrique Pereira, gerente de vendas da companhia.

Afonso Mamede, da Sobratema
Afonso Mamede, da Sobratema

Ao explanar“certeza na retomada do mercado de construção pesada”, ele avalia que aqueles fabricantes que estiverem melhor preparados ganharão um novo mercado. “E as oportunidades não levarão marcas. O perfil dos compradores mudou. Ninguém mais compra equipamento off road pela marca, seja ela qual for. A venda agora é técnica, de boas condições de preço e negociação”, defende ele.

Afonso Mamede, presidente da Sobratema (a associação representa os fabricantes de equipamentos pesados e também as construtoras de infraestrutura) valida a opinião do executivo da XCMG. “Os grandes ficaram pequenos e os pequenos ficaram grandes”, sintetiza. “E esses novos compradores não olham marca”, completa.

Segundo ele, há exemplos de construtoras menores que compraram equipamentos sem especificações técnicas corretas e a obra não aconteceu. Com esse exemplo, ele entende que esse novo padrão de consumo gerará alguns vieses, mas o mercado se autocorrigirá com a experiencia, privilegiando os fabricantes dos melhores equipamentos e serviços de pós-vendas”.

Roberto Marques, da John Deere
Roberto Marques, da John Deere

Roberto Marques, da John Deere, também acredita na retomada do mercado de infraestrutura brasileiro e avalia que ela não deve demorar e terá ritmo acelerado. “Acredito em índices anuais de crescimento acima de dois dígitos”, diz.

O executivo apoia sua perspectiva na demanda represada de obras de infraestrutura e também no fato de que novos investidores privados ganharam importância como compradores neste cenário mais pulverizado. “Os equipamentos de pequeno e médio porte devem ser os mais demandados, atendendo a um cenário de obras de infraestrutura menores”, diz.

O perfil das obras, aliás, é consonante à pulverização do mercado de equipamentos off road, na opinião de Mario Humberto Marques, vice-presidente da Sobratema. Para ele, viveremos uma nova era na qual as obras menores, executadas em grande parte por construtoras menores, demandarão o maior volume de máquinas do mercado. “É o fim das megaconstruções, que mobilizavam um grande parque de equipamentos em atendimento a um pequeno grupo de construtoras”, avalia ele.

E a frota obsoleta?
Apesar do otimismo com a retomada do mercado, os especialistas ouvidos por esta reportagem reconhecem que deverá haver um delay entre o retorno das obras e a necessidade de compra de máquinas. Afinal, há construtoras com taxa de ociosidade da frota acima de 75%, e essas máquinas estão prontas para agir.

“Por outro lado, há muitos equipamentos usados, de grande produção, sendo exportados. Isso ocorre em função da depreciação do Real e também porque alguns países, principalmente na América Latina, têm legislação aberta para esse tipo de transação”, conclui Marques, da John Deere, ponderando que o delay pode ser menor que o esperado.