Iguá Saneamento: uma “startup grande” no setor

Por Nelson Valêncio – 25.05.2018 –

Gustavo Guimarães, presidente da concessionária, explica como a companhia encampou o DNA de inovação para manter-se no setor

A Iguá Saneamento, uma das empresas privadas do setor, tem 18 operações em cinco estados e atende, direta ou indiretamente, cerca de 6,6 milhões de pessoas. Uma delas é a parceria público privada (PPP) com a Sabesp para o Sistema Produtor do Alto Tietê (SPAT). A iniciativa ampliou a capacidade da estação de tratamento de água (ETA) de Taiaçupepa em 50%, passando para 15 m3/s e atinge cerca de 5,5 milhões de pessoas.

Outro destaque é a concessão de Cuiabá, cobrindo os serviços de água e esgoto para 600 mil pessoas, que terá investimentos de R$ 240 milhões somente nos próximos dois anos. As demais operações, sejam PPPs ou concessões plenas, incluem casos como Paranaguá (PR) e Tubarão (SC), cidades de médio porte, e em Andradina e Piquete, ambas no interior de São Paulo. Apesar dos números, a Iguá é vista pelo seu presidente, Gustavo Guimarães, como uma “startup grande”. De acordo com ele, o DNA de startup é a persona da companhia para manter-se no mercado desafiador de saneamento.

Guimarães (de pé): aposta no espírito de startup para vencer desafios da operação

Um exemplo é a forma inovadora que a empresa vai tratar o consumo de energia, seu segundo maior custo. Hoje, a Iguá compra 100% de seu consumo no mercado cativo, mas está prestes a investir em energias renováveis dentro de seu próprio espaço. É o caso da estação de tratamento de esgoto (ETE) de Tubarão, cujo projeto otimizado vai permitir a ativação de uma planta de geração solar de 3 MW, tornando a unidade autossuficiente. “O investimento de capital está dentro do projeto da ETE”, resume Guimarães, mostrando a face de startup grande da Iguá.

O caso de Tubarão também ilustra a singularidade das operações: a cidade tem uma rede de água com cobertura total, mas o processo não se repete na parte de esgoto, onde os projetos começam com as ETEs e avançam para a infraestrutura de coleta (que demanda uma ação de comunicação com a população local, um assunto considerado estratégico pelo executivo). Na avaliação de Guimarães, a infraestrutura de esgoto será implantada nos próximos três anos na cidade catarinense.

Em Paranaguá, onde a concessão é plena, a rede de esgoto está  pronta, mas não a ETE. A infraestrutura de água também replica o perfil das operações e está completa. Resumidamente, Guimarães explica que a Iguá tem um cenário com cerca de 5,5 mil km de redes de água nas áreas onde opera, o que significaria 99,5% da área de cobertura. Nos negócios de esgoto o processo é mais complexo: são 3 mil km de rede instalada, mas a previsão de cobertura necessária implica outros 2,4 mil km, ou seja, quase 45% da infraestrutura final desejada de 5,4 mil km.

Cuiabá, a operação fora da curva em termos de dimensão, pesa na companhia. Um dos focos é a setorização do abastecimento de água, racionalizando o processo. Outra frente é a substituição das redes antigas, com foco na redução das perdas. Hoje, o índice da capital mato-grossense é de 37%, mais próxima da média nacional do que do percentual de 25% que a Iguá identifica em suas operações nas outras cidades. A meta, de acordo com o presidente, é trazer Cuiabá para esse nível (25%) nos próximos cinco anos.

Capacitação de mão de obra é um dos cinco alvos do programa de startups dentro da Iguá

O espírito de startup grande não exclui as startups nativas, meta do programa que a companhia acabou de lançar para reforçar seu DNA. A empresa vai selecionar as startups até julho, com foco em cinco áreas: tecnologia, perdas de água, comunicação, treinamento de colaboradores e fintech (financiamento). Os temas refletem a estratégia desenhada e dão uma espécie de mapa da concessionária.

A comunicação é vista como fundamental em casos como os da ETE já construída, mas que vai implicar a construção de redes, ou seja, abertura de valas, mudança em trânsito e no dia a dia das pessoas. Novos meios de financiamento podem reduzir a inadimplência e influir no resultado das operações. A automação e recursos como internet das coisas podem diminuir as perdas de água e trazer mais dados para uma análise da infraestrutura. São, como diz Guimarães, “provocações”, palavra usada por ele como substituta, às vezes, para disrupção.