Invasão de cabos submarinos baixa preço de dados no Brasil?

Da Redação – 05.10.2017 –

Não necessariamente, segundo especialistas que discutiram a chegada de quatro grandes cabos ao país até 2018. Eles participaram de um painel sobre o assunto ontem durante painel na Futurecom em São Paulo

A invasão de cabos submarinos prevista para ser finalizada até 2018 dobra a presença dos atuais quatro que fazem a ligação entre o Brasil e os Estados Unidos e, mais do que isso trazem a conexão direta com África e com a Europa, duas novidades na geoestratégia do setor. Mas a oferta renovada vai necessariamente baixar o preço? A resposta é uma incerteza. Para Artur Mendes, diretor de operação da Angola Cables, a queda de preços do transporte submarino de dados entre o Atlântico Norte e o Sul já teria sido equilibrado. Ele acredita que o custo seja quatro vezes maior do o transporte entre o Atlântico Norte e a Europa. Dados citados por Marco Canongia, diretor da Lumicom e coordenador do painel, indicavam que os valores já foram dez vezes maiores em 2014.

Mendes sabe do que está falando: a Angola Cables tem seus negócios baseados na comercialização de circuitos internacionais de voz e dados por cabos submarinos e terá dois projetos ativados nos próximos anos. O primeiro deles é o cabo Monet, que faz a ligação entre Santos, Fortaleza e Miami e cuja conclusão está prevista para novembro desse ano. Já o South Atlantic Cable System (SACS) interliga a África à América Latina, conectando Luanda, em Angola, à Fortaleza e deve entrar em operação em julho de 2018. O especialista lembra que apesar da maior oferta, a demanda continua crescendo, sendo que na América Latina a demanda por banda larga teria um índice de crescimento anual de 40%.

Mendes destaca ainda que vários fatores influenciam na precificação do transporte submarino de dados e que ele sozinho responderia por entre 5% e 10% do custo total de uma oferta de banda larga, considerando todas as redes envolvidas. Segundo ele, na África o peso do transporte nos backbones terrestres é infinitamente maior na composição do preço que chega ao consumidor final. Para Eduardo Falzoni, CEO da GlobeNet, também dona de infraestrutura no segmento, lembra que há houve uma queda significativa de preços no mercado brasileiro e avalia que isso não é sustentável a longo prazo. Para ele, metade dessa conta é paga pelos fornecedores de tecnologia e os outros 50% vão ser estabelecidos pelos clientes finais. “Mas os investimentos precisam ser pagos”, argumenta.

Para Rafael Arranz, diretor da Telxius, o mercado de cabos submarinos tem ciclos, com a ativação de infraestruturas similares ao mesmo tempo e já opera com a filosofia de coopetição. A própria Telxius é um exemplo disso – braço da Telefônica para gestão de ativos como torres de telefonia e os cabos transoceânicos. A empresa também conhece a troca de gerações, pois tem um construído no ano 2000, ligando o Brasil aos Estados Unidos, com entrada por Miami, e agora opera o segundo, mais rápido e em águas mais profundas. O novo cabo tem terminação em Virginia Beach e, de lá, se conecta à outra infraestrutura que liga a terminação ao norte da Espanha.

João Flexa de Lima, principal executivo da EllaLink, empresa que vai ligar o Brasil diretamente ao norte da Espanha, com previsão de ativação do cabo em 2018, é otimista. Ele destaca que todos os modelos de negócios mudaram desde a primeira fase de ativação de cabos submarinos transoceânicos da década de 2000. O volume explosivo de dados, impulsionado por aplicações como redes sociais, de um lado, e a neutralidade dos projetos, de outro. “Antes havia uma concorrência, com as operadoras construindo seus próprios cabos e isso mudou, sendo que novos investidores fazem parte desse cenário, oferecendo infraestrutura”, diz. Para Lima, a nova configuração está agregando tecnologias com mais baixa latência (60 milissegundos, 40% a menos do que a geração anterior) e muito maior capacidade. De acordo com ele, o que existe hoje é um ambiente de coopetição.

A chegada dos novos cabos submarinos transoceânicos – cuja vida útil poderá muito bem ultrapassar a barreira dos 25 anos – não aposenta a geração anterior. Com cerca de 17 anos, os cabos atuais devem ter pela frente, pelo menos teoricamente, oito anos. Os especialistas, no entanto, avaliam que a fibra não envelhece e que os aparatos do entorno dos cabos podem ser atualizados, ou seja, haverá uma capacidade relativamente considerável.

Para pensarmos: a rota Atlântico Norte – Europa tem cerca de 15 cabos ativos, enquanto a Atlântico Sul – Europa deve ter o seu primeiro agora com o projeto da Ellalink. Talvez seja um ponto interessante a se considerar nessa geoestrategia. Dados citados no evento pelo coordenador do painel, Marco Canongia, indicam que haveria 1 milhão de km de cabos submarinos instalados no mundo, com uma demanda de tráfego crescendo a taxas de 15% ao ano (2011-16) e com capacidades de transmissão acima dos 50 terabites por segundo.