Orange define novos parceiros de rede SDN até 2018

Por Nelson Valêncio – 07.07.2017 –

Nessa entrevista, Felipe Stutz, diretor de Desenvolvimento de Negócios e Soluções de rede Orange Business Services para a América Latina, explica como a operadora monta sua estratégia de oferta de redes definidas por software (SDN) e os recursos de virtualização de funções de rede (NFV). Com a plataforma principal já escolhida, a operadora deve finalizar a escolha de parceiros que vão fornecer a chamada white box. Também chamada de CPE universal (customer premises equipment), esse dispositivo é ativado no cliente final e é o hardware “matador” para ativar os recursos de SDN e NFV. Hoje, a Orange já opera com CPEs da Cisco e da Juniper, mas a lista de parceiros analisados inclui cerca de 10 fabricantes. Até 2018 a operadora define essa etapa.

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Stutz: papel dos executivos de TIC amplia-se com SDN e NFV

Infraroi – Estamos falando em mudanças de conceitos de rede, mas a rede em si continua importante?

Felipe Stutz (FS): A rede, na visão do gestor de TI e telecomunicações (TIC), é um habilitador para os negócios. Fala-se muito de transformação digital e não de conectividade e o ambiente de conectividade tornou-se complexo. Não se fala mais de rede privada ou pública, mas continua havendo esse elemento que habilita o negócio e o gestor de TIC, na interação com seus pares que estão de olho nas demandas de negócios, precisa acompanhar a infraestrutura. A Orange olha a demanda do cliente e a digitalização dentro da empresa, todos os serviços que a área de TI precisa para a colaboração dos seus usuários. Outro passo é a digitalização para fora, ou seja, permitir que os nossos clientes se comuniquem com os clientes dele via recursos como contact center ou rede de Internet das Coisas (IoT). Um terceiro ponto é integrar toda a conectividade com segurança. Em resumo: mais do que prover a rede é preciso trabalhar com os gestores de TIC para entender a demanda deles e ajuda-los a ter uma solução mais adequada aos negócios deles.

Infraroi – E a filosofia de infraestrutura de rede da Orange?

FS: Hoje é uma combinação de redes híbridas, mantendo a infraestrutura privada ao mesmo tempo que se integram acessos e provedores locais. Isso nos dá uma capilaridade para fazer a integração, além de integrar os provedores que estão na nuvem. A rede global continua sendo um ativo importante, mas é um dos pilares da integração, junto com os acessos locais e com a estrutura de nuvem. A rede da Orange vai continuar mantendo a infraestrutura, expandindo a integração local. Globalmente temos relacionamento direto com mais de 40 provedores. A estratégia é mantermos acordos locais, inclusive na América Latina, nos países com maior volume de demanda. Há o controle fim a fim da solução dos provedores locais, o que nos permite garantir os acordos de nível de serviço (SLA) e o diferencial da Orange. Nessa integração é preciso garantir uma operação alinhada, ter canais estabelecidos de gestão de incidentes.

Infraroi – Na prática, a rede funciona como?

FS: No Brasil e na América Latina mantemos backbone e mais de 90 pontos de presença distribuídos. Na América Central e Caribe mantemos acordos por meio de provedores regionais. O foco principal são acessos Ethernet, onde se pode ter maior controle e os clientes principais são multinacionais com conexões na região. Hoje, gerimos e provemos mais de 6 mil conexões na América Latina.

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EasyGo, lançado no final de 2016, concretizou a oferta de NFV da Orange e o conceito de rede como serviço (NaaS)

Infraroi – E a visão sobre redes definidas por software (SDN) e virtualização de funções de rede (NFV)?

FS: Há uma grande mudança acontecendo com a virtualização de serviços na rede e o que vai haver nos próximos anos é a ativação de serviços com maior agilidade, dando ao usuário maior flexibilidade no acesso aos serviços, inclusive com contrato por demanda. Para fazer, obviamente, é necessário controle e gestão, usar uma plataforma mais inteligente e política de segurança. O SDN aparece com uma camada de gestão, a orquestração, usada para automatizar a gestão das funções, desde roteamento, controle de aplicação, de segurança, etc. Permite a criação de um portal de serviços com acesso direto pelo usuário. Teremos uma virtualização na ponta, com a instalação, entre outros, de equipamentos que permitam essa virtualização, as chamadas white boxes, que substituem quatro ou cinco dispositivos diferentes que seriam instalados na ponta. Diminui-se a complexidade, agregam-se benefícios e ativam-se serviços mais rapidamente.

Infraroi – Como são os parceiros da Orange nesse processo de adoção do SDN e do NFV?

FS: Existe um ecossistema que está sendo definido. Nossa plataforma de SDN é da Ciena e um dos critérios é que ela fosse aberta, permitindo que a Orange integre diferentes fabricantes porque temos um trabalho forte de integração das APIs. Na ponta do processo estamos exatamente na definição de soluções de white boxes e há vários parceiros no radar. Há um amadurecimento nessa etapa, com fabricantes se adaptando a um cenário que combine escalabilidade e baixo custo de implantação. Dentro do cliente há soluções da Cisco e Juniper e – até o final do ano – teremos uma definição de white boxes, ou seja, do chamado customer premise equipment, o equipamento colocado efetivamente na ponta. Já temos testes com fabricantes, mas a ativação de fato acontece em 2018. Em termos de recursos de aceleração, temos parceria com a Riverbed e, na área de segurança, com a Palo Alto. Na plataforma da Ciena há o EasyGo, um recurso de virtualização de serviços na ponta, para escritórios pequenos, de forma que eles podem, a partir de portal SDN, fazer pedido da instalação e receberem o equipamento plug and play, conectando-se na rede e tendo acesso às configurações. Uma empresa de consultoria americana já está operando o recurso em fase piloto.

Infraroi – Quais são as expectativas da Orange a respeito das white boxes?

FS: Nossas áreas de engenharia e pesquisa avaliam quanto as soluções são escaláveis, ou seja, o quanto elas permitem escalar funcionalidades de redes na ponta. Temos uma RFP no mercado e um dos focos é analisar a linha de evolução da tecnologia de cada provedor, associando a questão de custo à capacidade de crescimento, de escalabilidade. Estamos tentando definir a solução com menor custo e mais capacidade de entrega de qualidade de serviços. Uma das barreiras é definir um limite de serviços que podem ser virtualizados. Essa é uma das discussões com os fabricantes, incluindo a padronização do processo. O universo de CPE é um cenário de competição entre pelo menos uma dúzia de players e o objetivo da Orange é não limitar a quantidade de possibilidades. Vamos realmente avaliar as possiblidades de mercado.

Infraroi – E esse evento recente na Argentina?

FS: Trata-se de um encontro anual que fazemos com decisores na área de TI. A ideia é que nossos profissionais passem para os clientes uma visão das soluções de conectividade e colaboração. Ao mesmo tempo, aproveitamos para ouvir os clientes e permitir que eles compartilhem experiências por meio de painéis. Nesse ano, o tema foi Connecting the dots (Conectando os pontos). Parceiros como a Cisco e a Riverbed também participam com soluções que fazem parte do ecossistema da Orange. Há um estreitamento no contato com executivos globais e o que se vê é um papel importante do gestor de TIC nessa transformação digital.