Softwares, “para que te quero” na construção civil

Por Débora Lopes – 05.09.2016 – 

Sistemas para compartilhamento remoto de projetos em 3D, para melhoria de projetos estruturais e até mesmo para refinar a produção e distribuição de concreto aos canteiros despontam como verdadeiros otimizadores de obras.

TRIMBLE connectA quem defende que as etapas de projeto devem ser mais cuidadosas nas construções brasileiras, as empresas de TI têm um recado: use softwares. É assim que os desenvolvedores da área têm trabalhado para convencer a cadeia da construção civil, tradicionalmente conservadora, mas que tem entendido que é possível ser mais criterioso nas etapas pré-obra e sem perder muito tempo com isso.

A Trimble, desenvolvedora californiana de softwares de posicionamento, por exemplo, aposta que é na concepção dos projetos de engenharia e arquitetura que está o filão para a automatização na construção civil. A empresa desenvolveu o Trimble Connect, produto destinado à esse fim.

Lançado durante o Concrete Show South America, realizado em São Paulo em agosto, a plataforma permite o compartilhamento online de arquivos 3D de diversos softwares de mercado, mesmo aqueles que não são da Trimble.

Na prática, os diferentes atores que participam da criação do projeto, como engenheiros e arquitetos, conseguem acessar os arquivos uns dos outros sem precisar instalar diferentes softwares. Desse modo, o engenheiro conseguiria visualizar e editar o projeto enviado pelo arquiteto sem fazer o download da ferramenta utilizada por ele, por exemplo.

Para Fátima Gonçalves, gerente de desenvolvimento de negócios da Trimble, o novo sistema torna o período de finalização dos projetos mais curto. “Por se tratar de uma ferramenta online, os profissionais não precisam estar no mesmo local para verificar o projeto um do outro e comparar as estruturas de arquitetura com os aspectos de engenharia”, explica. “Quando esse processo se dá de forma remota, eliminamos o tempo que todos os especialistas envolvidos na obra perderiam até se encontrarem para discutir essas questões”, complementa.

Segundo ela, a visualização dos arquivos via Trimble Connect também pode ser feita por dispositivos móveis e mesmo em locais nos quais o acesso à internet é limitado. Para isso, é preciso apenas que o usuário tenha o atalho do programa em seu device. “O profissional vai conseguir visualizar o projeto compartilhado e fazer suas considerações ali mesmo. Assim que ele retornar a um local com internet, o Trimble Connect é sincronizado e, a partir daí, todos os outros envolvidos conseguirão ter acesso às observações feitas por ele”, conta Fátima.

CAD TQS

Rapidez para cálculos estruturais
Outro exemplo de quem direciona suas soluções à etapa de concepção de projetos é a brasileira TQS Informática. A companhia, que trabalha com a criação de softwares para cálculos estruturais de concreto – seja ele armado, protendido ou de alvenaria desde meados de 1986 – lança a 19ª versão do seu produto carro-chefe, o CAD TQS.

Com a função de auxiliar os engenheiros a estabelecer a dimensão e a capacidade de sustentação dos elementos que compõem uma estrutura, o software traz funcionalidades como o cálculo refinado da relação pilar-parede e núcleo rígido, detalhamento de armaduras e a exportação de projetos em PDF 3D.

O novo software traz duas características singulares: o processamento multi-thread, que permite que vários pilares do projeto sejam processados ao mesmo tempo pelo sistema, e a discretização – divisão das estruturas em pequenos cubos – de pilares.

No primeiro caso, a vantagem principal seria a redução do tempo de cálculo de um projeto de até 60% em relação à versão anterior do software, de acordo com a empresa. O processamento paralelo dos pilares dá origem a uma série de listas contendo os resultados matemáticos para cada pilar, o que facilitaria o acesso do usuário aos resultados – que poderiam seguir rapidamente para outra etapa do projeto.

Já no caso da discretização, os ganhos são outros. O objetivo da ferramenta é dividir os pilares em cubos, a fim de melhorar a percepção do usuário sobre eles e facilitar o tratamento da estrutura. Para tanto, o CAD TQS cria uma espécie de malha quadriculada, com a qual o profissional identifica quais elementos da obra sofrem mais pressão e demandam mais esforços. De acordo com a empresa, essa funcionalidade nasce para atender a uma tipologia de edifícios muito comum no Brasil, que são os núcleos de concreto que englobam toda a região de elevadores e escadas. De acordo com a companhia, os núcleos são formados, geralmente, por um pilar com geometria complexa e a sua representação por apenas uma barra não seria tão realista. A versão 19 muda esse cenário.

Atendendo a produção e a entrega de concreto
CMDbatch hardwareCom os projetos em mãos, o passo seguinte é dado no próprio canteiro de obras. Focada justamente nessa etapa, a Command Alkon, fornecedora de sistemas em hardware e software para concreteiras, oferta um sistema para automação de centrais dosadoras de concreto.

Chamado de Commandbatch, o sistema automatiza todo o processo de pesagem, carregamento e dosagem das centrais. Segundo a empresa, a solução permite a troca automática das caixas de agregados e o monitoramento do fluxo e comportamento de cada material armazenado por elas. O acionamento inteligente dos vibradores e aeradores e a realização de diagnóstico e suporte remoto também são funcionalidades da plataforma. “O bacana é que o Commandbatch vem com um sistema de controle que chamamos de PWS. Ele faz o gerenciamento da umidade dos materiais na central de concreto, realiza leituras e avisa o usuário”, conta Rafael Diaz, diretor comercial da companhia.

De acordo com ele, as principais vantagens de um sistema automatizado são a rapidez na produção, que varia de acordo com a demanda da concreteira cliente, e a qualidade do concreto usinado, o qual passa a ser fabricado com o controle e gerenciamento de diferentes aspectos de sua composição.

Diaz conta que a automatização ofertada pela Command Alkon está presente em mais de 11 mil concreteiras em todo o mundo, número que faz do sistema o produto carro-chefe da companhia inglesa. Com a solução consolidada no mercado, a empresa mantém o foco na atualização de outra oferta, o BetonMIX.

Trata-se de um software voltado a gestão e despacho do concreto, abrangendo o setor comercial, de programação e de distribuição das fabricantes. “Nós entendemos que o concreto é um produto perecível e seguindo essa linha de raciocínio a logística correta é fundamental para manter a qualidade do produto”, diz Diaz.

De acordo com ele, a partir do momento em que o vendedor fecha um novo pedido, o sistema faz o gerenciamento de todo o processo de fabricação, delimitando as datas e horários de produção e entrega. Adicionalmente, o BetonMIX cuida da emissão das notas fiscais, romaneios e documentos de pesagem.

No mercado internacional há vários anos, o sistema já está instalado em cerca de 500 concreteiras brasileiras – número que a Command Alkon pretende expandir nos próximos anos com a implementação de melhorias no software. “O mercado de construção brasileiro demanda tecnologia e é importante trabalharmos para atender essa necessidade, seja qual for a etapa produtiva”, finaliza Diaz.