Uber e cidade de São Paulo ensaiam plataforma de Mobilidade como Serviço

Roberta Marchesi – 11.12.2019 – 

Os movimentos inovadores não param de acontecer e, seguindo esta corrente, está sendo uma grata surpresa a inclusão do país em um programa – inédito na América do Sul – de mobilidade urbana voltada para serviços – MaaS, sigla em inglês de mobilidade como serviço, onde o passageiro do sistema de transporte público coletivo é tratado como cliente.

Em São Paulo, a plataforma Uber, em parceria com a Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos, agregou a seu aplicativo de transporte um novo recurso que integra opções de deslocamentos dentro do sistema de transporte público com o transporte privado oferecido pelo aplicativo.

Ainda em fase inicial, o projeto chamado Uber Transit, está sendo oferecido paulatinamente aos clientes da plataforma dando ao passageiro opções de modais para escolha da melhor e mais eficiente maneira de se deslocar na cidade, podendo utilizar a mescla de transporte público e privado proporcionando agilidade e comodidade aos usuários do sistema de transporte. As instruções e informações fornecidas aos clientes do Uber Transit vão desde os preços normalmente informados pelo aplicativo para o transporte privado, como as rotas e preços do transporte público para o destino desejado pelo cliente. Para efeito de comparações entre as rotas oferecidas, a plataforma exibe opções de horários de partida e chegada, além do tempo de caminhada para o modal escolhido. A ideia é que o usuário componha o trajeto desejado escolhendo entre as opções de modais mais convenientes.

A integração tarifária ainda não está contemplada nesta fase do projeto no Brasil, porém a Uber já faz testes em outras cidades do mundo, e está desenvolvendo um piloto em Denver, capital do Colorado, nos Estados Unidos. O que é uma pena, pois o conceito de flexibilidade se estende às opções de pagamento, facilitando a vida do cidadão e oferecendo as opções de pagamento nas modalidades pré-pago ou pós-pago. Assim, seria possível ajudar a população a acessar um mix mais amplo de serviços, com melhor relação custo x benefício e maior comodidade.

A mobilidade como serviço – Maas é uma mobilidade inteligente, centrada no usuário. Um ecossistema de gestão e distribuição em que um integrador reúne a oferta de múltiplos prestadores de serviços e fornece aos usuários finais acesso através de uma interface digital. Isso permite que eles planejem sua mobilidade de forma descomplicada. Esse serviço abre um universo imenso de novas possibilidades baseadas na integração tecnológica.

A integração é a base para um ecossistema de MaaS. Assim, um volume gigantesco de dados compartilhados precisará ser usado por todas as partes envolvidas a favor da operação, dentro desse universo integrado e compartilhado, sistemas de transporte de massa, como o de trilhos, se encaixam perfeitamente, dada a sua peculiaridade de estruturação dos modos envolvidos.

A ANPTrilhos, sempre identificada com as inovações, acredita que a multimodalidade, inclusive, é a opção das novas gerações – exatamente o conceito do MaaS: ninguém anda só de carro, só de ônibus ou só de metrô. É possível mesclar todos os modos, economizar, viver mais a cidade, ter novas experiências e fugir das ruins, como mostrou uma pesquisa realizada pelo Datafolha, onde 84% da população ouvida já utilizou aplicativos de mobilidade para complementar viagens de transporte público.

Apesar do MaaS envolver modais de transporte individual e até Micromobilidade (caminhada, patinete, bicicleta, entre outros), é no coletivo que está a solução. Afinal, se este modelo está baseado na eficiência, ele está diretamente ligado a questões como a redução do volume de veículos na rua e custo de passageiro transportado, fator primordial de um transporte estruturante como o sobre trilhos, que pode facilitar o deslocamento de uma grande parcela da população incorporando os primeiros e/ou últimos quilômetros de sua viagem com o uso da tecnologia do Uber Transit, quebrando um paradigma de que o transporte não deixa o usuário em casa.

É nesta direção que a ANPTrilhos está olhando. E você, está preparado para o futuro do transporte?

* Roberta Marchesi é Diretora Executiva da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), Mestre em Economia e Pós-Graduada nas áreas de Planejamento, Orçamento e Logística.