Uma em cada quatro refinarias deve fechar até 2035

Da Redação – 08.11.2017 –

Estudo da Carbon Tracker Initiative (CTI) mostra que a tendência de fechamento na indústria de petróleo é mundial e deverá afetar uma em cada quatro usinas

De acordo com o relatório do CTI, a principal causa do provável fechamento de 25% das refinarias mundiais nos próximos anos é a queda da demanda por petróleo, substituído por fontes mais sustentáveis, e adoção de mais restrições ambientais, o que inviabilizaria várias usinas atualmente em operação. O aquecimento global limitado em 2⁰C é outro fator que entra na avaliação do instituto de pesquisa, definido como um think thank financeiro focado em energia. O relatório avaliou a vulnerabilidade de várias petrolíferas, incluindo a Petrobras. No caso brasileiro, 21% das refinarias estariam na lista, literalmente, negra.

As limitações técnico-ambientais representam, é claro, riscos para os investidores do setor. Segundo o documento, “a queda da demanda por petróleo em um mundo com restrições às emissões de carbono deve espremer as margens de lucro em toda a indústria, o que deve expulsar do mercado as refinarias menos lucrativas”, diz o relatório. Com isso, o menor processamento de petróleo com margens mais baixas “significa que os ganhos das refinarias e, portanto, seus valores de mercado podem cair para a metade até 2035”, concluiu o estudo intitulado Margin Call: Refining Capacity in a 2°C World. Só pra lembrar: os ganhos da indústria global de petróleo totalizaram US$ 147 bilhões em 2015.

“A trajetória econômica para a manutenção do aquecimento global abaixo de 2°C forçará um pico na demanda por petróleo seguido de uma grande racionalização da indústria global de refino”, resume Andrew Grant, analista sênior da CTI e co-autor do relatório. De acordo com ele, muitos atores sairão do mercado para não se descapitalizarem. Os investidores devem ter cuidado com o risco de perda de capital se estender a todos os novos investimentos, incluindo expansões ou melhorias nas plantas existentes.

O levantamento da CTI envolveu 492 refinarias que, somadas, representam 94% da capacidade global de refino, no que se acredita ser a primeira análise sobre como a indústria se acomodará à situação criada para buscarmos alcançar o objetivo de 2°C do Acordo de Paris, em um cenário que terá a emergência de tecnologias limpas e revolucionárias. A análise se baseia no cenário 450 da Agência internacional de Energia, o qual prevê que o pico da demanda por petróleo acontecerá em 2020 e que, a partir deste momento, esta declinará 23% ao longo dos 15 anos seguintes.

A avalição da indústria de petróleo, por seu lado, é de crescimento constante da demanda até 2035, em contraste com o cenário analisado de 2˚C. Entretanto, os combustíveis usados no transporte (diesel, gasolina e querosene de aviação) são responsáveis por 70% dos lucros das refinarias, e também pela porção mais vulnerável à destruição da demanda. Um estudo anterior da Carbon Tracker concluiu que as empresas petrolíferas podem estar subestimando seriamente o impacto, por exemplo, do crescimento acelerado da participação dos veículos elétricos no mercado, os quais podem abocanhar um terço do transporte rodoviário até 2035.

Em alguns casos, as refinarias representam um quarto dos balanços financeiros das grandes petrolíferas, superando dezenas de bilhões de dólares em ganho e gerando lucros-chave para o setor. O cenário 2˚C modelado pela CTI concluiu que as petrolíferas Total e a Eni são as mais expostas ao risco. As duas empresas podem vir a ter uma queda entre 70% a 80% nos ganhos auferidos por suas refinarias em 2035. A Shell e a Chevron têm um risco de queda nestes ganhos entre 60% e 70%; a ExxonMobil e a BP entre 40% e 50%; a Saudi Aramco, estatal por enquanto, pode ver seus ganhos se transformarem em perdas.

O estudo observou que 21% das refinarias hoje existentes já não são lucrativas, e alerta que aquelas refinarias que geram prejuízos, mas são mantidas em operação por razões estratégicas, exacerbarão o declínio nas margens e colocarão ainda maior pressão sobre o conjunto global de refinarias.