Por Rodrigo Conceição Santos 18.09.2015 –
É o que Ernest Young, World Bank Group e PwC tentam responder em pesquisas específicas sobre o setor, que atravessa crise mundial por conta da oferta maior que a demanda, produtividade mais cara e queda no valor das commodities.
Mundialmente, a mineração atravessa um momento delicado por conta dos fatores pontuados acima e também porque a China parou de “maquiar” o mercado com seu volume de compras irreal. Para os especialistas, a dúvida é se esse cenário é temporário ou se estamos diante de uma mudança maior, que passa provavelmente por menores taxas de lucro aos investidores e pelo o que alguns mercados têm chamado de quarta revolução industrial, com a internet das coisas assumindo papel fundamental para ampliar produtividade e gestão de ativos.
O InfraROI traz informações de três instituições mundiais que realizaram pesquisas a respeito. O objetivo delas é contextualizar a transição em curso e apontar boas práticas para esse mercado.
Para o World Bank Group, o baixo valor das commodities é o primeiro fator negativo a ser combatido. Paulo de Sá, gerente de práticas energéticas e de práticas de extração da empresa, lista a redução de demanda da China no topo dos problemas. “Em julho de 2015, o consumo aparente de minério de ferro teve redução de 14% e o de cobre ficou estagnado em relação ao mesmo periodo do ano anterior”, apontou o especialista durante palestra na Exposibram – Feira para o setor de mineração realizada nesta semana em Belo Horizonte (BH).
Ele alerta, contudo, que a situação pode não ser sazonal e argumenta que a China caminha para uma normalidade de crescimento. “Ela deve ter crescimentos anuais abaixo de 7%, o que ainda é robusto”, argumenta. “Mas isso exigirá uma mudança do modelo de crescimento industrial para o de crescimento de serviços, algo que deve influenciar negativamente na intensidade de consumo interno”, diz.
Para Afonso Sartório, líder de mineração e metais da Ernest Young (EY) para a América do Sul, isso diz respeito ao fim de um “superciclo”, sob liderança da China e que resultou em crescimento exagerado na produção mundial de commodities de minérios. Ele avalia que, atualmente, estamos atravessando um fenômeno inverso. E o nome dado a ele é “supercorreção”.
Ele diz respeito a um choque de realidade, cujos direcionadores são custos, capital e rentabilidade e no qual os acionistas, em busca de lucros a curto e médio prazo, são os novos comandantes. A pesquisa da EY mostra que a obrigação de resposta financeira quase que imediata impede as mineradoras de investirem mais pesado em projetos de longo prazo para atravessar essa mudança econômica.
Ciclo vicioso
Nesse aspecto, as mineradoras parecem presas, vendo um cenário desfavorável para o volume de vendas, mas sem poder investir maciçamente em inovação para melhorar as taxas de produtividade versus custos. Esse, aliás, é um fenômeno que empresas como a ABB parecem já ter percebido e vêm trabalhando para evangelizar o mercado. A filosofia é direcionar os investimentos para projetos de gerenciamento de máquina a máquina M2M, os quais podem promover resultados de produtividade e melhorar a gestão de ativos das companhias (leia mais sobre em Quarta Revolução Industrial nasce com Internet das Coisas).
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Voltando ao momento atual da mineração, a análise da EY mostra que chegou a hora dos investidores permitirem um equilíbrio do cenário, de forma que as mineradoras consolidem sua vantagem competitiva com aquisição de ativos e inteligência. E invistam pensando em horizontes mais longos. Afinal, os custos aumentaram e a margem de lucro reduziu. “Agora, precisamos de 40% mais exploração para gerar uma única unidade produtiva de minério”, pontua Sartório, repetindo uma frase de Mark Cutifani, CEO da Anglo American.
Talvez até em função disso, os investimentos globais em exploração mineral e em petróleo caíram 26% em 2014 e devem ser reduzidos em mais 10% neste ano, segundo Paulo de Sá, do World Bank Group. O consultor também participou da apresentação realizada na Exposibram e pondera que o dado acima, aparentemente negativo, é um agente importante para o equilíbrio de sobrecapacidade de produção dos últimos anos.
Em outubro do ano passado, por exemplo, havia capacidade nominal excedente de 524 milhões de toneladas de aço no mercado mundial, considerando os 779 milhões t/a produzidos pela China e o crescimento da produção na Índia e de outros países asiáticos e africanos (leia mais em reportagem sobre mercado siderúrgico).
Havendo um novo equilíbrio da sobrecapacidade produtiva, Paulo de Sá avalia que é hora das minerações menores ganharem competividade e o segredo para isso está na gestão de custos. “Não subestime a capacidade de redução de custos com obras, inovação, reengenharia e principalmente redução de consumo de energia”, diz ele. “Tudo depende da curva de custos, pois, sem uma sensação de escassez percebida, os preços deixarão de aumentar para cobrir os custos dos produtores marginais e, na maioria dos casos, há um pico na curva de custo definindo faixas em torno das quais os preços tendem a se estabilizar. Mas esses pontos altos podem, e devem, aparecer mais baixos daqui em diante”, completa.
A PwC vai mais fundo e mostra que lucro não tem sido problema para os investidores, apesar da crise que vive o setor. É, de fato, um paradoxo, mas a PwC traz números para contextualizá-lo.
No ano passado, por exemplo, a indústria de mineração gerou caixa livre de US$ 24 bilhões de dólares, mas precisou consumir apenas US$ 3 bilhões. Isso mostraria que a procura de investidores pelo setor foi altíssima, devido aos bons resultados entregues pelo segmento. As margens de lucro também foram ajustadas para cima e os dividendos ficaram estáveis, na casa dos US$ 40 bilhões. “Em contrapartida, vimos o Capex (investimentos em bens de capital) cair para US$ 103 bilhões no ano passado, sendo que em 2013 esse aporte foi quase 30% maior”, pontua Ronaldo Matos Valino, sócio-líder da PwC no Rio de Janeiro.
Se o quadro desenhado pela PwC for correto, os investidores podem ser o fiel da balança do mercado de mineração, ao apostarem em prazos mais longos para obter retornos. Resta saber, todavia, se isso será o suficiente para combater outros fatores negativos citados pela Goldman Sachs Group nesta semana. “O valor das commodities continuará baixo, sendo o minério de ferro o exemplo com preços que devem ficar abaixo dos US$ 50 por tonelada (isso considerando o minério com 62% de conteúdo por tonelada seca) a partir do ano que vem”.