Da Redação – 22.03.2017 –
As responsabilidades de contratantes e contratados para a eficiência no bombeamento de concreto (material do e-book produzido para o evento Concretagem Produtiva).
Muitos fatores que contribuem para a maior produtividade no lançamento de concreto são de responsabilidade exclusiva do contratante do serviço, ou seja, a construtora. Entre eles estão a correta especificação do traço e a preparação da área de concretagem para o dia do bombeamento, conforme demonstramos em nosso post da semana passada, intitulado “Construtoras e concreteiras debatem eficiência na concretagem” (veja aqui).
Nesta semana, trataremos da contribuição que cabe aos profissionais envolvidos na produção do concreto, que devem interagir frequentemente com os responsáveis pelo lançamento da mistura. Obviamente, essa interação pode apresentar pequenas variáveis em função do tipo de obra, que pode ser um grande projeto de infraestrutura (uma barragem de hidrelétrica, por exemplo) ou uma singela edificação.
Em todos os casos, entretanto, há de se ficar atento a premissas básicas, como o atendimento ao traço correto que foi especificado, bem como o planejamento de produção, para que se entregue o volume certo da mistura no horário definido para seu lançamento, de forma a se cumprir o cronograma da obra. Em grandes canteiros de infraestrutura, os profissionais da central de concreto devem conversar cotidianamente com a engenharia e a produção da obra sobre a composição dos traços de concreto, principalmente no que se refere às dimensões e qualidade das britas.
Afinal, britas maiores geram mais desgaste nos equipamentos e a equação dessa conta sempre é resolvida pelas equipes de produção e os profissionais de equipamentos, que precisam trabalhar afinadas. As produções previstas, de acordo com os horários e picos da obra, bem como as distâncias às quais o concreto será bombeado, também devem ser pauta dessas reuniões.
Essa metodologia foi adotada na obra da Hidrelétrica Santo Antônio, no rio Madeira (RO), onde uma análise prévia da estrutura definiu a especificação do concreto aplicado em cada fase da sua execução. Nessa etapa, foram analisadas as solicitações que a estrutura seria submetida, como o peso a suportar, a pressão que exerceria sobre o solo ou onde fosse apoiada, a flexão a qual seria exposta e as ações que a água poderia exercer sobre a superfície do concreto se ela estivesse sujeita a isso.
Com esses dados em mãos, diferentes traços de concreto foram especificados para cada etapa da execução da obra, com informações claras sobre a sua resistência e que, obviamente, desse suporte superior ao necessário para a estrutura. O fator preço final, nesse caso, não pode ser um parâmetro definidor da mistura, mesmo considerando que é possível otimizar os custos e alcançar a resistência necessária com intervenção no traço e dosagens. A questão, nesse caso, segundo os especialistas envolvidos na obra, era priorizar a trabalhabilidade do concreto e não seu custo.
Obviamente, projetos desse porte trabalham com concreto produzido em usinas misturadoras, diferentemente do praticado nos mercados urbanos, onde prevalecem as misturas oriundas de centrais dosadoras. As diferenças tecnológicas, no caso, impactam os custos e o desempenho da mistura final.
Grandes concretagens em ambiente urbano
Diferentemente de uma obra de hidrelétrica, que requer grande volume de produção por centrais próprias instaladas no canteiro, a construção de edificações urbanas apresenta demandas diferentes, embora não menos importantes. O problema, aqui, é mais relacionado à logística, de forma a garantir a entrega da mistura nos volumes requeridos pelo planejamento da obra, considerando-se as dificuldades impostas pelo trânsito das grandes cidades e as restrições ao acesso das autobetoneiras e bombas de concreto em áreas com pouco espaço.
Algumas obras de edificações, entretanto, apresentam peculiaridades em função do grande volume consumido, embora seu abastecimento seja equacionado por usinas terceirizadas (fora do canteiro). Em alguns casos, o volume requerido em cada programação de bombeamento determina que o suprimento da mistura seja realizado por diferentes usinas, sem que isto implique variações no traço do material e na sua plasticidade para bombeamento, entre outras variáveis.
Esta é a experiência do edifício REC Berrini, construído em São Paulo, em 2011, que conta com 35 andares e cinco subsolos, onde cada uma das lajes consumiu cerca de 620 m³ de concreto bombeado e distribuído por mastro. Além de atender às premissas de plasticidade para bombeamento, obras desse porte demandam concretos de alta resistência à compressão (fck igual ou superior a 50), o que requer um acompanhamento fino no traço.
Nesse caso, os traços definidos pelo projeto estrutural, de acordo com as resistências e módulos de elasticidades requeridos nas estruturas, são acompanhados continuamente pelo laboratório, seja ele da construtora ou terceirizado. O objetivo é acompanhar o que as centrais de concreto estão entregando, avaliando a dosagem e formatando traços experimentais, que serão validados antes do fornecimento.
O cuidado se justifica não apenas em função do melhor desempenho e qualidade final da obra, mas também na maior plasticidade do material lançado, o que resulta em ganhos de custo e de produtividade na concretagem. Segundo especialistas, o concreto consumido em projetos desse porte representa algo em torno de 15% custo total da obra, o que justifica esse investimento.